O presidente Lula (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vão se encontrar nesta sexta-feira (29) no Palácio do Planalto, em Brasília, para um evento de assinatura do empréstimo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para obras do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
O encontro ocorre em meio ao indiciamento pela PF (Polícia Federal) de 37 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na investigação sobre tentativa de golpe de estado em 2022. Tarcísio foi ministro de Bolsonaro e tem no ex-presidente seu padrinho político.
O relatório da polícia concluiu que Bolsonaro “planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva” da trama golpista, incluindo os atos de 8 de janeiro de 2023.
Logo após o indiciamento, Tarcísio usou suas redes sociais para defender o ex-presidente e afirmou que a investigação da PF “carece de provas”. “É preciso ser muito responsável sobre acusações graves como essa. O presidente respeitou o resultado da eleição e a posse aconteceu em plena normalidade e respeito à democracia”, afirmou.
A entrada das obras de São Paulo no programa do governo federal foi anunciada no ano passado. O BNDES disponibilizará recursos para o trecho norte do Rodoanel e para a extensão da linha 2-verde do metrô na capital paulista. Já o Trem Intercidades ainda não teve autorização da Fazenda para captação de empréstimo.
A autorização da Secretaria Nacional do Tesouro para o Rodoanel está pronta desde maio e a da Linha 2-Verde, desde setembro.
Houve um acordo do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, com o governo de São Paulo, para que os empréstimos sejam assinados em cerimônia pública. O que, diante do acirramento da disputa das eleições municipais, não ocorreu até agora.
As áreas técnicas dos dois lados, então, passaram a correr para tentar conseguir uma agenda das autorizadas e liberar os recursos. As obras já começaram e o governo paulista desembolsou R$ 1,3 bilhão para a linha 2-verde, e R$ 250 milhões para o Rodoanel.
A preocupação de integrantes da equipe de Tarcísio era com o prazo de 30 de novembro —quando acaba o prazo da autorização do Tesouro para a garantia da União nos contratos de empréstimos. Assim, teria de começar tudo de novo.
Tarcísio, um dos nomes da oposição para as eleições presidenciais de 2026, é constantemente cobrado pela militância bolsonarista quando faz gestos ao governo federal. Neste ano, foram poucas as ocasiões em que esteve na capital federal.
Em 31 de outubro, o governador esteve com o presidente pela primeira vez desde a eleição de São Paulo, em que Lula apoiou Guilherme Boulos (PSOL). Tarcísio, por sua vez, apadrinhou Ricardo Nunes (MDB), reeleito.
O governador foi ao Planalto e participou da apresentação da PEC da Segurança, assim como representantes de outros estados. Tarcísio evitou politizar a reunião, ao contrário do que fez o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que trocou farpas com Lula no encontro.
Em julho, Lula se queixou da ausência de Tarcísio em agendas oficiais do governo federal no estado de São Paulo. A declaração ocorreu durante cerimônia de entrega de 280 novas ambulâncias na cidade de Salto.
“É uma pena, porque o governador podia vir com a gente, mas ele não vem em nenhum lugar que eu convido”, disse.
Lula seguiu com as críticas e disse que, em sua gestão, o BNDES empresta dinheiro aos governadores independentemente do partido, enquanto “no governo deles” o banco “não emprestava um centavo”, afirmou em referência ao governo Bolsonaro.
Na semana anterior, ele já havia se queixado de o governador não ter participado de um evento sobre a expansão da linha 5 do metrô.
Meses antes, a inauguração de obras na rodovia presidente Dutra já havia provocado um mal-estar nos bastidores. O governador foi convidado para o evento e incluído inicialmente no material de divulgação da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência). No entanto respondeu ao governo Lula que não poderia comparecer.
Aliados de Tarcísio acusaram nos bastidores o governo Lula de buscar ofuscá-lo durante a inauguração de uma obra realizada com leilão conduzido por ele próprio, quando era ministro da Infraestrutura.