A Polícia Federal cumpriu na quinta-feira (3) ordens de busca e apreensão contra um sósia do deputado federal Beto Pereira (PSDB), candidato à Prefeitura de Campo Grande (MS). A ordem foi do desembargador Sideni Pimentel, do TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul).
O ator é acusado pela campanha de Beto de produzir vídeos com notícias falsas para atacar o tucano. A coligação que apoia o candidato, liderada pelo PSDB, diz que o ator tinha “estrutura técnica, financeira e intelectual para a criação e distribuição de fake news”.
Matheus dos Santos Lopes, o sósia, foi contratado pela campanha de Rose Modesto (União Brasil) para fazer um vídeo oficial para circular nas redes sociais e no horário eleitoral na TV.
Na gravação, o ator aparece com as mãos cobertas por barro distribuindo santinhos com o nome Neto e os dizeres “Neto é ficha suja” e “Neto é playboy”. Ainda no vídeo, tudo que o sósia toca fica manchado, marrom, e os eleitores fazem cara de nojo.
Antes de o vídeo ir ao ar oficialmente, o influenciador local Marcos Antônio Davalo Gimenes teve acesso ao filme e o compartilhou em suas redes sociais.
Era possível identificar que a autoria da peça cabia à campanha de Rose Modesto, porque o vídeo possuía marca d’água com o nome da candidata.
Mesmo assim, a coligação liderada pelo PSDB pediu que fosse feita uma operação para identificar quem estava por trás do vídeo. Os alvos da ação tucana foram o sósia, o influenciador e a agência de recrutamento de atores TAG ME Mídias.
“É necessário saber quem arquitetou tais fatos, quem é o financiador, quem é o beneficiário e como os vídeos estão sendo produzidos e veiculados”, disse a campanha tucana no pedido de buscas feito ao TRE-MS.
O PSDB requisitou as buscas e apreensões, o depoimento dos acusados, a quebra dos sigilos bancários e a geolocalização dos celulares, entre julho e outubro, de todos os envolvidos. O desembargador Pimentel concordou somente com os dois primeiros pedidos.
A Folha teve acesso à decisão sigilosa do TRE-MS. Nela, Pimentel autoriza as buscas mesmo sem que haja uma ação investigação na Justiça Eleitoral contra os acusados. Ele entende que a coligação de Beto Pereira “justifica satisfatoriamente a necessidade de antecipação de provas”.
“É possível verificar que estão utilizando de pessoa com a mesma compleição física do candidato Beto Pereira, e que este ‘ator’ está usando a alcunha de ‘Neto’, que é muito parecido foneticamente com ‘Beto’”, diz o desembargador.
A ideia da campanha de Rose era veicular a gravação na quinta-feira —dia do último debate dos candidatos à Prefeitura de Campo Grande. Em pesquisa da Quaest divulgada em 17 de setembro, ela apareceu em primeiro lugar na corrida eleitoral, com 31% das intenções de voto; Beto é o segundo, com 25%.
A estratégia, segundo auxiliares de Rose, foi divulgar o vídeo nas redes na mesma hora em que a candidata acusou Beto, no debate, de ser “ficha suja”.
O pano de fundo são as condenações contra o tucano no Tribunal de Contas do Estado por irregularidades no município de Terenos (MS), governado pelo hoje candidato de 2005 a 2012.
As condenações administrativas ocorreram na década passada. Sem identificar dolo e com a prescrição dos efeitos secundários das condenações, Beto não cai na Lei da Ficha Limpa e pode concorrer à eleição.
O candidato tucano disse que a campanha dele é legítima e tentou se afastar da pecha de ficha suja. “A Polícia Federal desmascarou a rede de fake news montada para nos destruir. Mas estamos aqui fazendo uma caminhada limpa e pautada em propostas sérias, respeito ao eleitorado e, principalmente, à verdade”, disse ele após a operação.
“Não há nada de errado no vídeo, tanto é que a gente publicou mesmo depois dessa operação [da Polícia Federal]. Campanha é assim mesmo, tem que ter coro grosso. Fizeram sátira comigo também “, rebateu Rose.
O PSDB tem hegemonia em Mato Grosso do Sul. Os tucanos governam o estado há dez anos e ocupam 51 das 79 prefeituras. O partido tenta este ano quebrar o tabu de nunca ter vencido a disputa pela capital Campo Grande, com forte investimento na campanha de Beto Pereira.