“Os currículos de todas as escolas sírias permanecerão como estão até que sejam formados comités especializados para os examinar”, disse hoje o ministro da Educação, Nazir Al-Qadri, numa declaração na rede social Telegram.
O grupo islâmico Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham ou HTS, em árabe), juntamente com outras fações, tomou o poder na Síria após uma ofensiva relâmpago que levou à queda do regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, a 08 de dezembro, e à sua fuga para Moscovo.
O novo Ministério da Educação sírio anunciou na quarta-feira várias alterações aos manuais escolares, na rede social Facebook, eliminando a propaganda do partido Baath, que esteve no poder na Síria durante mais de 50 anos, bem como poemas sobre as mulheres e o amor.
No poder durante a dinastia de Assad, o partido Baath foi, para muitos sírios, um símbolo de repressão, iniciada em 1970 com a chegada ao poder, através de um golpe de Estado, de Hafez al-Assad, pai de Bashar, que liderou o país até morrer, em 2000.
As alterações incluem a interpretação de um versículo do Corão sobre “aqueles que provocaram a ira” de Deus e “os desviados”, referindo-se aos judeus e cristãos.
A frase nacionalista “sacrifica a tua vida para defender a tua pátria” foi também substituída por “sacrifica a tua vida pela causa de Deus”.
“Apenas ordenámos a eliminação de partes que glorificam o regime deposto de Assad e adotámos imagens da bandeira da Revolução Síria em vez da bandeira do regime deposto”, acrescentou.
O ministro salientou ainda que foram corrigidas informações “incorretas” no programa de educação islâmica, onde “certos versículos do Corão foram explicados incorretamente”.
O anúncio das alterações causou polémica nas redes sociais.
“A educação baseada em ideologias extremistas pode moldar indivíduos cujas ideias ameaçam a segurança regional e internacional”, alertou Shiyar Khaleal, ativista e jornalista curdo, no Facebook.
“A alteração do currículo escolar sob a supervisão do HTS não é apenas um perigo educativo, mas uma ameaça a longo prazo para o tecido social e o futuro da Síria”, acrescentou.
O jornalista Ziad Haidar considerou que, com algumas destas alterações, estão a ser “visados” alguns “grupos religiosos específicos”.
A comunidade internacional já afirmou que algumas das condições necessárias para apoiar as novas autoridades em Damasco incluem o respeito pelas minorias, etnias e religiões e a formação de um governo abrangente para a nova Síria, um país traumatizado pela guerra civil que eclodiu em 2011 e composto por sunitas, xiitas, cristãos, curdos, assírios e outros.
Embora o HTS – que tem na sua base ligações à Al-Qaeda – afirme ter renunciado ao jihadismo, as novas autoridades estão a tentar assegurar à comunidade internacional que respeitarão os direitos das minorias numa Síria multiconfessional e multiétnica.
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