O ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, de 89 anos, revelou nesta quinta-feira (9) que seu câncer de esôfago se espalhou para o fígado, de modo que o avanço da doença não pode ser interrompido.
“O câncer no meu esôfago está colonizando meu fígado. Não consigo pará-lo com nada. Por quê? Porque sou um idoso e tenho duas doenças crônicas. Não posso fazer nenhum tratamento bioquímico ou cirurgia porque meu corpo não aguenta”, disse Mujica ao semanário local Búsqueda. Na conversa realizada na última terça (7) e publicada nesta quinta-feira, o líder progressista pediu que não sejam mais feitos pedidos de entrevistas a ele. “O que eu peço é que me deixem em paz. Que não me peçam mais entrevistas ou qualquer outra coisa. Meu ciclo acabou. Sinceramente, estou morrendo. O guerreiro tem direito ao descanso”, disse.
O ex-presidente disse que está tomando as providências necessárias para ser enterrado no jardim de sua casa, no Cerro de Montevidéu, ao lado de sua cadela Manuela, sob uma árvore que ele mesmo plantou.”Vou morrer aqui. Tem uma sequoia grande lá fora. Manuela está enterrada lá. Estou preenchendo a papelada para que eles possam me enterrar lá também. E é isso”, afirmou.
Pepe foi acometido por uma doença autoimune chamada Síndrome de Strauss, com a qual convive há aproximadamente duas décadas, condição que dificulta a submissão à quimioterapia e mesmo a processos cirúrgicos necessários para tratar a nova enfermidade. No diagnóstico, os médicos estudaram as melhores formas de tratamento. Mas agora, a doença se espalhou e as intervenções não são mais eficazes.
A última intervenção médica realizada por Mujica foi em 27 de dezembro, quando foi submetido a uma cirurgia para tratar seu câncer no esôfago. O procedimento implementou um stent, dispositivo metálico que se adere às paredes do tubo digestivo e se autoexpande para permitir a passagem de alimentos.A cirurgia foi bem-sucedida, de acordo com sua médica pessoal, Raquel Pannone. Mujica recuperou-se no hospital e posteriormente em sua casa.
Histórico
Ex-guerrilheiro, presidente de 2010 a 2015 e uma das figuras mais emblemáticas da esquerda na América Latina, Mujica é casado com sua companheira de militância, a ex-vice-presidente e senadora Lucía Topolansky, e passou 13 anos na prisão em condições desumanas, a maioria deles durante a ditadura militar (1973-1985). Após anos dedicados à vida política e à esquerda uruguaia e mundial, Mujica foi diagnosticado com câncer de esôfago em maio de 2024.
Apesar da doença, continuou ativo nos últimos meses na campanha presidencial, vencida por seu sucessor da Frente Ampla, Yamandú Orsi, e dando entrevistas à imprensa.
No início de dezembro, ele recebeu os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Colômbia, Gustavo Petro, que lhe concederam as mais altas honrarias de seus respectivos países.
“O que eu quero é me despedir dos meus compatriotas. É fácil ter respeito por aqueles que pensam como você, mas você tem que aprender que a base da democracia é o respeito por aqueles que pensam diferente. Por isso, a primeira categoria são meus compatriotas e eu me despeço deles. Dou um abraço em todos eles”, disse Mujica.
*Com AFP
Edição: Leandro Melito