Simuladores avançados permitem que os médicos pratiquem cirurgias em ambientes virtuais, equipados com óculos de realidade virtual e sensores de movimento
Você já se perguntou como os cirurgiões se preparam para realizar procedimentos complexos, como uma prótese do quadril? O caminho até se tornar um expert é longo, mas as novas tecnologias têm tornado o aprendizado mais seguro e eficiente.
O início da formação
Antes de tudo, um cirurgião ortopédico passa por anos de estudo, começando com os seis anos da faculdade de medicina, seguidos de três anos de residência médica em ortopedia e, finalmente, mais um ano de aperfeiçoamento em cirurgia do quadril.
O aprendizado cirúrgico prático envolve observar procedimentos realizados por especialistas experientes e, aos poucos, realizar intervenções supervisionadas em pacientes reais. Historicamente, esse método se resumia em um aforismo jocoso, que é de arrepiar os cabelos: “Ver um, fazer um, ensinar um”. Embora ainda seja um método tradicional e valioso, barreiras éticas, legais e até mesmo econômicas têm paulatinamente tornado esse modelo cada vez mais restrito ao redor do mundo.
Simulação cirúrgica: do básico ao avançado
O uso de cadáveres para treinamento cirúrgico é uma prática consolidada, permitindo que os médicos pratiquem técnicas em um ambiente controlado e fidedigno, sem risco algum para pacientes reais. Porém, esse método tem suas limitações, como a burocracia, o alto custo e a necessidade de uma complexa infraestrutura.
Nos últimos anos, simuladores de alta tecnologia têm ganhado espaço na formação médica. Existem desde modelos anatômicos simples, feitos de silicone, até simuladores digitais ultrarrealistas. Os simuladores avançados permitem que os médicos pratiquem cirurgias em ambientes virtuais. Equipados com óculos de realidade virtual e sensores de movimento, esses dispositivos reproduzem fielmente a anatomia humana e oferecem feedback háptico em tempo real, ou seja, a sensação de resistência dos tecidos e reações a movimentos inadequados. Esse tipo de tecnologia reduz a dependência de pacientes reais para o aprendizado inicial e minimiza riscos associados ao treinamento, mas é bastante custosa. Outro avanço interessante é a integração de robôs e inteligência artificial no ensino. Sistemas robóticos avançados também servem como ferramentas de treinamento, permitindo que os médicos simulem o uso de robótica em um ambiente seguro antes de aplicá-lo em um paciente real.
De modo geral, entende-se que o treinamento ideal deve se iniciar com o ensino teórico, evoluindo então para a prática gradual em simuladores de complexidade crescente (baixa até alta), depois em cadáveres e só, finalmente, em pacientes reais sob supervisão de especialistas mais experientes.
A Sociedade Brasileira do Quadril
No Brasil, a Sociedade Brasileira do Quadril (SBQ) desempenha um papel essencial na formação e na atualização dos cirurgiões desta área. A SBQ tem uma rede de centros de treinamento cadastrados e, além disso, oferece cursos, congressos e workshops que conectam médicos em diferentes estágios de carreira. A SBQ também certifica seus novos membros através de uma avaliação teórico-prática e incentiva o aprendizado contínuo, permitindo que seus associados tenham acesso a conteúdos atualizados e a técnicas inovadoras. Isso garante que os cirurgiões brasileiros estejam sempre alinhados às melhores práticas globais.
Um futuro promissor
Com todas essas ferramentas, o treinamento em cirurgia se torna cada vez mais seguro e eficiente. Para os pacientes, isso significa profissionais mais bem preparados e procedimentos com maior precisão. Para os médicos, representa uma formação mais rica, que alia o melhor das técnicas tradicionais às inovações tecnológicas.
Dr. Thiago S. Busato – CRM/PR 20484
Ortopedista
Membro do Corpo Editorial do The Journal of Arthroplasty
Diretor Científico da Sociedade Brasileira do Quadril