O senador, ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil-PR) respondeu às falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que relembrou nesta terça-feira (21) o período em que esteve preso em Curitiba e disse que, na época, pensava em vingança.
Lula afirmou em entrevista ao portal Brasil 247 que os métodos da Operação Lava Jato (caso que à época era julgado por Moro) levavam as pessoas a delatarem, porque não aguentavam a pressão.
“De vez em quando ia um procurador, entrava lá de sábado, dia de semana, para perguntar se estava tudo bem. Entravam três ou quatro procuradores e perguntavam: ‘está tudo bem?’ ‘[Eu respondia:] não está tudo bem. Só vai estar tudo bem quando eu foder esse Moro. Vocês cortam a palavra ‘foder'”, afirmou o presidente na entrevista.
Depois, em entrevista à CNN Brasil, Moro respondeu. “Minha interpretação é que o presidente está se vingando da população brasileira, porque o governo não tem apresentado resultados”, disse.
“O presidente já chamou agricultores de fascistas, disse que não confiava nos militares, fez uma fala absurda sobre livros de economia que teriam sido superados”, acrescentou.
Moro voltou ao assunto no plenário do Senado. “Se fosse vingança contra mim apenas, seria algo até aceitável”, afirmou na sessão desta terça, ao receber a solidariedade de colegas da oposição, como os senadores Eduardo Girão (Novo-CE) e Cleitinho (Republicanos-MG).
Moro foi quem determinou a prisão de Lula em 2018, quando este se posicionava como candidato à Presidência nas eleições daquele ano, contra Jair Bolsonaro (PL). O ex-juiz julgou os casos da Lava Jato até virar ministro da Justiça, a convite de Bolsonaro.
Depois, investigação do site The Intercept revelou mensagens trocadas entre ele e o então procurador do caso, deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), que mostram que os dois trocavam colaborações e dividiam informações sobre o caso de Lula ainda durante as investigações.
Filho mais velho de Bolsonaro, Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também endossou as críticas a Lula na sessão desta terça. O senador disse que o pai vai voltar ao Brasil “muito em breve” para ajudar a bancada e “defender a democracia”.
“Nós não vamos permitir que usem os instrumentos democráticos para destruir a democracia, porque o que nós vimos foi um grande estelionato eleitoral. O Lula prometendo coisas, nós alertamos que eram mentiras, e agora a população está percebendo”, disse.
“Cadê o discurso do amor? O que nós vemos é o ódio. Um presidente dizendo que não vai descansar enquanto não foder um senador”, completou, pedindo à taquigrafia do Senado para que retirasse o palavrão do registro.
Moro deixou o governo rachado com o então presidente, mas os dois se reaproximaram durante a campanha de 2022 e são atualmente aliados. Lula foi preso em 2018 e passou 580 dias na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
O atual presidente se emocionou no momento em que respondia a perguntas sobre o seu período preso em Curitiba. Disse que sentiu muita mágoa e citou as perdas da esposa Marisa Letícia, que morreu em 2017, e do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, que morreu em 2019.
“É engraçado que eu fiquei naquela cadeia lá e foi um momento muito rico da minha vida de resistência. Quantas vezes eu deitava naquela cama e ficava de barriga pra cima olhando o teto”, afirmou o presidente, quando começou a chorar.
O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) também comentou a fala de Luiz Inácio Lula da Silva. O mandatário citou que muitos presos adotavam a delação premiada porque não aguentavam a pressão. Então citou que Aécio não conseguiu aguentar “nem uma capa da revista Veja”.
Ao contrário de Moro, no entanto, Aécio também se pronunciou contra os métodos e linchamentos públicos ocorridos durante as investigações.
“Concordo com o presidente Lula sobre as pressões covardes a que alguns políticos alvos de determinados agentes públicos foram ilegalmente submetidos, através do uso de familiares como instrumento de coação política. O caso da capa da Veja a que o presidente se refere é tão emblemático dessa covardia que até ele se recorda dela”, informou o deputado, por meio de nota.
Aécio acrescenta não haver nenhum documento que sustentasse as acusações e que sua irmã foi falsamente acusada de movimentar uma conta irregular que seria da titularidade do atual deputado, em Nova York.
O parlamentar depois diz que a acusação estaria na delação de um executivo da Odebrecht, sendo que esse funcionário depois desmentiu a versão. “A PGR se manifestou na época dizendo que o nome de minha irmã jamais havia sido citado pelo delator”, afirmou.
“Diferente de inúmeros casos em que o delator inventa o conteúdo de uma delação para obter benefícios, nesse caso a irresponsabilidade foi ainda maior: a própria delação foi inventada! A delação nunca existiu. A acusação, simplesmente, nunca foi feita e, óbvio, a conta também nunca existiu. Ou seja, a revista publicou na capa uma acusação que nunca foi feita por ninguém e que, até hoje, não se sabe de onde partiu”, completou.