O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiha, pediu que seus colegas da Otan, a aliança militar ocidental, convidem o país a se juntar ao bloco durante um encontro em Bruxelas que acontecerá na semana que vem, demonstra uma carta à qual a agência de notícias Reuters teve acesso nesta sexta-feira (29).
O documento reflete a pressão ucraniana para ser convidada para a Otan, parte do “plano da vitória” detalhado no mês passado pelo presidente do país, Volodymyr Zelensky, para encerrar a guerra.
A Ucrânia afirma aceitar que não possa entrar na aliança até que a guerra esteja finalizada, mas que ser convidada agora mostraria ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, que ele não atingirá um de seus principais objetivos: impedir a Ucrânia de integrar da Otan.
“O convite não deve ser visto como uma escalada [das tensões]”, afirmou Sybiha.
“Pelo contrário, com um entendimento claro de que a entrada da Ucrânia na Otan é inevitável, a Rússia perderá um de seus principais argumentos para manter esta guerra injustificada”, adicionou.
“Exorto vocês a endossarem a decisão de convidar a Ucrânia a se juntar à Aliança, como um dos resultados do Encontro Ministerial de Relações Exteriores da Otan entre 3 e 4 de dezembro de 2024”, concluiu.
Filiação da Ucrânia “irreversível”
Diplomatas da Otan afirmam que atualmente não há consenso entre os membros da aliança sobre convidar a Ucrânia. Qualquer decisão do tipo precisaria de unanimidade entre os 32 países do bloco.
A aliança declarou que a Ucrânia vai se juntar ao grupo e que isso é “irreversível”, mas não a convidou formalmente, tampouco estabeleceu prazos para isso.
Olga Stefanishyna, vice-primeira-ministra da Ucrânia e responsável pelos assuntos relativos à Otan, afirmou que o país entende que o consenso para um convite para se juntar ao grupo “ainda não existe”, mas que a carta tem o objetivo de mandar uma forte mensagem política.
“Enviamos uma mensagem aos aliados de que o convite não está descartado, independentemente de manipulações e especulações”, afirmou.
Na carta, Sybiha destacando que o convite seria a resposta certa para “a constante escalada da Rússia na guerra que ela provocou, sendo a última demonstração disso o envolvimento de dezenas de milhares de tropas norte-coreanas e o uso da Ucrânia como local de teste para novas armas”.
Nos últimos dias, contudo, diplomatas ressaltaram que não identificaram mudança de postura entre os países da Otan, particularmente enquanto eles aguardam qual será a postura dos Estados Unidos, potência dominante da aliança, no governo do presidente-eleito, Donald Trump.
Entenda a Guerra entre Rússia e Ucrânia
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 e entrou no território por três frentes: pela fronteira russa, pela Crimeia e por Belarus, país forte aliado do Kremlin.
Forças leais ao presidente Vladimir Putin conseguiram avanços significativos nos primeiros dias, mas os ucranianos conseguiram manter o controle de Kiev, ainda que a cidade também tenha sido atacada. A invasão foi criticada internacionalmente e o Kremlin foi alvo de sanções econômicas do Ocidente.
Em outubro de 2024, após milhares de mortos, a guerra na Ucrânia entrou no que analistas descrevem como o momento mais perigoso até agora.
As tensões se elevaram quando o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou o uso de um míssil hipersônico de alcance intermediário durante um ataque em solo ucraniano. O projétil carregou ogivas convencionais, mas é capaz de levar material nuclear.
O lançamento aconteceu após a Ucrânia fazer uma ofensiva dentro do território russo usando armamentos fabricados por potências ocidentais, como os Estados Unidos, o Reino Unido e a França.
A inteligência ocidental denuncia que a Rússia está usando tropas da Coreia do Norte no conflito na Ucrânia. Moscou e Pyongyang não negam, nem confirmam o relato.
O presidente Vladimir Putin, que substituiu seu ministro da Defesa em maio, disse que as forças russas estão avançando muito mais efetivamente – e que a Rússia alcançará todos os seus objetivos na Ucrânia, embora ele não tenha dado detalhes.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse acreditar que os principais objetivos de Putin são ocupar toda a região de Donbass, abrangendo as regiões de Donetsk e Luhansk, e expulsar as tropas ucranianas da região de Kursk, na Rússia, das quais controlam partes desde agosto.