A contestação feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) sobre o “Plano B” da direita para 2026, na sexta-feira passada (6), sugere que a oposição enfrenta dificuldades para sustentar o discurso de que o ex-mandatário será o candidato da direita nas eleições gerais de 2026.
Tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em junho do ano passado, Bolsonaro tem mantido a posição de que será o candidato do Partido Liberal. No entanto, as chances do ex-presidente conseguir uma reversão da inelegibilidade ficaram mais complicadas após o indiciamento pela Polícia Federal (PF) nas investigações sobre um suposto golpe de Estado.
Durante a Conferência Conservadora de Ação Política (CPAC), na Argentina, na quarta-feira passada (4), Eduardo Bolsonaro disse que pode ser o “plano B” para a direita na disputa presidencial. Apesar da fala, ele ressaltou que a primeira opção para as eleições ainda é seu pai. O ex-presidente, por sua vez, afirmou que é o “plano A, B e C” para a eleição presidencial, sem mencionar o filho.
“Sou eu mesmo [o candidato]. O plano A sou eu, o plano B sou eu também e o plano C sou eu”, disse Bolsonaro em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha.
Aliados reconhecem que a direita precisa procurar outro candidato
Oficialmente, os parlamentares recusam qualquer consideração sobre alternativas. Questionado sobre o assunto, o deputado Evair de Mello (PP-ES), vice-líder da oposição, defendeu que a direita esteja unida ao apontar um nome.
“O nosso nome é Jair Messias Bolsonaro. Ele será o líder do processo da direita em 2026. Não temos plano B. Diferente dele será quem ele indicar. O certo é que estaremos mais unidos do que nunca”, declarou.
Nos bastidores, entretanto, aliados próximos ao ex-presidente já admitem a dificuldade em sustentar a posição para o próprio eleitorado. Duas opiniões predominam nas conversas. A primeira é que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), já deveria ser alçado ao posto de sucessor oficial de Bolsonaro. Como ex-ministro de Bolsonaro, parlamentares da oposição avaliam que ele seria o melhor nome para carregar os votos e o legado do ex-mandatário. Contudo, o chefe do Executivo paulista tem afirmado que tentará a reeleição ao governo do estado no próximo pleito.
A segunda opinião é que o Partido Liberal, na impossibilidade de uma candidatura presidencial de Tarcísio, ceda espaço para o Centrão e escolha um nome mais “moderado” para disputar contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Uma apuração feita pela Gazeta do Povo revelou que o governador do Paraná, Ratinho Jr., está sendo cotado pelo PL para compor uma chapa presidencial.
Direita corre risco de repetir erro do PT em 2018
A definição de uma nova liderança dentro da direita tem sido vista como uma adaptação necessária após a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. Para o cientista político Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos, essa movimentação é uma tentativa de reposicionamento estratégico da oposição.
“Essa movimentação dentro da direita em torno de um ‘plano B’ reflete um momento importante de redefinição estratégica para a oposição. A inelegibilidade do ex-presidente Bolsonaro, que já é uma realidade concreta, abre espaço para que lideranças próximas, como Eduardo Bolsonaro, ganhem protagonismo”, afirma Arruda. Segundo ele, esse processo não implica uma ruptura, mas uma adaptação às novas circunstâncias.
O cientista político alerta ainda para a importância de uma definição rápida de lideranças, destacando as lições das eleições de 2018.
“A oposição precisa alinhar sua narrativa e consolidar lideranças com maior agilidade. Essa definição precoce pode ser determinante para evitar os erros do passado, como o que vimos em 2018, quando Haddad assumiu tarde demais o papel de candidato de Lula, enfrentando dificuldades para consolidar sua imagem nacional e seu discurso”, ressalta.
Por fim, Arruda aponta o risco de enfraquecimento político caso a escolha do substituto demore. “Enquanto a base aliada de Bolsonaro ainda é forte, essa demora na escolha de um nome pode enfraquecer o grupo politicamente, dificultando a construção de uma candidatura competitiva que agregue o eleitorado conservador”, explica.
Ele acrescenta que o desafio da oposição será “alinhar uma mensagem coesa, que dialogue tanto com a base fiel quanto com os eleitores que podem ser atraídos por uma plataforma de direita renovada”.
Demora na escolha do sucessor de Bolsonaro visa não “queimar a largada”
Se alguns integrantes da oposição desejam a nomeação do sucessor de Bolsonaro já em 2025, outros entendem que o PL não pode “queimar a largada” antes de 2026. Para quem acompanha as movimentações, a oposição ainda possui tempo hábil para permitir um desgaste político de Lula em 2025 e concentrar esforços para anunciar o nome em 2026.
O exemplo citado para defender essa posição é a candidatura do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), ao Palácio do Planalto. Desde novembro, o chefe do Executivo goiano vem afirmando que disputará a presidência da República e o União Brasil planeja lançar oficialmente o nome de Caiado em março do ano que vem, em Salvador (BA).
Nesta semana, Caiado foi condenado à inelegibilidade pela Justiça Eleitoral de Goiás, acusado de abuso de poder político durante as eleições municipais deste ano. O governador afirmou que recorrerá da decisão e negou ter cometido qualquer ato ilícito moral ou eleitoral. Os planos de sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto estão mantidos.
Para quem transita nos salões do Congresso Nacional, o governador se precipitou ao lançar seu nome neste ano. Ainda que desejasse ocupar um lugar vazio na oposição, a movimentação foi vista como arriscada, já que ele ficará sob o escrutínio público por quase dois anos.