Os indígenas que ocupam a sede Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc) prometem que só deixarão o local quando conseguirem estabelecer diálogo com o governo estadual. “A gente continua até que as nossas reivindicações sejam respondidas pelo governo. Em momento algum vamos abandonar a decisão e as necessidades coletivas”, afirma o cacique Dadá Borari, da Terra Indígena Maró, localizada no município de Santarém, no oeste do estado.
No prédio desde a manhã desta terça-feira (14), os manifestantes pedem a revogação da lei estadual 10.820, que revoga a norma que garante a manutenção do Sistema Modular de Ensino (Some), programa de educação voltado para comunidades do campo, ribeirinhas e indígenas.
O grupo, formado por mais de cem indígenas de dez etnias, pede também pela saída do atual secretário de educação de estado, Rossieli Soares, que até o momento não recebeu a comissão de lideranças indígenas.
O ato tem apoio do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação Pública do Estado do Pará (Sintepp). Até a publicação desta reportagem, os indígenas aguardavam resposta da secretaria.
“Até agora, o Secretário de Educação não recebeu a comissão e o governador sequer se posicionou sobre a ocupação e a possibilidade de revogação da Lei 10.820, que em 48 horas, acaba com a lei do magistério e revoga o sistema modular de ensino”, afirma Vinicio Nascimento, da direção do Sintepp.
De acordo com o sindicato e com lideranças presentes no local, o governo do estado vem gradativamente implementando alterações no sistema educacional que colocam em risco a educação indígena. Os indígenas protestam ainda por não terem sido ouvidos no decorrer dessas mudanças.
“Quem conhece a realidade somos nós, quem sabe o que precisamos somos nós, não vai ser um monitor que vai formar nossos alunos. Nós queremos uma educação humanizada, onde o professor possa educar o aluno e não assistir uma tele aula”, protesta Gedeão Monteiro, presidente do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (Cita), em live transmitida no início da noite.
Na tarde desta terça-feira, os manifestantes receberam um representante do Ministério Público Federal (MPF), que esteve no local para ouvir as lideranças. “E também garantir que nada aconteça com as lideranças indígenas que vão passar a noite aqui”, informa Nascimento.
Imagens divulgadas pelo sindicato apontam retaliação à ocupação, com o corte de energia da Seduc por volta das 9h30, e a presença massiva de policiais. Durante o dia, jornalistas foram barrados na entrada da ocupação.
Edição: Nicolau Soares