O que é necessário para um pedaço de tecido, espuma e borracha se transformar em um par de tênis e chegar até os pés dos consumidores?
Grosseiramente falando, a matéria-prima precisa ser cortada, colada, prensada e embalada em uma fábrica até virar o produto final. Dali, os calçados partem para os canais de distribuição (lojas, geralmente), a fim de serem comercializados e entregues ao consumidor.
Acertar em todas as etapas é o objetivo de qualquer fabricante de material esportivo. Errar em apenas uma delas já é suficiente para transformar um sucesso potencial em decepção.
Nos últimos anos, a Olympikus – linha esportiva 100% nacional da Vulcabras – concentrou suas energias na primeira parte da equação. A marca era vista como uma espécie de patinho feio dos calçados esportivos. O foco era conquistar o consumidor pelo bolso, e não pelos pés.
Deve-se registrar que o movimento não ficou restrito à Olympikus. Desde 2018, a Vulcabras inteira mudou. Repassou para a Grendene a Azalea, voltada para a moda feminina. Em paralelo, licenciou com exclusividade a marca de material esportivo Under Armour. Em 2020, foi a vez de assumir a produção nacional da japonesa Mizuno.
Definido o DNA esportivo da companhia, a Vulcabras acelerou os investimentos em pesquisa e tecnologia, o que levou a uma reformulação de toda a linha de tênis para corrida da Olympikus: o decano dessa transformação, o modelo Corre 3, está entrando apenas no seu terceiro ano de existência.
Depois chegaram Corre Grafeno, Corre Vento e, mais recentemente, o Corre Trilha. Todos fazem parte de um movimento ainda em curso, mas que já vem colhendo frutos.
A melhora da qualidade dos produtos traduziu-se em vendas. Segundo o mais recente relatório financeiro para investidores divulgado pela Vulcabras, o número de calçados esportivos produzidos pela empresa passou de 17,5 milhões em 2021 para 19,9 milhões de 2022 – um incremento de 13,5%. O segmento de calçados esportivos já responde por quase 65% de toda a produção da Vulcabras (que inclui Under Armor e Mizuno). Embora a empresa não divulgue oficialmente a quebra dos dados por marca, estima-se que Olympikus responda por aproximadamente metade desses números.
O mercado tem avaliado positivamente essa transformação. Em 12 meses, as ações da empresa tiveram alta de 11,5%. No mesmo período, o principal índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) ficou negativo em 7,5%.
Da fábrica para os pés
Produzir tênis competitivos em um mercado onde há cada vez mais opções para os consumidores é fundamental, mas explica apenas parcialmente os bons resultados. Outra parte da equação – e que a Olympikus vê como um dos seus diferenciais – é a capacidade de garantir que o estoque de tênis durante todo o ano.
A esmagadora maioria dos tênis de corrida de alto desempenho vendidos no Brasil são importados. Ainda que muitas empresas de material esportivo contem com produção nacional, ela costuma se restringir aos modelos de entrada. Os mais caros invariavelmente são importados. Entre as principais marcas disponíveis no mercado, apenas Fila e Olympikus produzem 100% dos seus tênis no Brasil.
A logística para abastecer o mercado com calçados vindos do exterior é desafiadora, para dizer o mínimo. Se há pedidos em exagero, o modelo arrisca encalhar e ser vendido com grandes descontos meses depois, na troca da coleção. Se o pedido subestima a demanda, vendas se perdem e os consumidores eventualmente migram para marcas concorrentes.
Para ser mais assertivo nas encomendas, os fabricantes apresentam seus modelos com até um ano de antecedência para grandes varejistas, que fazem uma avaliação e estimam uma encomenda inicial do calçado. Toda essa antecipação se justifica. O prazo entre o lojista fazer um pedido, ele ser repassado para a área de importação e o tênis finalmente chegar aos pés do corredor pode levar meses.
E aí a Olympikus enxerga o seu diferencial. “Enquanto nossos concorrentes dependem de importações que podem levar meses, a Olympikus consegue, em poucas semanas, receber um pedido grande e entregar em qualquer lugar do Brasil”, afirma Márcio Callage, CMO da Vulcabras.
Para mostrar como o processo acontece na prática, a empresa convidou jornalistas e influenciadores para visitar a sua principal fábrica em Horizonte (CE), a pouco mais de uma hora da capital Fortaleza, onde trabalham aproximadamente 11 mil pessoas em três turnos.
A produção de calçados esportivos, a despeito de toda a tecnologia envolvida, ainda é bastante manual. Isso significa haver pessoas na linha de produção focadas exclusivamente em passar cola no solado do tênis, e outras que passam o dia colocando cadarço nos tênis. Segundo a Olympikus, cada tênis passa por 120 pessoas antes de ser embalado. Multiplique isso por 50 mil, número estimado de pares fabricados diariamente em Horizonte, e você terá uma ideia do tamanho da operação.
Ainda que modelos antigos ainda possam ser vistos nos corredores das fábricas, aos poucos a linha de produção começa a se voltar para os novos modelos, que chegam às lojas em meados deste mês.
Na linha Corre, são três atualizações e um lançamento. O Corre 3 (R$ 499) mudou pouco em relação ao modelo anterior. Ganhou novas cores, uma palmilha furada para melhorar a drenagem da umidade dos pés e teve ajustes no material do cabedal. O Corre Vento 2 (R$ 449) ficou ainda mais leve, e pesa apenas 168 gramas, cinco a menos que a versão anterior. O modelo com alterações mais significativas foi o Corre Grafeno 2 (R$ 799). A segunda versão do tênis de performance traz uma placa de grafeno mais grossa para garantir melhor retorno de energia em provas mais longas, além de solado com borracha Michelin.
A Olympikus também apresentou o Corre Trilha, primeiro tênis da linha para provas offroad. Ele lembra uma versão mais estruturada do Corre 3, com reforço na biqueira e borracha Vibram. Seu preço de estreia é R$ 599.
O jornalista viajou para Horizonte (CE) a convite da Vulcabras.