O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) criticou nesta quinta-feira (23) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por insinuar de ser “armação” o plano do PCC (Primeiro Comando da Capital) para cometer um ataque contra ele.
“O senhor não tem decência? O senhor não tem vergonha com esse seu comportamento? O senhor não respeita a liturgia do cargo? O senhor não respeita o sofrimento de uma família inocente?”, afirmou Moro em entrevista à CNN Brasil.
Mais cedo, Lula afirmou que achava que o plano do PCC poderia ser uma armação de Moro, mas que não tinha provas disso.
“Eu não vou falar porque acho que é mais uma armação do Moro. Quero ser cauteloso, vou descobrir o que aconteceu. Mas é visível que é uma armação do Moro”, disse Lula, que ainda disse desconfiar da atuação da juíza Gabriela Hardt no caso.
“Mas isso vou esperar. Não vou ficar atacando ninguém sem ter provas. Acho que é mais uma armação. E se for mais uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda. Não sei o que ele vai fazer da vida se continuar mentindo do jeito que ele está mentindo”, completou.
Na terça (21), Lula afirmou que, quando preso em Curitiba, ficava pensando em maneiras de “foder” com a vida de Moro.
O hoje senador era o juiz da força-tarefa da Lava Jato que, em abril de 2018, determinou a prisão de Lula, que pretendia concorrer à Presidência nas eleições daquele ano contra Jair Bolsonaro (PL), que venceu o pleito. A condenação acabou anulada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2021.
O ex-juiz virou ministro da Justiça de Bolsonaro e depois, em 2019, investigação do site The Intercept revelou mensagens trocadas entre ele e o então procurador do caso, deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), que mostram que os dois trocavam colaborações e dividiam informações sobre o caso de Lula ainda durante as investigações.
Ainda na tarde desta quinta, Moro negou que o caso se trata de uma armação de sua parte e divulgou vídeos afirmando que soube do plano do PCC contra ele e sua família no final de janeiro, por meio do Ministério Público de São Paulo.
“Se algo acontecer com minha família, a responsabilidade é desse presidente, que deu risada”, afirmou o senador. “Se o presidente não tem nenhum apreço por mim, pela vida humana, peço pelo menos que respeite a minha família”.
Por outro lado, opositores do governo tentaram associar o plano do PCC a Lula pela fala anterior sobre “foder” o ex-juiz.
Bolsonaro, sem indícios nem provas, buscou ainda relacionar a ação da PF (Polícia Federal) nesta quarta à facada que sofreu em Juiz de Fora (MG), em 2018, e ao assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel, em 2002.
“Em 2002 Celso Daniel, em 2018 Jair Bolsonaro e agora Sergio Moro. Tudo não pode ser só coincidência. O Poder absoluto a qualquer preço sempre foi o objetivo da esquerda”, escreveu nas redes sociais.
Segundo o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que coordena o principal grupo do Ministério Público contra o crime organizado, Moro estaria na mira do PCC por ter impedido visitas íntimas em presídios.
O plano do PCC foi desarticulado pela PF na manhã de quarta-feira. A organização não mirava apenas Moro, mas sim uma série de autoridades, inclusive Gakiya.
Como mostrou a Folha, o procurador está no topo de uma lista de sentenciados à morte pela facção, os chamados “decretados”, segundo os serviços de inteligência do Governo de São Paulo.
A ação da PF foi batizada de Sequaz e, diz a PF, tem por objetivo desarticular o grupo que “pretendia realizar ataques contra servidores públicos e autoridades, incluindo homicídios e extorsão mediante sequestro, em pelo menos cinco unidades da federação”.
Foram cumpridos 24 mandados de busca e apreensão, sete mandados de prisão preventiva e quatro mandados de prisão temporária em Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Paraná.
Durante a operação, a PF encontrou esconderijos de criminosos em um dos endereços alvo —a cidade onde isso ocorreu não foi revelada pela corporação.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse nesta quarta que a PF encontrou também evidências da montagem de bunkers no Paraná para sequestrar ou guardar armas para preparar o assassinato de Moro.
“Investigação essa que é tão séria que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador de oposição ao nosso governo. Não se pode pegar isoladamente uma declaração de ontem, ontem literalmente, e vincular a uma investigação que tem meses”, completou o ministro.
Como ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL), Moro atuou na transferência de vários chefes do PCC, entre eles Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, para o sistema penitenciário federal.
O principal chefe do PCC foi transferido do sistema penitenciário estadual de São Paulo para a penitenciária federal em Brasília em fevereiro de 2019. Meses depois, seguiu para uma unidade federal em Rondônia e depois retornou para a capital federal.
Além dele, outros 21 integrantes da cúpula da facção foram transportados naquele momento em um avião das Forças Armadas a partir do aeroporto da vizinha Presidente Prudente (SP) para a transferência.
Os ataques contra Moro e outras autoridades, segundo a apuração, ocorreriam de forma simultânea, e os principais alvos estavam em São Paulo e no Paraná. Em São Paulo, o alvo era o promotor Lincoln Gakiya, que atua há anos em investigações sobre a atuação do PCC.
Em agosto de 2022, a PF chegou a cumprir mandados de prisão e buscas e apreensão numa investigação sobre um plano para resgatar chefes do PCC de presídios federais de segurança máxima.
Na ocasião, a polícia já apontava a suspeita de um plano para sequestrar autoridades e desenvolver outras ações para conseguir a soltura de chefes da facção.