Mulheres do MST ocuparam a fazenda São Lukas, em Hortolândia, na madrugada de sábado (25.mar)
A PM-GO (Polícia Militar de Goiás) desocupou no domingo (26.mar.2023) a fazenda São Lukas, no município de Hidrolândia, a 36 km de Goiânia. De propriedade da União, o local abrigava um acampamento com cerca de 600 famílias sem terra.
A ocupação foi realizada por mulheres ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na madrugada de sábado (25.mar).
Segundo o movimento, a ação faz parte da “Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra“, prática feita pelo MST em todo país durante o mês de março. O objetivo é que a propriedade seja destinada para a reforma agrária.
A fazenda integra o patrimônio da União desde 2016. Conforme o MST, antes disso, pertencia a um grupo condenado em 2009 pelos crimes de exploração sexual e tráfico internacional de pessoas.
“Exigimos que esta área, que antes era usada para violentar mulheres, seja destinada para o assentamento destas famílias, para que possamos produzir alimentos saudáveis e combater a violência”, disse Patrícia Cristiane, da direção nacional do MST.
Em nota, o movimento social afirmou que “a ação do Governo de Goiás, por meio da Polícia Militar, de proteger latifúndio usado para exploração sexual e tráfico humano, foi arbitrária e ilegal”.
O MST também acusou as autoridades de “reprimir a ocupação pacífica e democrática, com uma operação totalmente ilegal e violenta para despejar as famílias, mesmo a propriedade ocupada sendo de competência da União”.
O grupo disse ter buscado “o diálogo e a negociação pacífica para garantir a segurança das famílias”. Por fim, a desocupação decorreu sem incidentes.
Apesar de ter deixado o local, o MST considerou que a “ação surtiu efeitos positivos para as famílias acampadas”. Citou uma reunião para tratar do tema com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e a Secretaria de Gestão do Patrimônio da União.
O Poder360 entrou em contato com a PM-GO para esclarecimentos, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.
Eis a íntegra da nota emitida pelo MST:
“Governo de Goiás defende latifúndio usado para exploração sexual e tráfico internacional de mulheres
“O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), afirma que, a ação do Governo de Goiás, por meio da Polícia Militar, de proteger latifúndio usado para exploração sexual e tráfico humano, foi arbitrária e ilegal.
“No último sábado (25), 600 famílias do MST ocuparam a fazenda São Lukas, em Hidrolândia. A atividade busca exigir que uma propriedade usada para exploração sexual de mulheres e tráfico humano, fosse destinada para a Reforma Agrária.
“No entanto, o Governo de Goiás, por meio da Polícia Militar, tentou reprimir a ocupação pacífica e democrática, com uma operação totalmente ilegal e violenta para despejar as famílias, mesmo a propriedade ocupada sendo de competência da União.
“Apesar do grande contingente policial e o aparato de guerra utilizado pela PM contra trabalhadores e trabalhadoras, o MST buscou o diálogo e a negociação pacífica para garantir a segurança das famílias.
“Destacamos que há uma inversão no papel do Governo de Goiás, que fez a defesa de uma propriedade utilizada em proveito de crimes, ao invés de buscar medidas que garantam a moradia, a dignidade e os direitos das famílias Sem Terra goianas. O papel do Governo deve ser de buscar a solução pacífica e garantir a justiça e a paz social, não de reprimir com aparato de guerra atos democráticos que reivindicam direitos constitucionalmente garantidos.
“Além disso, é importante dizermos que, mesmo com a ação ilegal do governo do estado, nossa ação surtiu efeitos positivos para as famílias acampadas. Seguimos em negociação com o governo federal, onde ficou agendada para a próxima semana uma reunião com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e com a Superintendência do Patrimônio da União (SPU), para tratar do tema. Iremos exigir o assentamento das famílias acampadas e a imediata retomada da Reforma Agrária em Goiás.
“Reafirmamos que seguiremos na nossa luta pelo assentamento das famílias Sem Terra acampadas. A Reforma Agrária é a saída para a crise de fome e miséria no estado e no país. Seguiremos firmes com nossa bandeira da Reforma Agrária Popular!
“Movimento dos Trabalhadores Sem Terra em Goiás.”