Ex-chefe do Executivo boliviano foi atacado a tiros no domingo (27.out); afirma que o governo de Luis Arce está envolvido na investida
O ex-presidente da Bolívia Evo Morales disse que o atual líder do país, Luis Arce, sabia da existência de planos para o eliminar “política e fisicamente”. Ele foi alvo de um ataque a tiros no domingo (27.out.2024). O boliviano afirmou ter tido conhecimento desses esquemas em janeiro de 2022 e que eles teriam sido desenvolvidos por pessoas de dentro do governo.
Morales afirmou que, na época, mantinha contato com Arce e mostrou a ele esses planos, questionando “o que era” aquilo. “Ele se assustou e então me disse: ‘Vou investigar’. Até agora, nada”, declarou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada na 4ª feira (30.out).
Segundo Morales, dentre os responsáveis pelo plano para o eliminar estaria Eduardo Del Castillo, ministro de Governo da Bolívia. Mas, Arce também estaria envolvido.
“O ministro tem de fazer o que diz o presidente. O ministro não é autônomo, não é independente”, disse o boliviano, acrescentando que Arce não entrou em contato com ele depois do ataque. “Teria que ligar, expressar solidariedade e prometer que iria investigar. Repito: o ministro faz o que ordena o presidente”, declarou.
O ex-chefe do Executivo boliviano negou que tenha orquestrado o ataque, como sugeriu o governo do país. Em entrevista a jornalistas, Del Castillo declarou que pessoas que viajavam com Evo Morales atiraram contra uma patrulha.
“Dizem que era uma operação de narcóticos. Mas os policiais não estavam com uniforme de narcóticos. Não estavam com o carro da Força Especial de Luta contra o Narcotráfico. Ontem, uma capitã me disse que o plano era, se não me detivessem, me matar”, disse Morales.
Ele falou sobre o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e sobre o fato de o governo brasileiro não ter se pronunciado sobre o ataque.
“O irmão presidente Lula nunca me abandonou e penso que não vai me abandonar. Ele sabe que cheguei à Presidência sem formação acadêmica, graças à verdade e à honestidade”, declarou. “Entendi que a política é a ciência do serviço, e que esforço é sacrifício pelo povo humilde. Fiz isso por 14 anos e por isso tenho apoio. Meu pecado é ter tanto apoio. Quando não podem eliminar politicamente, nem moralmente, nem juridicamente, tentam acabar fisicamente”, disse.
Morales é, atualmente, líder da oposição ao atual governo de Arce. Antes, eram aliados. Questionado sobre uma possível reaproximação, o ex-presidente disse que o atual líder boliviano “adotou a receita” do Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacional): “reduzir o Estado”.
Ele disse: “E esse Estado mínimo só regula, não investe. E quem investe? As multinacionais”.
Perguntado se poderia haver uma solução para o conflito entre os 2, declarou: “Eu não negocio com traidores, nem corruptos, nem narcotraficantes”.