A investigação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe em 2022 mostra que militares revelaram insatisfação com a relutância dos comandantes da Aeronáutica, Baptista Junior, e do Exército, Freire Gomes, em aderir ao movimento golpista e planejaram ataques pessoais contra eles em retaliação.
Os ataques teriam ocorrido via redes sociais e também sob a forma de manifestações em frente à casa de Freire Gomes.
A PF afirma que, em 14 de dezembro de 2022, ambos e o almirante Almir Garnier, comandante da Marinha, participaram de uma reunião com o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio de Oliveira, que teria apresentado a eles o decreto golpista.
Baptista Junior teria dito que não admitiria sequer receber o documento e que a Aeronáutica não admitiria um golpe de Estado, antes de deixar a sala. Freire Gomes também teria expressado que “não concordaria com a possibilidade de analisar o conteúdo da minuta”. Garnier, por sua vez, não teria manifestado reação contrária ao conteúdo.
Segundo a investigação, por causa da relutância dos comandantes do Exército e da Aeronáutica em aderirem à trama golpista, outros militares “atuaram, dentro da divisão de tarefas estabelecida pela organização criminosa, para aplicar o modus operandi desenvolvido pela milícia digital, com o objetivo de recrudescer os ataques ao general Freire Gomes e ao brigadeiro Baptista Junior, exatamente após a negativa de aceitar o conteúdo do decreto golpista na reunião ocorrida no Ministério da Defesa no dia 14/12/2022.”
“Os comandantes foram inseridos em uma máquina de amplificação de ataques pessoais –os chamados ‘espantalhos’ –com a finalidade de compeli-los a aceitarem o golpe de Estado”, indica o texto.
Freire Gomes teria recebido mensagens cobrando que aderisse à trama golpista. Uma delas foi enviada pelo coronel da reserva Laercio Vergilio após a tentativa de invasão da sede da PF em 12 de dezembro de 2022.
O relatório traz uma conversa do general Braga Netto com o capitão reformado do Exército Ailton Barros. Nas mensagens, Barros sugere continuar a pressionar Freire Gomes e, caso insistisse em não aderir à trama, “oferecer a cabeça dele aos leões”. Braga Netto teria concordado. No mesmo diálogo, Barros encaminha uma mensagem de texto, seguida de uma imagem que seria uma manifestação em frente à residência do comandante do Exército para pressioná-lo.
Braga Netto, candidato a vice de Jair Bolsonaro (PL) na chapa derrotada em 2022, também enviou mensagens a Barros com orientações para atacar Baptista Junior, a quem chamou de “Traidor da pátria”, e a elogiar Garnier.
“As referidas mensagens vão ao encontro dos elementos de prova obtidos, confirmando que o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier anuiu com o golpe de Estado, colocando suas tropas à disposição do presidente.”
Braga Netto também teria determinado que os ataques fossem direcionados à família de Baptista Junior. O general teria encaminhado a Ailton Barros imagens associando o brigadeiro ao comunismo e ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
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