Mario Fernandes pede a Cid para conversar com Bolsonaro sobre “segurar” ações da PF:
Em uma das mensagens, o general Mario Fernandes, que na época era secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência, mostram que o militar pediu ao então ajudante de ordens Mauro Cid que Bolsonaro conversasse com o Ministério da Justiça sobre a possibilidade de “segurar” as ações da PF no acampamento montado em frente ao QG do Exército.
“Os caras não podem agir, a área é militar, mas, porra, já andou havendo prisão realizada ali pela Polícia Federal. Então, pô, seria importante, se o presidente pudesse dar um ‘input’ ali pro Ministério da Justiça, pra segurar a PF, né? Ou, porra, pra Defesa alertar o CMP. E, porra, não deixa. Os caminhões estão dentro de área militar”, afirmou.
Ouça o áudio (1min02):
Mario Fernandes, general da reserva, fala diz que boa parte do Alto Comando do Exército “não está muito disposto”:
Segundo a investigação, os acampamentos em frente ao QG do Exército, no fim de 2022, faziam parte de um movimento orquestrado pelos militares e que o general Mario Fernandes se comunicava frequentemente com esses grupos.
“Talvez seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer: o clamor popular, como foi em 64″, disse. “Boa parte do Alto Comando, pelo menos do Exército, não está muito disposto”, acrescentou.
Ouça o áudio (1min20):
Para PF, áudio do general Mario Fernandes defende golpe antes da diplomação de Lula:
Em um outro áudio, o general Mario Fernandes disse que iria conversar com o então presidente Jair Bolsonaro para decidir sobre quando atuariam. Afirma que a ação deveria ser antes do dia 12 de dezembro de 2022, antes da diplomação da chapa Lula e Alckmin, no TSE.
“Vou conversar com o presidente. O negócio é que ele tem essa personalidade às vezes, né? Ele espera, espera, espera. Para ver até aonde vai, né? Ver os apoios que tem. Só que às vezes o tempo está curto, né? Não dá para esperar muito mais passar. Dia 12 seria… Teria que ser antes do dia 12. Mas com certeza não vai acontecer nada. E sobre os caminhões… Pode deixar que eu vou comentar com ele, porque o Exército não pode ‘papar mosca’ de novo. É área militar, ninguém vai se meter. Até porque a manifestação é pacífica, ninguém está fazendo nada ali.”
No dia 12 de dezembro, data da diplomação, manifestantes tentaram invadir o prédio da PF e incendiaram carros e ônibus em Brasília.
Ouça o áudio (1min8s)
“Guerra civil agora ou guerra civil depois”, diz o coronel Roberto Criscuoli:
Em uma das conversas, o general da reserva Roberto Criscuoli fala ao general da reserva Mario Fernandes sobre a possibilidade de uma “guerra civil”.
“Se nós não tomarmos a rédea agora, depois eu acho que vai ser pior. Na realidade vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois. Só que a guerra civil agora tem um significativo, o povo tá na rua, nós temos aquele apoio maciço. Daqui a pouco nós vamos entrar numa guerra civil, porque daqui a alguns meses esse cara vai destruir o Exército, vai destruir tudo”, disse.
Ouça o áudio (51s):
“Quatro linhas da Constituição é o caralho”, diz coronel:
Em uma dessas conversas, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, à época assessor do então presidente Jair Bolsonaro (PL), disse ao general Mario Fernandes que haveria necessidade da movimentação antidemocrática “porque o país estava em guerra“.
“O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o caralho. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”, afirmou.
Ouça áudio (43s):
A OPERAÇÃO DA PF
A PF (Polícia Federal) realizou em 19 de novembro uma operação que mirou suspeitos de integrarem uma organização criminosa responsável por planejar, segundo as apurações, um golpe de Estado para impedir a posse do governo eleito nas eleições de 2022. O inquérito sobre a organização foi levantado pelo ministro Alexandre de Moraes nesta 3ª feira (26.nov). Leia aqui.
Em 21 de novembro, os agentes indiciaram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro da Defesa, general Braga Netto, o ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, e outras 34 pessoas por envolvimento pela suposta tentativa de golpe de Estado.
Segundo a corporação, o indiciamento reflete a existência de elementos suficientes para indicar a participação de Bolsonaro, Braga Netto e Cid em uma trama para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) naquele ano.
Os agentes miram os chamados “kids pretos”, grupo formado por militares das Forças Especiais, e investigam um plano de execução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).
Ainda conforme a corporação, o grupo também planejava a prisão e execução do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Os crimes investigados, segundo a PF, configuram, em tese, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado e organização criminosa.
Foram expedidos 5 mandados de prisão preventiva e 3 de busca e apreensão no Rio de Janeiro, em Goiás, no Amazonas e no Distrito Federal. Foram determinadas 15 medidas, como a proibição de contato entre os investigados, a entrega de passaportes em 24 horas e a suspensão do exercício de funções públicas.
Um dos alvos da operação Contragolpe, como está sendo chamada, é o general da reserva Mario Fernandes. Ele era secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência no governo de Bolsonaro. Ele também foi assessor no gabinete do deputado e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello (PL-RJ).
Também foram alvos dos mandados os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo, e o policial federal Wladmir Matos Soares. Todos tiveram determinadas prisão preventiva e proibição de manter contato com outros investigados, bem como proibição de se ausentarem do país, com a consequente entrega dos respectivos passaportes.
Em nota, a PF disse que uma organização criminosa “se utilizou de elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022”.
O plano estava sendo chamado de “Punhal Verde e Amarelo” e seria executado em 15 de dezembro de 2022.
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