O governo britânico quer que aposentados acima de 50 anos voltem a trabalhar. É isso mesmo. A medida inclui incentivos fiscais e programas de treinamento e foi destaque no plano orçamentário divulgado nesta semana. Não é caridade, é matemática. Eles acreditam que esses profissionais produtivos e talentosos fazem falta no mercado de trabalho e vão ajudar a reerguer a economia do Reino Unido.
Coincidência o anúncio ter sido feito dias depois que as três estudantes brasileiras postaram um vídeo nas redes sociais dizendo que a colega de faculdade de 40 anos já deveria ter se aposentado.
Confesso: não gostei quando fiz 30 –que inocência! Na época, decidi que faria daquele ano um dos melhores da minha vida. Elaborei metas e as cumpri lindamente: terminei o mestrado, trabalhei nos Jogos Olímpicos, corri uma maratona. Mal sabia quantas oportunidades pessoais e profissionais maravilhosas viriam nos anos seguintes —e tenho certeza de que haverá muitas nas próximas décadas. Experiência e terapia também me ensinaram que não é a idade que dita o que podemos fazer na vida, e sim o desejo constante de viver.
Ao ver aqueles stories, concluí que alguém que acredita que só os bem jovens podem aprender algo novo está fadado a ter uma vida chata. Levando o tema para o esporte profissional, em que recordes são batidos por milésimos de segundos e juventude de fato pode fazer diferença, estimular esse preconceito desmerece atletas que lutam para provar que dá para manter o alto nível depois dos 40. Formiga, Dara Torres, Roger Federer, Serena Williams, Tom Brady e tantos outros que o digam.
Mirian Goldenberg escreveu um belo texto na Folha sobre o assunto das estudantes e o que chama de “velhofobia” –discriminação com base na idade. “O jovem de hoje é o velho de amanhã. Lutar contra a velhofobia é lutar pela nossa própria velhice e, principalmente, lutar por uma sociedade com mais saúde, dignidade e autonomia para os nossos filhos e netos: os velhos de amanhã”.
Ter desejo e prazer pela vida é o que nos move adiante. Existe algo mais legal do que ver avôs e avós aprendendo a usar a internet? Ou quem não tem medo de trocar de carreira, tentar um novo esporte, viajar para um lugar onde nunca esteve? Ou fazer algo pela primeira vez, ajudando o outro, começando um trabalho voluntário.
Acredito no poder do estudo e, como em vários ofícios, no jornalismo isso é fundamental. Ai do jornalista que não se atualize todo santo dia. E isso é incrível. Aprendemos algo novo sempre, não importa a idade ou tempo de profissão.
Por isso, aplaudo iniciativas como a Oficina de Cobertura Esportiva Livre de Estereótipos de Gênero, que será conduzida pela jornalista Olga Bagatini na quarta-feira (22), no Museu do Futebol, com transmissão pela internet. Em julho tem a Copa do Mundo de Futebol Feminino e a ideia é ajudar a cobertura a ser respeitosa e profissional. Me lembrei de como isso também acontece antes de Jogos Paralímpicos, quando debatemos desde como falar corretamente o nome dos esportes até como fazer entrevistas. Não há vergonha em admitir que não sabemos algo e demonstrar interesse em entender.
Se essa história de Bauru deixou algo positivo foi o fato de ampliar o debate e estimular a empatia: se alguém começou a estudar mais tarde, será que foi por que quis ou por que antes não podia pagar a faculdade?
Mais do que se indignar, é preciso mudar conceitos.
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