O dono da empresa de tecnologia Meta, Mark Zuckerberg, anunciou o fim do programa de checagem de fatos da empresa, criado em 2012 para conter a disseminação de desinformação em seus aplicativos de mídia social. A empresa engloba as plataformas Facebook e Instagram, além do aplicativo de mensagens WhatsApp.
Entre as medidas trazidas a público pelo bilionário estadunidense está a substituição dos verificadores de informações por notas de comunidade. Esse recurso permite que correções de informações sejam feitas pelos próprios usuários e usuárias e não mais por iniciativas especializadas.
O sistema é semelhante ao utilizado no X (antigo Twitter), de Elon Musk. No anúncio da decisão, Zuckerberg afirmou que os sistemas construídos para moderar o conteúdo têm “muitos erros e muita censura”.
Ele também destacou que a eleição do extremista de direita, Donald Trump, para a presidência dos Estados Unidos marca um período em que seria possível priorizar a liberdade de expressão.
Zuckerberg criticou governos da Europa e da América Latina que tentam regular o uso das redes sociais, com normas e leis que impedem a propagação de fake news e crimes cibernéticos, por exemplo. Segundo o bilionário, essas leis representam censura.
“Vamos trabalhar com o presidente Trump para resistir a governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas americanas e pressionando por mais censura.”
O empresário – um dos homens mais ricos do mundo – disse que a Europa dificulta a inovação e que países latino-americanos “têm tribunais secretos que podem ordenar que empresas removam conteúdos de forma silenciosa”.
Em tom de reclamação, ele também afirmou: “a China censurou nossos aplicativos, impedindo que eles funcionem no país”. Segundo Zuckerberg, “a única maneira de resistir a essa tendência global é com o apoio do governo dos EUA”.
Urgência para a regulação das redes
O anúncio causou reações imediatas no Brasil e no mundo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a decisão da Meta “preocupa” o governo brasileiro. Haddad destacou que a disseminação de conteúdos falsos nas eleições presidenciais de 2018 e 2022 no Brasil é um sinal de alerta, e que a decisão da Meta pode intensificar esse problema.
Já o advogado-geral da União, Jorge Messias, destacou que a decisão da Meta torna a regulação das redes sociais ainda mais urgente. Ele criticou a falta de transparência nos algoritmos da empresa, que são secretos.
Nas palavras de Messias, a decisão “tende a intensificar a desordem informacional em um ecossistema digital que já enfrenta desafios significativos relacionados à disseminação de fake news e discursos de ódio”.
João Brant, secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, fez uma série de postagens no X criticando a decisão da Meta. Ele pontuou que a empresa se alia a Trump para enfrentar países que buscam proteger direitos no ambiente online.
A pesquisadora, jornalista e ex-deputada federal Manuela D’Ávila (sem partido) também condenou a mudança. Ela argumentou que o anúncio de Zuckerberg demonstra apoio explícito à ideologia de extrema direita. “O que Zuckerberg diz, com todas as letras, é que a liberdade defendida pela extrema direita, as ideias de Trump e Musk, serão as suas. Ideias que ameaçam instituições e democracias. Ideias de violência e tortura. para isso, Zuck operará em parceria com o governo dos Estados Unidos”, disse em suas redes sociais.
No campo conservador, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, comemorou a decisão da Meta e afirmou que ela foi “provavelmente” motivada por suas ameaças contra Zuckerberg. Elon Musk, dono da rede social X, elogiou as mudanças promovidas por Zuckerberg na moderação de conteúdo da Meta, chamando-as de “incríveis”.
No Brasil, parlamentares e políticos bolsonaristas também comemoram o fato, embora ele não tenha aplicação em território nacional inicialmente. Na lista dos que aproveitaram a decisão para defender a liberdade de propagação de ideias extremistas estão os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Lucas Pavanato (PL-SP).
Edição: Nicolau Soares