Possível crise de crédito pioraria a economia, diz ex-BC


Em entrevista ao Estadão, o economista Tony Volpon analisa a decisão da autoridade monetária de manter taxa a 13,75%

O economista e ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC (Banco Central) Tony Volpon afirmou que a possibilidade de uma crise de crédito é “grave o suficiente” para esfriar ainda mais a economia brasileira. O Copom (Comitê de Política Monetária), no entanto, teria perdido a oportunidade de incorporar esse cenário nos cálculos que definem o nível da taxa básica de juros, a Selic. 

A declaração se deu nesta 6ª feira (23.mar.2023) em entrevista ao Estadão.

Na 4ª feira (22.mar.2023), o BC decidiu manter a taxa básica no mesmo nível pela 4ª reunião consecutiva. O juro base está em 13,75% ao ano desde setembro de 2022. 

A decisão foi unânime entre os 8 diretores e o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto. Ele tem sido pressionado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para reduzir a Selic.

Tony Volpon demonstra mais preocupação do que a média dos analistas. Para ele, há um padrão nas crises ao longo da história, em que eventos financeiros servem de gatilho para recessões. Nesse padrão, BCs e autoridades econômicas tenderiam a negar a crise. Volpon diz que a decisão de manter a Selic configura esta fase de negação. 

O economista compara o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) com o Copom para entender como o BC considerou a crise de crédito na última reunião.

Ambos estão enfrentando uma inflação bem acima do desejado e têm problemas com o mercado de crédito, que são diferentes, mas passam por algum tipo de travamento de crédito

Tony afirma que o Fed incorporou essa novidade, mudando a decisão. Já o Copom reconheceu o fato, mas não o incorporou. “Ele meio que empatou o jogo: colocou a questão do crédito um fator negativo, baixista de inflação, e colocou a desancoragem das expectativas (de inflação) como sendo positivo. Um empata o outro, não mudou nada”, disse.

De acordo com Tony, o BC quer avaliar 1º o impacto na atividade, para precificar isso na sua decisão, mas pode ser um problema. “Se for esperar o impacto na atividade, já contratou a recessão. Aí, vai cortar juros depois? Fica atrasado”.

“O BC tem que ter visão mais holística: entende que tem a poluição, entende que tem esse choque, então, pode dizer que, talvez, lá para maio ou junho, não tenha que ter uma política tão contracionista”, completou

Tony Volpon explica que juros altos pioram o choque de crédito. “Primeiro, uma crise endógena de crédito, como está ocorrendo, será tanto pior quanto mais apertada é a política monetária. Se estamos com uma crise de crédito, e o BC não faz nada, mantém os juros lá na altura ou até sobe os juros, obviamente, a crise vai ser pior”. 





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