O aumento de 48% do público no Campeonato Paulista indica o erro de termos dito, por 20 anos, que o estadual não vale nada. É óbvia a hierarquia dos torneios: Brasileirão, Libertadores, Copa do Brasil, nessa ordem… Depois, estaduais. Também está clara a necessidade de organizar o calendário e tirar os grandes das maratonas do início de ano.
Por outro lado, quando times de camisa, como Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Atlético, Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco estão em campo, sempre vale muito.
Isso explica, em parte, o crescimento de 57% de são-paulinos no Morumbi, de 47% de corintianos na Neo Química Arena e de 37% de palmeirenses no Allianz Parque, durante o Paulista.
Parte desse sucesso é reflexo dos planos de sócios-torcedores, especialmente os que dão pontos para quem vai sempre. Corintianos e palmeirenses sabem que não conseguirão comprar ingressos para as partidas mais importantes do Brasileiro e da Libertadores se não tiverem 80% de presença durante o ano.
Mas em 2022 já era assim, e a presença foi 48% menor.
Talvez o acréscimo de espectadores se deva à saudade dos clubes, provocada pela Copa do Mundo. Desde novembro não se via o time do coração jogando.
O Paulista deste ano será o primeiro desde 1985 com apenas um grande entre os semifinalistas. Há duas formas de olhar as finais deste ano.
De um lado, haverá menos público em Água Santa x Bragantino, menos audiência na televisão, menos engajamento nas redes sociais, pelas ausências de Corinthians, São Paulo e Santos.
De outro, a demonstração de haver mais forças num campeonato, disputado por cinco equipes da Série A –o único do país– e com o Ituano, que quase subiu no ano passado.
Até 1988, antes de o Brasileirão ter acesso e descenso, havia a chance de revitalizar os campeonatos estaduais e seguir o modelo de classificação por ranking das federações, semelhante ao da Champions League atual.
Rio e São Paulo indicariam quatro representantes, Minas e Rio Grande do Sul, dois, como hoje Inglaterra, Itália, Espanha e Alemanha têm quatro representantes na Champions.
A outra hipótese seria fazer Série A e B, acesso e rebaixamento, e construir um grande campeonato na elite nacional.
Em 35 anos, o Brasil não fez nem uma coisa nem outra.
O Brasileirão teve as edições de 2019 e de 2022 com a segunda e terceira maior média de público de todos os tempos e, mesmo assim, muito abaixo dos espectadores nos estádios de Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e, pasme!, França.
Na contramão, o presidente da CBF deu um presente aos presidentes de federações ao acabar com o ranking como sistema de classificação para a Copa do Brasil. Ou seja, mais vagas para os estaduais. O resultado é que Corinthians, Santos, São Paulo e Botafogo não têm garantia de disputar a próxima edição do torneio, o que fere de morte os detentores de direitos do mata-mata nacional.
Eles correm o risco de transmitir menos jogos do São Paulo e mais do Ituano e do Água Santa.
Ednaldo Rodrigues está cada vez mais próximo de Gianni Infantino, o homem que inchou a Copa do Mundo.
Futebol não se faz com política.
Faz-se com olhar atento para as questões técnicas.
Esta semana pode haver aproximação das duas ligas, que ainda nos permitem o sonho de construir um Brasileirão de verdade.
Ter mais gente nos estádios, e nos falidos estaduais, mostra que o Brasil está perto demais de voltar a ser um país de futebol, para continuar tão longe disso.
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