O promotor Lincoln Gakiya, que há mais de 20 anos investiga
o Primeiro Comando da Capital (PCC), afirmou que a declaração do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou de “armação” a operação da Polícia
Federal para desmantelar um plano para matá-lo e sequestrar o senador Sergio Moro
(União-SP), é uma ofensa a ele e ao Ministério Público.
“Falar que a polícia inventou essa operação, está ofendendo
a mim e ao Ministério Público. Essa operação começou com o Ministério Público
de São Paulo. Levamos no dia 30 de janeiro a informação ao Moro e à sua esposa.
Prometi que em três meses íamos identificar essas pessoas e efetuar as prisões.
Aí eu louvo o trabalho da Polícia Federal. O Moro é um crítico do ministro da
Justiça e opositor do presidente, mas a PF é republicana. Em apenas 45 dias,
ela concluiu seu trabalho”, disse Gakiya em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.
A investigação que resultou na Operação Sequaz, que prendeu
9 integrantes do PCC que planejavam o ataque a Gakiya e a Moro, começou no
início de fevereiro. Um ex-membro da facção procurou o MP paulista para pedir
proteção, pois estava jurado de morte.
Contou, então, que o mesmo chefe do PCC que iria matá-lo, Janeferson
Aparecido Mariano Gomes, também conhecido
com Nefo, NF e Dodge, queria sequestrar Moro e sua família. O objetivo era
usá-los como moeda de troca para resgatar da prisão o líder máximo da facção, Marcos
Willians Herbas Camacho, o Marcola, preso na penitenciária federal de Brasília.
A investigação mostrou todo o preparo dos integrantes da facção,
com gastos milionários, incluindo compra de veículos, aluguel de imóveis,
viagens e monitoramento da família de Moro desde setembro do ano passado,
durante a campanha eleitoral.
Na entrevista ao Estadão, Gakiya também criticou petistas
que usaram a operação da PF para elogiar Lula, e o próprio Moro, por atribuir a
somente a si a transferência de líderes do PCC para presídios federais, em 2019,
um dos motivos para fosse alvejado.
“Eu não posso entender, qualquer que seja o presidente, seja
Bolsonaro ou Lula, utilizarem, às vezes, a ‘minha’ polícia. A polícia é do
Estado. Isso me deixa muito constrangido quando se tenta usar a polícia para
fins políticos. Os governantes vão passar e as instituições vão permanecer. Sou
crítico apenas quando esses políticos usam a remoção dos líderes do PCC. Essa
remoção acabou com minha vida e com a da minha família. Fiquei com o ônus e os
políticos ficaram com o bônus”, disse o promotor.