O prefeito reeleito de Mauá, na Grande São Paulo, Marcelo Oliveira (PT), avalia que as eleições deste ano foram influenciadas pelos extremismos, especialmente pelo bolsonarismo, o que prejudicou o debate de propostas e ações de governo.
“O que interfere hoje nas eleições não é só o que você realizou, é também essa questão dos extremismos, para um lado ou para o outro. A questão do bolsonarismo não é fácil de lidar. Uma coisa é a pessoa que votou no [Jair] Bolsonaro, outra coisa é aquele que vai para a rua, que quer bater em todo mundo”, disse em entrevista à Folha.
Marcelo venceu as eleições na cidade no segundo turno, com 54,05% dos votos contra 45,95% do ex-prefeito Átila Jacomussi (União Brasil). A campanha foi marcada por embates duros e trocas de acusações entre os dois.
Átila estabeleceu uma comunicação nas redes sociais que remetia a candidatos bolsonaristas e até à estratégia de Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno das eleições paulistanas, usando temas de costumes, como a liberação de drogas, para atacar o adversário, além de relacioná-lo a escândalos de corrupção do PT.
O prefeito de Mauá foi um dos poucos candidatos petistas pelo país que conseguiu promover nesta eleição comício com a presença do presidente Lula, realizado no último dia 18. Marcelo diz que sua candidatura “foi voltada aqui para a nossa cidade” e que não ficou se pautando sobre questões políticas de “outras regiões”.
Com 418 mil habitantes, Mauá é de longe a maior cidade governada pelo PT em São Paulo, e a única na região metropolitana da capital. O partido ainda venceu em três cidades do interior: Matão (79 mil habitantes), Santa Lúcia (7.149) e Lucianópolis (2.372). Em 2012, os petistas chegaram a vencer 72 prefeituras no estado.
Nacionalmente, o partido voltou a conquistar uma capital (Fortaleza, com Evandro Leitão). Nas eleições de 2020 em São Paulo, também tinham sido quatro vitórias. Além de Matão e Mauá, o partido havia conquistado Diadema (393 mil) e Araraquara (238 mil), ambas perdidas neste ano.
Com a derrota do prefeito José Filippi na primeira e da candidata Eliana Honain na segunda, a população governada pelo PT no estado caiu pela metade. Passou de 1,1 milhão de habitantes em 2020 para 506 mil agora, dos quais Mauá corresponde a 82%.
Apesar disso, Marcelo avalia positivamente os resultados eleitorais do partido neste ano, destacando o crescimento do número de prefeituras pelo país (de 183 para 252) e a vitória de candidatos de outros partidos apoiados pelo PT.
“Eu avalio o seguinte: nós temos uma grande aliança no governo federal e terminamos elegendo prefeitos de outros partidos e composições”, afirmou.
Ele também cita a quantidade de vereadores eleitos nas Câmaras. “Temos que cada vez mais trabalhar para organizar o nosso partido nas cidades para conseguir disputar as eleições com condições de vencer mais prefeituras.”
Passada a eleição, o partido vive uma turbulência interna. Em entrevista na segunda-feira (28), o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) disse que o partido estaria ainda “na zona de rebaixamento” das eleições.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, repreendeu o correligionário, dizendo que estão sob ofensiva da extrema direita e pagam “o preço de estar num governo de ampla coalizão”. “Ofender o partido e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças”, escreveu em rede social.
Questionado se está no time que vê o copo meio cheio ou meio vazio, Marcelo se esquivou. Para ele, as derrotas sofridas pelo partido são “parte da democracia”. “Eu fico do lado do PT. Onde o PT estiver, eu estarei.”
O prefeito de Mauá também descarta usar do espaço conquistado como nome de maior peso do PT no estado para buscar alguma posição institucional de destaque nas eleições das direções nacional e estadual do partido, mas diz que não recusaria caso fosse oferecido um posto.
“Eu estou com a minha cabeça voltada para dar o meu melhor em Mauá. Agora, eu sou um soldado da militância e defesa dos direitos dos trabalhadores, e se eu for convocado, estou à disposição”, disse.
Atualmente, Edinho Silva, prefeito de Araraquara, é o presidente estadual do partido, e Gleisi é a presidente nacional. Ela tem mandato na liderança do PT até junho de 2025, mas as articulações para a sucessão já ocorrem e Edinho é um dos principais cotados para sucedê-la.
Marcelo também diz não se interessar em concorrer a cargos maiores, como o governo estadual. “Minha cabeça está em terminar o mandato bem”, diz, citando a continuidade das obras que tem tocado em Mauá.
Ele relata manter uma boa relação com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que saiu da eleição com mais capital político para a disputa de 2026.
“O Tarcísio sempre me atendeu bem, nunca tive problema. Tem a dificuldade, que ele mesmo já falou, que o governo do estado está com dificuldade financeira, então tem alguns repasses que chegam a atrasar, mas eu nunca tive problema de relação com ele. Pensamos diferente em questão de política, mas essa relação nunca foi ruim.”