O ano está chegando ao fim e, junto às avaliações de final de ano, aos wraps do Spotify, às listas dos jornais e da TV, nos perguntamos: o que foi bom e o que queremos mudar ou melhorar no próximo ano?
Dentre todas essas reflexões, surge a pergunta sobre a escola dos nossos filhos e filhas. O ano letivo também se encerra junto com o calendário, e nos questionamos: a escola atendeu às nossas expectativas? Meu filho ou filha aprendeu o que deveria aprender?
Mas, quando a escola é pública, as perguntas que surgem também são outras: como está sendo a gestão democrática da escola? A autonomia da instituição está sendo respeitada pelos órgãos competentes? Os servidores estão sendo valorizados e acompanhados em suas funções? Os estudantes conseguem exercer seus direitos de ter um grêmio, sem serem tutelados pela gestão escolar? As famílias conseguem participar, propor atividades, engajar-se? A escola recebe suas verbas independentemente de problemas de prestação de contas?
Independentemente das respostas – que suspeito serem, em sua maioria, negativas para todas essas questões –, a pergunta central persiste: qual escola queremos? Como ela seria? Como seria essa escola dos nossos sonhos?
Nas conversas com as famílias da escola do meu filho, assim como com vizinhos e vizinhas do entorno, familiares e amigos, percebo que o que as pessoas desejam é um espaço de diálogo e aprendizado, que não pareça uma prisão. (Embora haja quem considere que uma escola com policiais e câmeras seja uma boa opção – mas não para seus próprios filhos, claro.)
Assim, a escola que queremos é uma escola:
– Democrática, onde as famílias sejam ouvidas e os colegiados respeitados, sem autoritarismo ou descaso com os envolvidos;
– Onde as crianças possam aprender o que é um grêmio escolar, sem serem usadas pela gestão como “ajudantes mirins”;
– Onde o conselho escolar tenha todas as suas prerrogativas cumpridas, sem tutela ou censura por parte das secretarias;
– Onde as escolas possam elaborar seus planos políticos pedagógicos sem ficarem reféns de calendários cheios de demandas burocráticas e plataformas digitais;
– Que ofereça artes e esportes na mesma medida em que prepara os alunos para os vestibulares;
– Que receba as verbas devidas, independentemente de problemas burocráticos ou administrativos;
– Que tenha uma comunidade ativa, tanto dentro quanto fora dos muros da escola, onde os vizinhos possam colaborar e participar, e onde a escola possa estabelecer parcerias com os agentes do entorno;
– Onde os servidores públicos sejam respeitados em suas carreiras, sem sofrer perseguições por parte do governo de turno;
– Intercultural e multicultural, onde as crianças sejam valorizadas e celebradas pela bagagem que trazem consigo;
– E o mais importante, onde as crianças sejam protagonistas do aprendizado e das vivências.
Tudo isso, no entanto, está distante da realidade da escola pública no Brasil atualmente, onde famílias participativas são difamadas e perseguidas. Onde servidores mais abertos e criativos são censurados e sofrem longos e desgastantes processos burocráticos (uma espécie de lawfare contra servidores públicos). Onde as escolas ficam sem verba por conta de erros insignificantes em prestações de contas de anos atrás – um cenário que serve de argumento para aqueles que defendem a terceirização: “privatiza que melhora”. Onde não há mais festa junina porque seria “do diabo”. Onde a premissa é ofender e punir os estudantes. E muitos outros problemas de falta de recursos, de esgotamento dos docentes, de salas superlotadas, etc.
Embora a realidade da escola pública hoje esteja distante do que gostaríamos idealmente, ainda assim acredito que ela está em constante transformação e essa transformação passa pela participação das famílias da escola pública, pela defesa dela por parte de políticos e movimentos sociais, mas principalmente estando dentro dela e colocando nossos filhos para estudar lá. Só entendemos os problemas e nos preocupamos por melhorar certas questões quando as vivenciamos. Eu não saberia da metade dos problemas das escolas públicas se não fosse parte dela.
Meu desejo é que em 2025 mais famílias conheçam os problemas e potencialidades da escola pública, e que possamos caminhar, juntos, para a escola que queremos e que nossos filhos merecem.
*Andrea Carabantes Soto é imigrante, mãe de estudante de escola pública em São Paulo e cofundadora da Equipe de Base Warmis – Convergência das Culturas, coletivo integrante do Movimento Humanista, que desde 2013 luta em prol da melhoria de vida das mulheres imigrantes no Brasil.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
Edição: Thalita Pires