A Polícia Federal indiciou nesta quarta-feira (11) mais três militares no inquérito sobre a suposta tentativa de golpe de Estado. São eles: o tenente Aparecido Andrade Portela, o coronel reformado Reginaldo Vieira de Abreu e o tenente-coronel da ativa Rodrigo Bezerra de Azevedo.
A PF encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um complemento para o relatório final da investigação após análise dos dados e dos depoimentos tomados depois da Operação Contragolpe, realizada no dia 19 de novembro.
Os três já prestaram depoimento à PF. Portela e Abreu ficaram em silêncio. Azevedo, que foi durante a operação, negou ter participado da suposta trama golpista. Agora são 40 indiciados, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O tenente Aparecido Portela (PL-MS), que atualmente está na reserva, é suplente da senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro. A PF apontou que Portela teria atuado como “um intermediário” entre o governo Bolsonaro e “financiadores das manifestações antidemocráticas residentes no estado do Mato Grosso do Sul”.
Segundo o relatório, ele é um amigo próximo do ex-mandatário desde a década de 70 e frequentador assíduo do Palácio do Alvorada no final de 2022. A autoridade policial disse que Portela trocava mensagens com o tenente-coronel Mauro Cid, que à época atuava como ajudante de ordens de Bolsonaro, e utilizou o codinome “churrasco” para se referir ao suposto plano golpista.
Fontes ligadas às investigações relataram à Gazeta do Povo que o indiciamento do tenente Portela deve levar a uma intensificação das investigações contra financiadores dos acampamentos que resultaram nos atos de 8 de janeiro de 2023. Os três militares foram indiciados pelos crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
Reginaldo Vieira de Abreu
Outro indiciado, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, foi chefe de gabinete do general Mario Fernandes na Secretaria-Geral da Presidência da República. No documento, a PF afirmou que Abreu “auxiliou” Fernandes a “tentar disseminar informações falsas sobre o sistema eletrônico de votação, com o objetivo de impedir a posse do governo legitimamente eleito”.
Fernandes, assim como Azevedo, foi preso na Operação Contragolpe. Conforme o relatório, os dois tentaram “manipular o relatório de fiscalização das Forças Armadas sobre eleições de 2022”, alinhando “o conteúdo do documento com os dados falsos divulgados pelo argentino Fernando Cerimedo, evidenciando uma coordenação entre os núcleos da organização criminosa”. Cerimedo também foi indiciado pela PF.
“Força, Kid Preto! Essa apresentação do pessoal da Argentina, o nosso relatório do exército tem que estar no mínimo, no mínimo, alinhado com eles. Pra dar… veracidade ao nosso. Não pode estar… não pode estar dizendo que não tem nada. No mínimo tem que ser igual o dos caras pra… ser o tal do batom na cueca, se nada aparecer até lá”, teria dito Abreu em uma mensagem recuperada pela PF.
Em outra mensagem, ele teria dito a Fernandes que Bolsonaro precisava “ter coragem moral” e dizer que tinha desistido do suposto golpe para que os manifestantes fossem passar o Natal de 2022 em casa. Este fato teria ocorrido no dia 19 de dezembro daquele ano.
Além disso, o militar enviou a Fernandes uma foto do ministro Gilmar Mendes embarcando no Aeroporto de Lisboa, em Portugal, com destino a Brasília, no dia 20 de novembro de 2022.
“As diligências realizadas identificaram que Reginaldo Vieira estava no mesmo voo do ministro Gilmar Mendes… Importante contextualizar que a foto foi enviada no mês de novembro de 2022, no período em que os investigados tinham elaborado a primeira versão da minuta de golpe de Estado que previa, dentre outras medidas de exceção, a prisão do ministro Gilmar Mendes, conforme depoimento prestado pelo colaborador Mauro Cesar Cid”, diz o relatório.
Rodrigo Bezerra de Azevedo
“Os elementos de prova apresentados são convergentes para demonstrar a
participação de Rodrigo Bezerra Azevedo na ação clandestina do dia 15/12/2022, que tinha o objetivo de prender/executar o ministro Alexandre de Moraes, integrando o núcleo operacional para cumprimento de medidas coercitivas”, afirmou a PF.
Em depoimento, Azevedo negou qualquer participação na suposta emboscada contra Moraes e disse que não estava em Brasília no dia que o plano seria executado. Ele afirmou ainda que pegou o celular no Comando de Operações Especiais (Copesp) alguns dias depois.
“Apesar de ser um bem público, pertencente ao Exército brasileiro, Rodrigo Azevedo alegou que o Copesp não tem um controle sobre a retirada dos aparelhos celulares, fato que impede a confirmação de sua alegação de que retirou o aparelho após a ação clandestina do dia 15/12/2022”, ressaltou a PF.
“Isso aí é uma prática que acaba sendo feita, a gente que trabalha com missões sensíveis, de anonimizar o celular realmente. Minha intenção era ter esse celular para anonimizá-lo realmente”, disse o militar durante o depoimento.