O próximo prefeito de São Paulo terá que trabalhar junto a uma Câmara Municipal mais ao centro e menos à direita do que a eleita no último ciclo. PL, MDB e PP viram suas vagas crescerem no maior Legislativo municipal do país, enquanto o PSDB, que deteve uma das maiores bancadas em 2020, sumiu.
Os partidos de direita passaram de 26 para 17 cadeiras; os de centro, de 12 para 20; e os de esquerda, de 17 para 18, de acordo com classificação do GPS partidário da Folha. A fragmentação da casa diminuiu, como era esperado com a reforma eleitoral, passando de 18 para 16 partidos em sua composição.
Caso seja reeleito no segundo turno, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) terá 36 aliados no Legislativo (65%) na soma das legendas de sua grande coalizão, que contou com o maior tempo de TV da história nestas eleições. Já o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) teria uma base de 16 vereadores (25%).
Dos 55 vereadores eleitos, 20 são novos, um índice de renovação na casa de 36%, mais baixo do que o das últimas duas eleições (40%).
Ainda assim, os três mais votados foram novatos: Lucas Pavanato (PL), influenciador digital bolsonarista de 26 anos; Ana Carolina Oliveira (Podemos), mãe de Isabella Nardoni, morta em 2008; e Dr. Murillo Lima (PP), veterinário que tem como pauta a defesa dos animais.
Nomes que acumulam décadas na Câmara, como Arselino Tatto (PT), Paulo Frange (MDB) e Aurélio Nomura (PSDB), não foram reeleitos. Outros como Jair Tatto (PT), Edir Sales (PSB) e Eliseu Gabriel (PSB) continuarão no cargo (veja lista ao final).
As mulheres passaram de 13 para 20 cadeiras (36%), mais do que triplicando sua representação na Casa em relação a 12 anos atrás, mas ainda longe da sua proporção na população da cidade, de 53%. Pretos e pardos também cresceram de 22% para 29%, porém abaixo dos 44% de negros do município.
O PT do presidente Lula manteve suas oito cadeiras e angariou a maior bancada mesmo sem contar neste ano com grandes puxadores de voto como Eduardo Suplicy, que se tornou deputado estadual em 2022. A sigla reelegeu Luna Zarattini e Alessandro Guedes e terá o urbanista Nabil Bonduki de volta após oito anos.
Já o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro foi o que mais cresceu, passando de duas para sete vagas. Mostrou-se acertada a estratégia de impulsionar influenciadores digitais jovens como Pavanato e a cubana Zoe Martínez, apadrinhada pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O atual presidente da Câmara paulistana, Milton Leite (União Brasil), que pela primeira vez em 30 anos não concorreu à reeleição, conseguiu transferir seus votos e eleger seus três afilhados políticos: Silvão Leite, Silvinho e a pastora Sandra Alves, que tiveram as campanhas mais caras da cidade, todos pelo União Brasil.
O vereador Rodrigo Goulart (PSD), um dos cotados para ser seu sucessor na liderança da Casa, também se reelegeu.
O União Brasil não conseguiu bater a meta de atingir dez cadeiras, mas aumentou um pouco sua composição de seis para sete vagas, ficando com a segunda maior bancada ao lado de PL e MDB, após apostar numa variedade de candidatos famosos e nomes mais radicais.
Entre os eleitos do União Brasil estão ainda Amanda Vettorazzo, líder do MBL (Movimento Brasil Livre), e o vereador Rubinho Nunes, acusado de traição por aliados de Nunes por apoiar na campanha Pablo Marçal (PRTB). Adrilles Jorge, ex-BBB e ex-comentarista da Jovem Pan, não foi um dos mais votados, mas foi puxado pelos votos do partido.
O PSOL, por sua vez, manteve suas seis cadeiras na esteira da ida de Boulos para o segundo turno, assim como ocorreu em 2020. Registrou a quinta mais votada, a travesti e ativista Amanda Paschoal, e reelegeu a psicóloga e ativista dos movimentos negro Luana Alves e o mandato coletivo Bancada Feminista.
O candidato psolista que disputa a prefeitura com Nunes, por outro lado, não conseguiu emplacar sua principal aposta: Débora Lima, presidente do partido no estado e coordenadora do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). A intenção era repetir a influência que elegeu Ediane Maria como deputada estadual em 2022.
Ana Carolina Oliveira, a mãe de Isabella Nardoni, ajudou a arrastar seis vagas para o Podemos, duas a mais do que em 2020. O PP também cresceu de uma para quatro cadeiras, uma delas ocupada pela ex-deputada estadual Janaina Paschoal, que foi a parlamentar mais votada da história em 2018, mas não havia conseguido chegar ao Senado em 2022.
Além desses, também vão compor a Câmara Municipal de São Paulo os partidos PSD (3), Republicanos (2), PSB (2), Novo (1), PV (1) e Rede (1) —único que ainda não tinha uma vaga, agora ocupada por Marina Bragante, candidata da ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima).