Nos anos 1980, Mike Tyson não era só um pugilista feroz e multicampeão, era também uma atração midiática. Muita gente parava diante da TV esperando horas a fio para vê-lo em ação por poucos minutos —tempo que ele demorava para nocautear o infeliz oponente, quase sempre com a deliciosa narração de Luciano do Valle.
Oitocentos anos depois, este humilde escriba se viu diante da televisão esperando mais uma vez para ver uma luta de Tyson. Mas não era bem esporte, era uma luta de celebridades. E não era na Band, era na Netflix, portanto, pude dormir tranquilamente e ver o pseudoduelo no dia seguinte, com o dedo no acelerador do controle remoto.
Fiquei na dúvida se encontraria as notícias relacionadas ao tal combate na editoria de Esportes ou no F5, site de notícias de celebridades da Folha —seria mais justo no F5, imagino. Afinal, era o combate de um youtuber de 27 anos contra um homem de 58 anos.
E por que se submeter ao espetáculo grotesco? Dinheiro, claro. As lutas de celebridades hoje em dia dão muito mais visibilidade e atraem mais patrocinadores do que os combates peso pena, mosca ou pesado. Pela brincadeira de sábado, Jake Paul faturou cerca de US$ 40 milhões; Tyson, US$ 20 milhões, nada mal.
No maravilhoso mundo dos streamings, o esporte, quem diria, tornou-se um personagem tão ou mais importante que filmes e séries. Quantas vezes alguém vai querer repetir “Game of Thrones” ou “Round 6”?
Já com o jogo do seu campeonato favorito, ou da Champions League, é diversão garantida todo ano, sempre com novos episódios.
E a gigante Netflix saiu atrás dos coleguinhas Max (dona da Champions), Amazon Prime Video (exibe jogos da NBA) e Disney (que inclui toda a programação da ESPN). Sem mencionar a Globo/Globoplay, ainda dona dos principais campeonatos nacionais, não só de futebol.
Assim, a rede está atirando para todo lado, incluindo luta de celebridades. Para o ano que vem, a empresa já anunciou investimento de US$ 5 bilhões (isso mesmo) para ter direito a uma noite semanal da WWE, o que os antigos (eu) chamavam de telequete.
É um programa perfeito, pois mistura reality show, acrobacias arriscadas, disputas por títulos e muito drama —sempre o mocinho pega o microfone, conta uma história, é interrompido por um vilão e eles terminam se estapeando no ringue, com luta jurada para a semana seguinte.
Não à toa, muitos astros da WWE vão parar em Hollywood. Dave Bautista, o fortão de “Guardiões das Galáxias” e “Duna”, por exemplo, saiu de lá. O grande ator-WWE do momento é Dwayne Johnson, que também atende pela alcunha The Rock.
Protagonista e coprodutor dos dois recentes “Jumanji” e de “Alerta Vermelho” (da Netflix), The Rock curiosamente voltou a frequentar os ringues e criar dramas-revanches com lutadores atuais. Tudo depois da compra da Netflix. Coincidência?
Enquanto a WWE não chega, a plataforma de streaming já deu um outro tiro com cara de certeiro: comprou os direitos para uma transmissão natalina da NFL, o futebol americano —finalmente, um esporte de verdade, e de alcance cada vez mais universal.
Um dia depois da pseudoluta de Mike Tyson, Beyoncé já estava dominando os assuntos mais comentados do ex-Twitter. Motivo? A Netflix anunciou a rainha pop como a atração do show do intervalo do tal jogo natalino. Ué, mas jogo de Natal tem show de intervalo? Pagando bem, que mal tem.
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