Após a virada de ano, o começo de 2025 não foi tão agradável para muitas pessoas que estavam curtindo dias de praia no Litoral de São Paulo. Isso porque cidades como Guarujá e Praia Grande registraram aumento nos casos de problemas gastrointestinais nos primeiros dias de janeiro. Apressadamente chamadas de “viroses” (ainda que possam ser causadas por bactérias ou outros agentes), essas doenças são problemas comuns nessa época do ano, explica a biomédica e cientista Mellanie Fontes-Dutra, que conversou com o jornal Central do Brasil nesta segunda (7).
“É uma época do ano bem particular. A gente precisa sempre lembrar que, com a chegada do verão, altas temperaturas, a gente tem um favorecimento da proliferação de diversos vírus, bactérias também, entre outros patógenos, especialmente nas águas e nos alimentos. Aquele alimento mal acondicionado, que não está refrigerado adequadamente, normalmente são aquelas comidas que a gente eventualmente come fora de casa, na beira da praia. A gente precisa tomar muito cuidado, porque se elas não tiverem sido bem acondicionadas, existe o risco de uma proliferação ali de algum patógeno que pode vir a causar sintomas como gastroenterites ou até mesmo outras doenças diarreicas”, alerta ela.
Com os hospitais da região lotados com esse tipo de caso, o Procon-SP pediu o aumento de estoque de remédios pelas empresas responsáveis pelo abastecimento das farmácias. O problema provocou o retorno dos debates sobre o saneamento e o tratamento de esgoto na região, que também pode influenciar na situação que já é considerada surto no Guarujá.
“Nesse período, nós temos também uma frequência maior de chuvas e isso pode sobrecarregar a rede de esgoto de alguns lugares, causando transbordamentos. E essa água transbordada pode também estar contaminada e trazer riscos para doenças transmissíveis pela água. Então acho que um pouco dessas várias coisas podem estar acontecendo nesse momento. Claro que onde há surtos é necessário investigação. É importante definir qual é o patógeno envolvido, se existe alguma outra questão de mitigação que também pode ser implementada”, diz a biomédica.
Ela acrescenta, porém, que um erro comum é justamente se referir às doenças deste surto simplesmente como “viroses”, termo que deixa de fora outros agentes causadores de doenças, como bactérias e outros microorganismos. “Virose é um nome genérico que a gente dá para doenças que são transmitidas por vírus. Então Covid é uma virose, a gripe é um tipo de virose, qualquer doença transmitida por um vírus pode ser enquadrada neste termo genérico de virose. Até doenças graves podem ser enquadradas neste termo se forem transmitidas por um vírus.”
“Como a gente está falando de diferentes patógenos e muitas vezes podem inclusive ser bactérias, que podem também ser transmitidas a partir de alimentos contaminados ou até mesmo águas contaminadas, ‘viroses’ acaba sendo um termo que não corresponde a uma boa parte desses casos que podem estar acontecendo”, esclarece Fontes-Dutra.
Sintomas e prevenção
Os sintomas de quem tem problema gastrointestinal vão desde dor de barriga, diarreias e vômitos até apatia e sonolência. Mas é fácil se prevenir deste problema incômodo para a saúde, destaca Mellanie.
“Como a gente está falando de doenças que frequentemente afetam o trato gastrointestinal, é bem importante ficar de olho, especialmente em crianças e idosos que acabam sendo mais vulneráveis. Em relação à prevenção, como são doenças frequentemente transmitidas por água e por alimentos que não estão bem refrigerados ou acondicionados, a prevenção vai muito por aí: cuidado com o que a gente come”, ressalta.
“Uma coisa que eu vejo: as pessoas às vezes não prestam atenção, e acontece muito no verão, em bebidas e gelo. Muita gente usa gelo que não vem de uma água tratada, às vezes um gelo que vem da torneira, enche ali, congela e depois usa. E esse gelo é basicamente a água que vai estar diluindo naquilo que você está bebendo. Então a gente bebe esse gelo e às vezes as pessoas não se tocam nisso. Se a gente está tendo mais casos ali na cidade ou vocês estão no litoral onde esses casos estão acontecendo, tomem cuidado real, especialmente nesses detalhes, porque às vezes é aí que é a porta de entrada”, dá as dicas.
A entrevista completa está disponível na edição desta terça-feira (7) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Nicolau Soares