Anualmente, reza a lenda que, no dia 25 de dezembro, as crianças que colocam meias em locais específicos de seus lares são agraciadas com presentes natalinos e com a aguardada visita do Papai Noel, em seu clássico trenó voador.
Para celebrar a tradição, famílias de diversas regiões do mundo se reúnem para jogar conversa fora, trocar presentes e degustar opções gastronômicas que só o espírito natalino é capaz de proporcionar.
O que a maioria das pessoas não sabe é que existem inúmeras histórias sobre como surgiu o mito do “bom velhinho“, como também é chamada a figura característica do idoso com vestes vermelhas e cabelos e barba brancos.
Diversos nomes, um só “velhinho”
Apesar de terem origens diferentes, Papai Noel/Father Christmas, Santa Klaus e São Nicolau são nomes utilizados para o mesmo personagem, variando de acordo com o contexto histórico, social e até religioso de cada região.
Para desvendar as origens, simbologias e histórias acerca de cada um destes nomes, a CNN ouviu o historiador, escritor, museólogo e professor de literatura e teologia, Manoel Monteiro.
“A imagem do Papai Noel que conhecemos hoje é resultado de um processo histórico complexo, que combina elementos de diferentes tradições, incluindo as crenças nórdicas e a figura de São Nicolau. Essa fusão cultural explica as raízes profundas e a riqueza de significados associados ao Papai Noel”, explica Monteiro.
Quem foi São Nicolau?
São Nicolau foi um bispo grego do século IV. As lendas em torno dele teriam se espalhado durante o período do Império Romano (que durou de 27 a.C. a 476 d.C.), alcançando partes distintas em todo seu território.
A influência de Nicolau de Bari foi notada não apenas na região do Mediterrâneo, mas também no norte da Europa, no Oriente Médio e no norte da África. O bispo de Mira, na Turquia, conhecido como São Nicolau, se tornou um santo mundial por conta de seu legado focado na generosidade.
Apoiado pelos materiais divulgados pela Biblioteca do Vaticano em seu site, o historiador explica a origem do nome: “Nicolau vem de níkos, que significa “vitória”, e de laos “povo”, isto é, Nicolau é “vitória do povo”, ou melhor, “vitória sobre os vícios que são populares e vis”, ou simplesmente “vitória”, porque ele mostrou aos povos, com sua vida e seus ensinamentos, como vencer os vícios e os pecados”.
Porém, a história mostra outras possíveis origens do nome Nicolau, que pode vir de níkos “vitória”, e de laus “elogio”, equivalendo então a “elogio vitorioso”, ou ainda de nítor “brancura”, e laos “povo”, quer dizer “brancura do povo”.
Arquivos da Biblioteca do Vaticano narram inúmeros milagres atribuídos a São Nicolau, inclusive em vida. Um destes milagres pode ter inspirado a narrativa da chegada do Papai Noel pela chaminé.
Jacopo de Varazze, então arcebispo de Gênova, na Itália, narra: “Um de seus vizinhos, nobre porém indigente, viu-se forçado a prostituir suas três filhas virgens para poder ter com o que sobreviver. Assim que o santo descobriu esse crime, ficou horrorizado e, uma noite, escondido, jogou pela janela do vizinho um saco cheio de moedas de ouro. Ao se levantar pela manhã, o homem encontrou o ouro, agradeceu a Deus e casou a filha mais velha. Algum tempo depois, Nicolau repetiu a mesma ação. O vizinho, ao encontrar ouro outra vez, ficou admirado e resolveu estar atento para descobrir quem o ajudava. Poucos dias depois, Nicolau jogou na casa do vizinho um saco com o dobro das quantias anteriores. O barulho despertou o vizinho, que se levantou e foi atrás de Nicolau, gritando-lhe: ‘Pare, não fuja’. Correndo o mais depressa possível, reconheceu Nicolau e jogou-se imediatamente a seus pés, querendo beijá-los. Nicolau impediu-o e exigiu que não revelasse sua ação enquanto vivesse”.
Portanto, a tradição de deixar botas para São Nicolau encher com presentes vem da história das três jovens mulheres que foram ajudadas por ele.
E quanto ao Papai Noel ou Father Christmas?
Versão inglesa do Papai Noel, o Father Christmas tem raízes mais antigas, ligadas às celebrações pagãs do solstício de inverno, sendo frequentemente representado como uma figura mais rústica, próxima à natureza e associado às colheitas e à fertilidade.
O personagem, que pode vestir roupas verde ou vermelha, está também mais ligado às tradições rurais e às celebrações do Natal em família, sendo associado em muitas culturas como o ano velho que dá lugar ao novo ano.
Santa Klaus
É a versão alemã do Papai Noel, tendo fortes raízes nas lendas nórdicas, especialmente na figura de Odin, o Deus supremo da mitologia nórdica, conhecido por suas longas jornadas e sabedoria, além da aparência de ancião e longa barba branca.
Sinterklaas
O escritor Washington Irving, em seu livro “A História de Nova York”, publicado em 1809, popularizou a figura de Sinterklaas, o equivalente holandês de São Nicolau, contribuindo para a construção da imagem do Papai Noel como um homem alegre e corpulento.
A celebração de Sinterklaas na Holanda é muito popular e ocorre no dia 5 de dezembro. Sinterklaas é uma figura semelhante ao Papai Noel, mas com algumas diferenças, como a data da celebração e a forma de entregar os presentes.
Originalmente verde e depois vermelho
Inúmeras ilustrações antigas mostram a figura do Papai Noel com vestes verdes. Segundo o historiador, em muitas culturas ao redor do mundo, o verde é visto como a cor da vida e da fertilidade, simbolizando o renascimento da natureza após o inverno.
Imagens do “bom velhinho” com roupas vermelhas começaram a se popularizar por volta de 1860, pelas mãos do cartunista norte-americano, Thomas Nast, que criou ilustrações do Papai Noel para a revista Harper’s Weekly, definindo a aparência física do personagem, como a barba branca e o traje vermelho.
Monteiro diz que a Coca-Cola foi uma das maiores responsáveis pela popularização do vermelho como a cor do Papai Noel, após a adoção das vestes avermelhadas a partir de 1930, em diversas campanhas de marketing, contribuindo para fixar a imagem de um Papai Noel vermelho no imaginário popular.
Contexto religioso
Além da marca de refrigerantes, outros fatores contribuíram para a mudança das cores que embalam o Natal, como a associação do vermelho com o sangue de Cristo e a ideia de paixão e amor, sentimentos que se conectam com o espírito natalino.
“O Natal para os cristãos está profundamente ligado ao nascimento de Jesus Cristo. É comum em muitas partes do mundo a celebração deste dia com apresentações musicais, pregações e sermões específicos. A Igreja Católica possui indumentárias específicas para esse dia e muitos hinos cristãos e músicas populares são reproduzidas no período”, explica.
Seja em verde ou vermelho, o Natal é visto por grande parte das pessoas como uma época para reunir e celebrar com familiares e junto à comunidade. Neste contexto, o Papai Noel certamente pode representar a união e a generosidade.
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