Em conversas de WhatsApp, almirante Almir Garnier foi chamado de “patriota” que tinha “tanques no arsenal prontos”
O relatório da PF (Polícia Federal), que deixou de ser sigiloso nesta 3ª feira (26.nov.2024) por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, aponta que o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, foi o único entre os chefes das Forças Armadas a se colocar à disposição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para um possível golpe de Estado em 2022.
A investigação detalha que Garnier se ofereceu para mobilizar tropas da Marinha caso Bolsonaro demandasse, enquanto os comandantes da Aeronáutica e do Exército se recusaram a chancelar a operação.
O relatório da PF traz como evidência capturas de tela de mensagens com um contato salvo como “Riva”. Mas mensagens, Riva afirma que Garnier é um “patriota” que tinha “tanques no Arsenal prontos”. Em outra imagem, o interlocutor responde afirmando que o “01” (o então presidente Bolsonaro) deveria ter “rompido” com a Marinha e então o Exército e a Aeronáutica “iriam atrás”.
Em outra parte do relatório, o documento mostra que o coronel Gustavo Gomes afirmou que Bolsonaro foi “abandonado”, em referência às negativas da Aeronáutica e do Exército para o plano de golpe.
“Infelizmente a FAB afrouxou e o EB agora também tá afrouxando […] Somente o MB quer guerra… o PR realmente foi abandonado”, diz o texto.
ENTENDA
- o que aconteceu: o ministro do STF Alexandre de Moraes retirou o sigilo do relatório da Polícia Federal que investiga uma tentativa de golpe de Estado no final de 2022. Também enviou o inquérito à PGR;
- o que é investigado: um grupo aliado a Jair Bolsonaro (PL) que teria tentado impedir a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O plano seria, segundo a PF, matar Lula, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) e o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Alexandre de Moraes. A operação teria a participação de militares e usaria armas de guerra e veneno;
- quais são as dúvidas: quantas pessoas estiveram envolvidas diretamente se o plano foi efetivamente colocado em curso. Leia aqui o que se sabe e quais são as dúvidas sobre o inquérito;
- quem estava envolvido: a investigação, concluída pela corporação na 5ª feira (21.nov), levou ao indiciamento de 37 pessoas. Entre elas, estão:
- Bolsonaro;
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro;
- Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional);
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
- Valdemar Costa Neto, presidente do PL.
- quais os próximos passos: a manifestação sobre uma possível denúncia da PGR deve ficar para 2025, depois do recesso do Judiciário, que termina em 6 de janeiro.
RELATÓRIO DA PF
A Polícia Federal concluiu que núcleos foram agrupados para disseminar a narrativa de fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo da sua realização. A finalidade seria legitimar uma intervenção das Forças Armadas.
Seriam 5 eixos de atuação:
- ataques virtuais a opositores;
- ataques às instituições (STF e TSE), urnas eletrônicas e à higidez do processo eleitoral;
- tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado democrático de direito;
- ataques às vacinas contra a covid e a medidas sanitárias na pandemia; e
- uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens.
O QUE DIZ BOLSONARO
O ex-presidente negou ter conhecimento do esquema para matar Lula ou da tentativa de golpe. Disse que sempre agiu “dentro das 4 linhas de Constituição” e que, nelas, “não há pena de morte”, em referência ao assassinato do petista.
“Vai dar golpe com um general da reserva e 4 oficiais superiores? Pelo amor de Deus. Quem estava coordenando isso? Cadê a tropa? Cadê as Forças Armadas? Não fique botando chifre em cabeça de cavalo”, disse em live transmitida pela página do Instagram do ex-ministro do Turismo Gilson Machado no sábado (23.nov).