Análise divulgada pelo governo federal indica que não houve contaminação de ácido sulfúrico nem de agrotóxicos no rio Tocantins após a queda da ponte Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que conectava os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), no domingo (22).
O estudo conduzido pela Agência Nacional das Águas (ANA) foi realizado dois dias após a tragédia, na terça-feira (24) e analisou quatro pontos do afluente. Os dados revelam que mesmo antes da queda da ponte, o rio já estava contaminado com agrotóxicos, embora dentro dos parâmetros permitidos pelo Ministério da Saúde, o que é contestado por especialistas que lembram que em outros países os índices permitidos aqui não seriam aceitáveis.
O monitoramento foi realizado por técnicos da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão (Sema/MA), com amostras da água, analisadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Desde a semana passada havia um temor de uma contaminação, ameaçando a saúde da população que consome direta e indiretamente as água do rio e também a vida marinha de toda a região.
Dez pessoas morreram e sete seguem desaparecidas, segundo um novo balanço divulgado nesta sexta-feira (27).
Com o desabamento da ponte, três caminhões carregados com 25,2 mil litros de agrotóxicos e 76 toneladas ácido sulfúrico caíram no rio Tocantins. Um dos pesticidas que estava sendo transportado era o 2,4-D, permitido no Brasil, mas proibido em diversos países ao redor do mundo, incluindo toda União Europeia.
Ele é o mesmo usado como componente do chamado “agente laranja”, um desfolhante químico altamente tóxico que também foi usado pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. A arma química era usada pelas tropas estadunidenses para desmatar florestas e impedir que soldados vietnamitas se escondessem na vegetação.
Situação já era preocupante
Segundo o estudo da ANA, esta substância foi uma das poucas encontradas acima do nível esperado, no entanto, ainda dentro de um parâmetro de segurança pelas definições do Ministério da Saúde, nível contestado por alguns especialistas que o consideram muito permissivo.
A análise detectou uma concentração de 0,2 microgramas por litro (µg/L), sendo que o valor máximo permitido é de 30µg/L para esse herbicida. O que significa que o 2,4-D estava 150 vezes abaixo do máximo permitido pela norma do governo federal.
“A gente só faz, sempre, um questionamento: se fosse os europeus, a água seria imprópria para consumo pois está acima de 0,1 ug/L. Mas somos brasileiros e daí tudo bem”, afirma ao Brasil de Fato Danilo Rheinheimer dos Santos, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e referência na análise de agrotóxicos em água.
“Os dados mostram claramente que a água do rio não foi contaminada pelos tanques”, diz o professor denunciando que mesmo sem o vazamento que se temia, a região está contaminada por conta da atividade agrícola presente.
Alerta segue
O próprio governo federal reconheceu na nota divulgada que há uma contaminação no rio Tocantins por conta da presença do agronegócio na região.
“Essa concentração de 2,4-D é considerada normal em rios que atravessam áreas agrícolas, como o rio Tocantins, e, por isso, não foram encontrados indícios de contaminação da água por defensivos agrícolas decorrente do acidente na Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira”, diz o comunicado.
Ainda segundo o governo “o monitoramento permanecerá sendo feito diariamente e os resultados serão divulgados com a maior agilidade possível”.
Autoridades alertam também que “caso a população que vive no trecho do rio Tocantins abaixo do ponto do acidente encontre defensivos agrícolas na água ou nas margens do rio, é necessário acionar a Sema/MA, a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Tocantins (Semarh/TO) ou as defesas civis do Maranhão ou de Tocantins.”
Edição: Rodrigo Durão Coelho