O chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS) disse nesta sexta-feira (27) que não tinha certeza se sobreviveria a um ataque aéreo israelense no principal aeroporto do Iêmen.
Falando após a ação no Aeroporto Internacional de Sanaa na quinta-feira, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que as explosões que abalaram o edifício foram tão ensurdecedoras que seus ouvidos ainda estavam sentindo os estrondos.
Tedros disse que rapidamente ficou evidente que o aeroporto estava sob ataque e disse que pessoas “correram para todos os lados” após aproximadamente quatro explosões, uma delas “alarmante” perto de onde ele estava sentado na sala de embarque.
“Eu não tinha certeza se poderia sobreviver porque estava tão perto, a poucos metros de onde estávamos”, disse ele à Reuters. “Um pequeno desvio poderia ter resultado em um tiro direto”, complementou.
Tedros disse que ele e seus colegas ficaram presos no aeroporto na hora seguinte ao ataque. Ele relata que ouviu o que seriam drones voando sobre o aeroporto, alimentando a preocupação de que eles poderiam abrir fogo novamente. Entre os destroços, ele e os colegas viram fragmentos de mísseis, disse.
“Não havia nenhum abrigo. Nada. Então você está apenas exposto, esperando que algo aconteça”, disse ele.
Os ataques israelenses no Iêmen vieram depois que os Houthis – grupo do Iêmen apoiado pelo Irã – dispararam repetidamente drones e mísseis em direção a Israel, no que eles descrevem como atos de solidariedade aos palestinos em Gaza.
Após o ataque, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse que Israel estava “apenas começando” com os houthis.
A Agência de Notícias Saba, controlada pelos Houthis, disse que três pessoas morreram nos ataques no aeroporto e três foram mortas em Hodeidah, com outros 40 feridos.
Falando por telefone da Jordânia, Tedros disse que não recebeu nenhum aviso de que Israel poderia estar prestes a atacar o aeroporto. O chefe da OMS está na Jordânia acompanhando um colega da ONU que foi ferido no ataque e está internado no hospital.
O homem ferido, que trabalhava para o Serviço Aéreo Humanitário da ONU, está “bem” e em uma condição estável, disse ele.
Tedros viajou para o Iêmen durante o Natal para tentar negociar a libertação do pessoal da ONU e outros detidos. Ele reconheceu que ele e seus colegas sabiam que a viagem era arriscada diante da alta tensão entre Israel e os Houthis.
Mas essa foi a janela de oportunidade para trabalhar pela libertação do pessoal da ONU, disse Tedros.
Ele disse que as negociações com as autoridades iemenitas foram bem sucedidas e que via uma chance dos 16 funcionários da ONU, assim como funcionários das missões diplomáticas e trabalhadores de ONGs serem liberados.
Ele se recusou apontar responsáveis pelo ataque, mas disse que seu itinerário tinha sido compartilhado publicamente e expressou surpresa ao ver que uma infraestrutura civil foi alvo.
“Então um aeroporto civil deve ser protegido, esteja eu nele ou não,” disse ele, antes de observar que não havia “nada especial” sobre o que ele tinha enfrentado no Iêmen. “Um dos meus colegas disse que escapamos por pouco da morte. Sou apenas um ser humano. Então eu sinto por aqueles que estão enfrentando a mesma coisa todos os dias. Mas pelo menos me permitiu sentir da maneira que eles se sentem”, refletiu.
“Estou preocupado com o nosso mundo, para onde ele está indo”, acrescentou Tedros, instando os líderes mundiais a trabalharem juntos para acabar com os conflitos globais. “Eu nunca… até onde me lembro, vi o mundo realmente estar em um estado tão perigoso”, finalizou.
Entenda os conflitos envolvendo Israel
No final de novembro, foi aprovado um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah. Isso acontece após meses de bombardeios do Exército israelense no Líbano.
A ofensiva causou destruição e obrigou mais de um milhão de pessoas a saírem de casa para fugir da guerra. Além disso, deixou dezenas de mortos no território libanês.
Assim como o Hamas, o Hezbollah e a Jihad Islâmica são grupos radicais financiados pelo Irã, e, portanto, inimigos de Israel.
A expectativa é que o acordo sirva de base para uma cessação das hostilidades mais duradoura.
Ao mesmo tempo, a guerra continua na Faixa de Gaza, onde militares israelenses combatem o Hamas e procuram por reféns que foram sequestrados há mais de um ano durante o ataque do grupo radical no território israelense no dia 7 de outubro de 2023. Na ocasião, mais de 1.200 pessoas foram mortas e 250 sequestradas.
Desde então, mais de 43 mil palestinos morreram em Gaza durante a ofensiva de Israel, que também destruiu praticamente todos os prédios no território palestino.
Em uma terceira frente de conflito, Israel e Irã trocaram ataques, que apesar de terem elevado a tensão, não evoluíram para uma guerra total.Além disso, o Exército de Israel tem feito bombardeios em alvos de milícias aliadas ao Irã na Síria, no Iêmen e no Iraque.