As afirmações de Haddad, no entanto, fazem parte de um longo histórico de críticas de autoridades do Executivo à Política Monetária
Eduardo Cucolo
Pela primeira vez desde a implantação do regime de metas de inflação no Brasil, um ministro da Fazenda criticou publicamente o comunicado sobre a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) em relação à taxa básica de juros.
As afirmações desta quarta-feira (22) feitas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), no entanto, fazem parte de um longo histórico de críticas de autoridades do Executivo à Política Monetária. Veja algumas dela.
Haddad VS. Campos Neto
Ao manter a taxa de juros no patamar de 13,75% ao ano nesta quarta (22), o comitê do Banco Central enfatizou a “deterioração adicional” das expectativas de inflação e deixou a porta aberta para retomar o ciclo de elevação dos juros, caso considere necessário.
No mesmo dia, Haddad afirmou a jornalistas: “Eu considerei o comunicado preocupante, muito preocupante, porque hoje nós divulgamos o relatório bimestral da Lei de Responsabilidade Fiscal mostrando que nossas projeções de janeiro estão se confirmando sobre as contas públicas [com déficit menor].”
“A depender das futuras decisões, nós podemos inclusive comprometer o resultado fiscal, porque daqui a pouco você vai ter problema das empresas para venderem, recolherem impostos.”
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Mantega XS. Meirelles
Enquanto esteve à frente do BC, nos dois primeiros governos Lula (2003-2010), o ex-ministro Henrique Meirelles sofreu pressões de diversos membros do Executivo pela redução dos juros.
Em 2007, durante o lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega (2006-2014) cobrou de Meirelles que continuasse a reduzir a taxa básica.
Ao citar as projeções de mercado que serviram de base para a elaboração do programa, Mantega disse: “Primeira conclusão é que o mercado está esperando uma redução da taxa Selic. A continuação, viu, Meirelles?”.
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A afirmação foi feita um dia antes da reunião do Copom, que no dia seguinte reduziu a taxa de 13,25% para 13% ao ano -a Selic já estava sendo reduzida desde setembro de 2005.
José Alencar VS. Meirelles
Vice-presidente nos dois primeiros mandatos de Lula e ministro da Defesa de 2004 a 2006, José Alencar também verbalizou diversas críticas ao Banco Central. “O país vai muito bem, apesar da política monetária”, afirmou o vice em agosto de 2008 diante de uma plateia com oito ministros.
Em 2005, na condição de presidente interino da República rotulou como “crime” a política de juros. “Estamos pagando dez vezes a taxa média básica real do mundo. Dez vezes. Isso é um crime.”
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Em janeiro de 2009, um pouco antes de o BC começar a cortar os juros em reação aos efeitos da crise gerada pela quebra do banco Lehman Brothers (que ocorreu em setembro do ano anterior), Alencar afirmou que esse não era “assunto para técnicos, mas uma decisão política”. “Temos que dar ao Banco Central a ordem para que pratique uma taxa mais competitiva.”
Dilma e Tombini
Na gestão Dilma Rousseff (2011-2016), o então presidente do BC, Alexandre Tombini, teve uma atuação que pode ser chamada de mais alinhada aos demais membros da equipe econômica.
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Com a inflação ameaçando superar o limite da meta (6,5% na época) em 2013, o BC se preparava para voltar a subir o juro, depois de reduzi-lo a 7,25% ao ano. Naquele momento, Dilma dizia não concordar com políticas que reduzem o crescimento para combater a inflação, “esse receituário que quer matar o paciente para acabar com a doença”.
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A Selic chegaria a 14,25% ao final do seu governo.