Para o brasileiro que se acostumou a acompanhar política como um novelão, fica com cara de reprise mais um ato na avenida Paulista em que bolsonaristas se revezam para chamar Alexandre de Moraes de ditador, com todas as letras ou nas entrelinhas.
Esta nova temporada, contudo, traz uma subtrama suculenta para o público guloso por cortes nas plataformas digitais. Pablo Marçal (PRTB) vai aparecer e ganhar uma salva de palmas? E Ricardo Nunes (MBD), se der as caras ali vai receber uma enxurrada de vaias?
Marçal foi. No fim, mas foi. Chegou depois do discurso de Jair Bolsonaro (PL) e disse que tentou subir no carro de som, mas não deixaram. O pastor Silas Malafaia, que coordenou o ato, o chamou de “safado” e o acusou de querer “vir lacrar em cima de mim”.
Seja como for, Marçal literalmente correu atrás do tempo perdido. Ficou correndo em torno do carro e nos arredores, perto do povo, com sua equipe gravando tudo. Distribuiu high fives, trepou na grade e deixou manifestantes siderados enquanto da caixa de som saía o verso “o Brasil quer o mito, é Bolsonaro”.
Antes da entrada triunfal, a provocação. “A solução pra São Paulo vem ‘do alto’. Olha pra cima que eu tô chegando. Faz o M”, havia publicado junto com um vídeo seu desembarcando de um helicóptero.
Nunes foi também, mas quase ninguém viu. Achar o prefeito no trio virou um “onde está o Wally?” eleitoral. Ele tirou foto com os filhos de Jair Bolsonaro (PL), mas sequer anunciado pelo locutor foi. Não discursou e passou batido para a multidão.
Desconversou sobre a aparição tímida. “Poderiam vaiar quem tem condenação por tirar dinheiro de pessoas humildes”, disse à repórter, conjurando um veredito antigo, em primeira instância, que associou um jovem Marçal a um esquema golpista.
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também buscou diminuir a presença escondida do prefeito. Falou em risco de serem “acusados de propaganda eleitoral” caso colocassem Nunes na linha de frente e contemporizou: “Todo mundo tá vendo ele aqui, tá tirando foto”.
Às vésperas, seu pai disse que talvez fosse cedo para entrar “massivamente” na campanha do emedebista. À Folha Eduardo não deixou de reconhecer o borogodó de Marçal naquele eleitorado: há “certo vácuo neste voto mais de direita”, e “as pessoas têm dificuldade de encontrar alguém em quem se espelhar”.
O deputado Ricardo Salles (Novo-SP), disse, era seu favorito para a Prefeitura paulistana, mas sua candidatura acabou rifada em nome da aliança com Nunes. Salles, aliás, foi exceção ao descer do trio para cumprimentar Marçal, o elefante verde-amarelo na sala bolsonarista.
Resta saber qual papel resta a Bolsonaro neste enredo, se terá vida longa como protagonista ou periga virar uma versão contemporânea do bíblico Saul, rei outrora glorioso, mas que perdeu lugar para Davi, um jovem mais indômito e ungido por Deus.
Marçal, perante o eleitorado cativo do ex-presidente, tem sido bem convincente na verve antissistema e gosta de posar como um herdeiro bastardo do bolsonarismo —taí a aclamação na Paulista que não o deixa mentir.
Já Bolsonaro seria uma versão descafeinada do líder do que foi, rendendo-se aos apelos de Valdemar Costa Neto para abraçar a candidatura de Nunes, insosso demais para o paladar bolsonarista.
A manifestação, de certo parruda em tamanho, renovou o fôlego de Bolsonaro com sua audiência cativa. Agora é esperar os próximos capítulos para ver se a turba reverente a ele vai continuar fazendo o M de Mito ou vai aderir ao M de Marçal. Quem sabe uma acomodação entre as duas partes.