Em comunicado, ministro de Maduro afirma que o episódio com homem-bomba buscou “abalar a paz do governo e suas instituições”
O governo do presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, condenou nesta 5ª feira (14.nov.2024) as explosões na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e manifestou solidariedade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No comunicado (leia abaixo a íntegra), publicado pelo ministro das Relações Exteriores Yván Gil Pinto, o regime chavista afirmou que o episódio na noite de 4ª feira (13.nov) teve o objetivo de “abalar a paz do governo e de suas instituições”.
“Esses fatos demonstram, mais uma vez, o perigo que representa o avanço da onda fascista e antidemocrática que, valendo-se das redes sociais e outros mecanismos de comunicação em massa, a extrema-direita mundial tenta inocular em nosso continente para produzir desestabilização e caos social”, afirmou.
Artefatos do homem-bomba
Até agora, embora a Polícia Federal e outros órgãos de segurança falem em “bombas” e “explosivos”, as imagens da frente do STF na hora das explosões indicam que Francisco Wanderley Luiz usou fogos de artifício que precisam ser acionados tendo o pavio acesso com um isqueiro ou fósforo. Ao final de sua investida solitária, deitou-se sobre um desses artefatos, colocado embaixo de sua cabeça, e o detonou, morrendo na sequência.
No automóvel do homem-bomba, deixado num estacionamento adjacente ao prédio Anexo 4 da Câmara dos Deputados, a imagem da explosão no porta-malas também indica que o carro estava carregado com fogos de artifício, pois ao serem detonados fizeram fumaça e faíscas típicas desse tipo de material.
Imagens do interior da casa alugada por Wanderley, no bairro de Ceilândia (dentro do Distrito Federal), mostram caixas de “rojão de vara” da marca Pirocolor Fogos. É possível, e isso ainda não está claro, que parte do material teria sido desmontado para construir bombas caseiras e rudimentares que seriam usadas em algum momento.
Outro ponto que ainda precisa de uma elucidação é se Wanderley teria tentado entrar no prédio do STF, como afirmam as autoridades. Essa inferência é difícil de ser comprovada. O Supremo é vigiado por seguranças. O homem-bomba estava sozinho. Ficou longe de conseguir entrar, se era isso o que desejava. O que é possível entender pelas imagens já divulgadas é que ele queria jogar alguns explosivos de fabricação caseira em direção ao edifício. Depois, suicidou-se.
Tensão entre Brasil e Venezuela
O governo venezuelano se recusou a publicar as atas eleitorais que, segundo o órgão eleitoral, comprovam a eleição de Maduro nas eleições de julho, na qual ele foi reeleito para um 3º mandato. A posição do regime chavista desagradou Lula e causou uma tensão entre os 2 países.
A situação entre os líderes piorou depois de o Brasil votar contra a entrada da Venezuela no Brics. O governo Lula não considerou o momento propício para a entrada de Caracas por causa das tensões causadas pela eleição venezuelana e deixou o país de fora da lista de novos integrantes. A decisão irritou o chavista.
Em 2023, quando Nicolás Maduro visitou o Brasil, o petista havia dito ser favorável à entrada do país vizinho no bloco.
Em 31 de outubro, a Polícia Nacional Bolivariana, principal força policial da Venezuela, divulgou uma imagem que sugere uma ameaça velada do governo de Nicolás Maduro ao presidente brasileiro.
No dia anterior, o governo venezuelano havia convocado o seu embaixador no Brasil, Manuel Vadell, para prestar esclarecimentos sobre as declarações do assessor especial da Presidência, Celso Amorim, em retaliação ao veto do Brasil.
Leia a íntegra do comunicado publicado pelo governo da Venezuela:
“A República Bolivariana da Venezuela expressa sua enérgica condenação aos recentes atentados do dia 13 de novembro de 2024 ocorridos na Praça dos Três Poderes na cidade de Brasília, que têm como objetivo abalar a paz do governo e de suas instituições, manifestando sua absoluta solidariedade com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e todo o povo brasileiro.
“Esses fatos demonstram, mais uma vez, o perigo que representa o avanço da onda fascista e antidemocrática que, valendo-se das redes sociais e outros mecanismos de comunicação em massa, a extrema direita mundial tenta inocular em nosso continente para produzir desestabilização e caos social.
“A Venezuela, fiel a seus princípios de irmandade e fraternidade, continua a agir para que nossa região seja uma zona de paz e repudia qualquer tentativa que pretenda destruir a estabilidade e o bem-estar de nossos povos e do mundo.
“Caracas, 14 de novembro de 2024.”