A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), enaltece as parcerias firmadas pela sua gestão com o governo Lula (PT). No entanto, evita declarar apoio à reeleição do petista nas próximas eleições.
“O governo federal está agindo para ajudar os estados, 2026 a gente trata em 2026”, diz.
Em meio a especulações sobre sua saída do PSDB, ela afirma que esse debate não é uma prioridade. “Neste momento, sou candidata a ser a melhor governadora que Pernambuco puder ter.”
Em entrevista à Folha, a governadora disse que o partido precisa “se reencontrar com a sua história e seus valores”, e não quis responder se o PSD seria um possível destino.
Como avalia a condução do inquérito sobre a trama golpista no STF?
Houve algo muito sério no Brasil no dia 8 de janeiro de 2023. Teve uma culminância de um processo que não começou ali. Qualquer um que atente contra a democracia precisa ser investigado e, eventualmente, punido, sempre dado o direito ao contraditório e à ampla defesa para as pessoas terem o direito a um devido processo legal.
A sra. é a favor ou contra uma anistia aos condenados do 8 de janeiro?
Essa é uma decisão do Congresso Nacional. Se houver um julgamento que observe os valores constitucionais e o devido processo legal e se houve violação a princípios democráticos e crime, as pessoas serão punidas.
Como avalia a atuação do ministro Alexandre de Moraes?
Não sou eu que vou avaliar a forma de trabalho do ministro. Se houver qualquer tipo de discussão, que se faça no âmbito do STF.
Quais são os principais erros do governo Lula até agora?
Posso falar dos principais acertos. Do ponto de vista da nossa relação com o presidente, com o governo federal, o governo federal está de braços abertos para Pernambuco. A gente sofreu muito ao longo dos últimos anos, porque não conseguiu estabelecer essa relação. E é a partir dela que estamos conseguindo trazer investimentos importantes e concluir obras paralisadas.
Há uma preocupação de analistas econômicos com a situação fiscal do país e houve uma escalada do dólar. A sra. acha que o governo federal precisa ajustar a condução da economia?
O equilíbrio fiscal é fundamental para permitir que o Brasil possa crescer. É importante, sim, que haja revisão de gastos, que haja decisões importantes, não só na captura de mais receita, mas também no corte no custeio da máquina pública. Os juros estão altos, dólar alto, a inflação ainda está contida, mas a economia reage crescendo. Mas é sustentável esse crescimento da economia? Não. Torço e trabalho naquilo que for possível para que o Brasil possa crescer.
A sra. tem contestado a conduta do PSDB de fazer oposição ao governo Lula, mas o partido segue na oposição no Congresso. Suas posições não têm encontrado eco?
O PSDB é um partido de história e entregas para o país, mas foi ficando pequeno ao longo do tempo e isso revela que algo está errado. O que precisamos fazer, o que o PSDB precisa fazer, é se reencontrar com a sua história e seus valores. A gente precisa ter partidos e instituições fortes que possam enfrentar o jogo democrático.
Que variáveis a senhora vai levar em conta para decidir por qual partido vai disputar a eleição de 2026?
Só eu sou porta-voz de mim mesma, sempre serei. Isso é importante porque há muita especulação sobre posições possíveis. Sou grata ao PSDB, sempre fui. Mas nesse momento eu sou candidata a ser a melhor governadora que Pernambuco puder ter. Para qualquer lugar que eu vá ou fique, sempre defenderei os mesmos valores.
A senhora acha que define quando?
No tempo certo, mas também não é o principal assunto para uma governadora.
Pode ser o PSD?
Acho que eu não estou conseguindo ultrapassar essa discussão [na entrevista].
Tem possibilidade da sra. apoiar a reeleição do presidente Lula?
O que nós temos hoje é um governo federal alinhado com o governo do estado do ponto de vista institucional. As coisas estão acontecendo no nosso estado e eu sou grata, porque existe uma decisão política por trás disso para apoiar Pernambuco. Digo que isso não é só em Pernambuco. A gente percebe que seja de situação ou de oposição, o governo federal está agindo para ajudar os Estados. 2026 a gente trata em 2026.
A pesquisa Quaest, de dezembro, mostra que seu governo tem uma aprovação de 54% e tem uma desaprovação de 42%. A senhora está satisfeita com esses números?
É importante enxergar onde é que a gente ainda não chegou. Também fazemos reflexões no governo. Chegaremos ao ano que vem com o pé no acelerador. Acho que a gente entrega hoje tudo aquilo que foi possível construir dentro da situação em que pegamos Pernambuco em janeiro de 2023.
A mesma pesquisa mostra que sua aprovação é melhor no interior: 39% de avaliação positiva e 21%, negativa, número melhor do que no Recife, com 20% de avaliação positiva e 55% negativa. Em que o governo falhou na capital?
A região metropolitana do Recife tem 42% da população pernambucana e tem desafios complexos: redução da desigualdade, água, mobilidade. A gente está enfrentando esses temas. Não tem erro nem acerto. É trabalhar para garantir as entregas que a gente se comprometeu com o povo pernambucano. Nunca fiz uma eleição pensando na outra.
A sra. acha que a aprovação expressiva do prefeito João Campos no Recife traz dificuldade para o governo estadual?
Se eu estivesse enxergando só índice de popularidade, a gente não teria chegado até aqui. Diziam que jamais uma prefeita do interior poderia chegar ao governo de Pernambuco.
No começo do ano, o presidente da Assembleia, Álvaro Porto (PSDB), fez críticas ao seu discurso na abertura do ano legislativo. Depois, a relação de vocês ficou amena. A sra. perdoou as críticas?
Sempre busquei fazer tudo numa relação de muito respeito. Não sou uma governante que busca adeptos impondo medo. Tudo que faço é fruto de construção de diálogo. Quero dizer que tudo que apresentei à Assembleia Legislativa foi aprovado. Vou continuar trabalhando desse jeito, e qualquer episódio diferente disso não será feito através de palavras minhas.
No ano passado, a senhora foi questionada se a solução para o metrô do Recife, que enfrenta falhas periódicas, sairia em 2024. A sua resposta foi: “tem que sair”. Mas não saiu. Quem falhou?
O metrô é vinculado ao governo federal. Mas tudo que diz respeito ao povo de Pernambuco eu sempre disse que diz respeito ao governo de Pernambuco também.
A gente tem o avanço dos estudos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para fazer uma concessão. O ministro Rui Costa [Casa Civil] esteve aqui e ficou de chamar a mim, ao governo do estado, ao BNDES e ao governo federal para que juntos enxerguemos os cenários possíveis. Essas reuniões deviam ter acontecido nos últimos 15 dias, mas o presidente [Lula] foi operado.
RAIO-X | RAQUEL TEIXEIRA LYRA LUCENA, 46
Governadora de Pernambuco, é formada em direito pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). É procuradora do estado de Pernambuco e foi delegada da Polícia Federal e deputada estadual entre 2011 e 2016 pelo PSB. Em 2016, filiou-se ao PSDB e foi eleita prefeita de Caruaru, reeleita em 2020. É filha do ex-governador João Lyra Neto (PSDB), que governou o estado em 2014 pelo PSB.