O partido do governo: o PSD é o novo PMDB? – 22/12/2024 – Marcus Melo


O PSD é o grande vencedor das eleições municipais, tendo eleito o maior número de prefeitos e vereadores. Mais importante é que este número é o melhor preditor das eleições para a Câmara em 2026, onde o partido já detém a quarta maior bancada. No Senado, o PSD possui a maior bancada. O PSD é o novo PMDB?

O velho PSD getulista e o novo PSD têm pouco em comum; mas o que têm em comum merece ser ressaltado, que é o peso do governo do dia em sua criação.

Em Minas Gerais, o estado em que veio a ser o esteio do partido, o processo é cristalino e vertical: o PSD foi criado por ordem do governador. “O processo adotado para a organização do eleitorado em facção foi o expediente clássico de fundar o ‘Partido do Governo’, no qual os altos funcionários ocupassem os postos de destaque”. Orlando de Carvalho (1946) continua: o governador expediu uma mensagem aos prefeitos “ordenando-lhes que convidassem entre 5 a 10 pessoas de influência política no município para, em sua companhia, virem a Belo Horizonte tomar parte em uma reunião destinada a lançar as bases do PSD“.

O PSD de Gilberto Kassab foi menos vertical e mais autônomo. Dilma Rousseff cortejou Kassab e Kassab afirmou: “Estamos à disposição para ajudá-la. Queremos que seu governo dê certo. É importante para o Brasil”. Kassab protagonizara disputas ferozes para a prefeitura e Senado contra o PT.

Mas Dilma buscou reduzir sua dependência do PMDB e, por isso, incentivou a criação não só do PSD mas também, depois, a recriação do PL, envolvendo o próprio Kassab —em 2006, o PL e o Prona haviam sido fundidos no PR, e a sigla PL atualmente surgiu da mudança de nome do PRB em 2019. Kassab, então, é nomeado ministro de Dilma, afinal seu partido “não era de direita, nem de esquerda, nem tampouco de centro”.

A criação de “um partido falso”, segundo Eduardo Cunha, tinha um propósito. “Foi contra a gente mesmo, contra o PMDB.” “Ela tinha a estrutura e não precisava implodi-la. A leitura que foi feita quando veio aquela operação Tabajara, do Kassab, era que não podia dar certo. Kassab virou formador de partido.” O impeachment foi produto, entre outras coisas, desse movimento. Mas o partido deu certo.

Mais importante, “Kassab foi ajudado por todo mundo para fazer aquilo”. O principal aliado foi o TSE, que permitiu que um partido novo tivesse acesso ao fundo partidário proporcionalmente ao número de seus deputados mesmo tendo sido eleitos por outros partidos. A inovação anômala, que teve voto crítico a favor de Dias Toffoli, foi o entendimento de que o fundo não pertencia aos partidos, mas a seus membros.

Executivo e TSE alinharam-se, portanto, para viabilizar o novo “partido do governo”.

Ao contrário do velho PSD, o novo se insere em quadro de intensa fragmentação partidária. Partidos congressualmente fortes e críticos para a governabilidade tipicamente não têm candidatos presidenciáveis. O PMDB é paradigmático. O PSD agora, no entanto, tem candidatos viáveis que podem atrair para a sigla.


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