O governo do México preparou um plano para lidar com possíveis deportações em massa de cidadãos mexicanos dos Estados Unidos, que inclui a coordenação de pelo menos 2.610 especialistas jurídicos para proteger os migrantes que podem ser deportados. O governo de esquerda da presidenta Claudia Sheinbaum orientou o corpo diplomático do México nos EUA a trabalhar em defesa de seus compatriotas.
“Estamos acessando mais advogados e tudo o que nossos irmãos e irmãs de lá precisam saber sobre qualquer coisa que possa acontecer com a chegada do presidente Trump”, disse Sheinbaum em conferência matinal nesta terça-feira (7).
A menos de duas semanas de seu retorno à Casa Branca, o presidente eleito Donald Trump voltou a atacar ao México, afirmando que o país é “um lugar perigoso”, “essencialmente” governado por cartéis de drogas. As declarações do magnata foram feitas nesta terça-feira (7) durante uma coletiva de imprensa realizada em sua mansão em Mar-a-Lago, na Flórida.
“Nós temos um déficit com o México. E nós os ajudamos muito. Essencialmente, eles são comandados pelos cartéis. Não posso permitir que isso aconteça. O México está realmente com problemas, muitos problemas. É um lugar muito perigoso”, afirmou o republicano. Ele acusou o governo mexicano de permitir a entrada de “milhões de pessoas” e “números recordes de drogas” nos Estados Unidos.
“O México precisa parar de permitir a entrada de milhões de pessoas em nosso país. Eles podem fazer isso. Vamos impor grandes tarifas ao México e ao Canadá, grandes tarifas. Porque as drogas também estão entrando pelo Canadá, em números recordes”, declarou.
Em dezembro, o México anunciou um aplicativo com um “botão de alerta” para migrantes. Em caso de uma deportação iminente, o cidadão mexicano poderá apertar um botão que envia um sinal para o consulado mais próximo, familiares da pessoa e ao Ministério das Relações Exteriores do México.
Guerra comercial
Os Estados Unidos são atualmente um dos países que mais consomem drogas no mundo. Por mais de duas décadas, o país tem enfrentado uma crise crescente de mortes por opioides. Somente em 2023, estima-se que 107.500 pessoas morreram devido ao uso de opioides, uma cifra superior ao de estadunidenses que morreram nas guerras do Vietnã, Iraque e Afeganistão juntas. Diante desse cenário, a estratégia de Trump e da extrema direita dos EUA tem sido apontar como supostos “responsáveis” pela situação interna do país os imigrantes e o México.
Trump voltou a ameaçar impor tarifas sobre suas importações com México e Canadá, a menos que ambos países adotem as medidas exigidas por sua administração. Desde a campanha eleitoral, Trump tem insistido na promessa de reduzir o déficit comercial dos EUA com esses países, com os quais ele forma a área de livre comércio da América do Norte. As ameaças de uma guerra comercial provocaram uma crise política no Canadá que culminou esta semana com a renúncia do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau.
A crise teve início em dezembro, com a renúncia da ex-ministra das finanças e vice-primeira-ministra Chrystia Freeland, que publicou uma carta com críticas a Trudeau acusando o então primeiro-ministro canadense de se concentrar em políticas eleitoreiras e gastos excessivos no Natal, em vez de estabilizar as finanças do Canadá antes de uma possível guerra comercial com os Estados Unidos. Trump prometeu impor uma tarifa de 25% sobre todas as importações canadenses, uma medida que pode ser devastadora para a economia do Canadá.
Congresso
Nos últimos dias, a extrema-direita republicana promoveu no Congresso dos EUA uma série de projetos de lei sobre migração, controle de fronteiras e tarifas, a fim de garantir que as promessas de Trump sejam cumpridas “rapidamente”.
Na terça-feira (7), a Câmara dos Deputados aprovou, com o voto favorável de 48 representantes democratas, a chamada “Lei Laken Riley”, uma iniciativa republicana que facilita a prisão e a deportação de imigrantes indocumentados acusados de cometer crimes não violentos.
Com o mesmo tom ameaçador com que nas últimas semanas se referiu depreciativamente a vários países, o bilionário de ultradireita afirmou que mudará o nome do Golfo do México para “Golfo da América” – em referência aos Estados Unidos.
“Vamos mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América. O que tem um ótimo som, o Golfo da América, que nome bonito. E é apropriado”, afirmou prometendo uma ‘nova era de ouro para os Estados Unidos’.
Desde sua vitória presidencial em novembro, Trump tem feito consistentemente uma série de declarações expansionistas. Ameaçou que os EUA assumirão o controle do Canal do Panamá se o país não reduzir suas tarifas sobre os navios americanos que transitam pela hidrovia estratégica. Ele também afirmou que “o Canadá deveria ser um estado dos Estados Unidos” e que os EUA deveriam assumir o controle da Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca, como uma “questão de segurança nacional”.
Durante a coletiva de imprensa, realizada apenas 24 horas depois que o Congresso certificou sua vitória, ele novamente destacou que o Canadá não está cumprindo sua obrigação como membro da OTAN de gastar pelo menos 2% do seu PIB em defesa. Afirmou que o país é “dependente das forças dos EUA”, ao mesmo tempo em que ironizou que “tudo bem, mas eles terão que pagar por isso”. Insistindo que sua “ideia de anexar o Canadá” como parte dos EUA “seria possível”.
Referindo-se ao Panamá, Trump declarou que “a China está basicamente tomando conta” do território e novamente acusou o país centro-americano de impor tarifas excessivas aos navios dos EUA. Perguntado se está disposto a usar coerção militar ou econômica para atingir esse objetivo, o presidente eleito respondeu que “não pode dizer nenhuma dessas coisas”, mas que seus objetivos são “precisamos deles para a segurança econômica”.
Edição: Leandro Melito