O ex-candidato da oposição da Venezuela, Edmundo González Urrutia, se encontrou nesta segunda-feira (6) com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em Washington. De acordo com o venezuelano, a Casa Branca demonstrou apoio para a troca do governo de Caracas. Antes do encontro, o ex-embaixador publicou um vídeo pedindo que os militares do país “garantam a soberania e a vontade popular”.
Após o encontro na sede do governo estadunidense, Edmundo González deu uma declaração à imprensa. Ele não estava acompanhado de Biden e falou sozinho durante dois minutos. Segundo o opositor, o governo dos EUA está comprometido com a “recuperação da democracia na Venezuela”.
“Esse é um compromisso que vamos seguir até o último dia do presidente Biden aqui em Washington. A equipe de Biden não vai conosco para a Venezuela, mas nos acompanha de coração na nossa volta para Caracas”, disse o opositor.
O mandato de Biden, no entanto, termina em menos de duas semanas e o republicano Donald Trump assumirá o lugar nos próximos quatro anos. Ainda de acordo com o ex-embaixador, a equipe da coalizão de extrema direita Plataforma Unitária está em contato com a equipe de Trump “há muito tempo” para manter uma relação próxima quando o republicano estiver na Casa Branca.
Edmundo citou ainda que a intenção é retomar uma política de três partidos no país, “como mantivemos desde o começo”. Ele se refere à manutenção durante 50 anos do Pacto Punto Fijo, assinado entre as siglas Copei, Ação Democrática e União Republicana Democrática depois da queda da ditadura de Marco Pérez Jiménez em 1958.
Ainda nesta segunda, Edmundo tinha prevista uma visita à sede da Organização dos Estados Americanos (OEA), também em Washington. O encontro, no entanto, foi cancelado por uma nevasca que caiu sobre a capital estadunidense. O opositor se reuniu em outro espaço com o secretário-geral da organização, Luis Almagro. No encontro, ele entregou a cópia de uma ata eleitoral emoldurada para Almagro.
A viagem aos Estados Unidos foi realizada depois de um final de semana em que Edmundo teve encontros com os presidentes do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e da Argentina, Javier Milei. Nas duas reuniões, o opositor venezuelano de extrema direita voltou a reforçar a intenção de estar em Caracas em 10 de janeiro para tomar posse: “Por qualquer meio, vou estar lá”.
O opositor ainda terá viagens à República Dominicana e ao Panamá antes da posse de Maduro. Seu grupo, liderado pela ultraliberal María Corina Machado, questiona a vitória do chavista em 28 de julho e afirma, sem apresentar provas, ter recolhido 85,18% das atas eleitorais da Venezuela. Segundo a contagem do grupo, esses resultados dariam a vitória à Edmundo González com 67% dos votos válidos.
A oposição, no entanto, demorou mais de cinco meses para consolidar esses dados e chegou a esta soma apenas no último sábado (4).
A Justiça da Venezuela validou a vitória de Nicolás Maduro depois da judicialização do processo. Parte da oposição questiona o resultado e se apoia na lacuna deixada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Depois de validar o resultado, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) deu 30 dias para o órgão eleitoral publicar os resultados desagregados. O CNE, no entanto, não publicou até agora os dados detalhados por mesa de votação e afirmou que o atraso ocorreu por um ataque hacker. O site segue fora do ar mais de três meses depois do pleito.
Ajuda dos militares?
Antes da reunião com Biden, Edmundo publicou um vídeo voltado às Forças Armadas da Venezuela nas redes sociais, afirmando que os militares vão ajudar a enfrentar “os desafios que enfrentamos como nação”. De acordo com o opositor, ele vai assumir a presidência em 10 de janeiro.
“Nossa força Armada nacional está convocada a garantir a soberania e o respeito à vontade popular. É o nosso dever atuar com honra, mérito e consciência, guiados por valores que nos unem como instituição fundamental da República. Muitos de vocês manifestaram o desejo de mudança dessa cúpula que não garante a estabilidade da Venezuela. A partir de 10 de janeiro devemos atuar com determinação e unidade para proteger nossa Venezuela”, disse o opositor.
A alta cúpula militar respondeu o vídeo de Edmundo González e rechaçou qualquer “tentativa de ação fascista” e chamou o ex-candidato de “covarde”.
“Ele se dirige às FANB como se isso fosse algo vazio e não entende que é uma instituição que deve à pátria, que não obedece desígnios e mandatos de outros poderes imperiais. É uma força independente. Não poderão com a força institucional!”, disse o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López.
Em comunicado, as Forças Armadas dizem que os Estados Unidos “financiam e manobram” a extrema direita venezuelana. O texto também afirma que esse grupo opositor pede de maneira “cínica” a paz e a tranquilidade, mas, ao mesmo tempo, pedem sanções contra a Venezuela.
Essa é a segunda vez, desde as eleições da Venezuela, que a Plataforma Unitária pede que as Forças Armadas ajudem na tentativa de derrubada do governo. Em agosto, logo após o pleito, Edmundo González e María Corina assinaram uma carta pedindo que militares do país “desobedeçam ordens” e “respeitem o resultado das eleições”. O documento ainda proclama o opositor como “presidente eleito”.
Edição: Leandro Melito