Lula cogita indicar Wadih Damous para presidente da ANS


Advogado com carreira na Justiça do Trabalho e hoje titular da Secretaria Nacional do Consumidor, Damous é filiado ao PT e presidiu a OAB do Rio de Janeiro quando o plano de saúde da entidade colapsou

O titular da Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), Wadih Damous, 68 anos, está sendo cogitado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ser indicado para assumir a presidência da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Filiado ao PT, tem pouca experiência no setor de saúde.

Damous foi presidente da seção fluminense da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), de 2007 a 2012. Quando comandou a entidade, consolidou-se o colapso do plano de saúde dos advogados, a Caarj (Caixa de Assistência da Advocacia do Estado do Rio de Janeiro).

O mandato de Damous para comandar a OAB foi conquistado em novembro de 2006. Na época, a carteira de beneficiados tinha cerca de 55.000 inscritos e acabou sendo vendida para a Unimed do Rio em março de 2008. O plano dos advogados operava sob regime de autogestão e estava endividado em aproximadamente R$ 50 milhões (valor nominal daquela época).

Hoje, a Caarj tem só cerca de 5.000 vidas em sua carteira de clientes, até porque a própria Unimed Rio passou por várias crises gerenciais e financeiras.

O advogado é um petista histórico e muito fiel a Lula. Tentou ser deputado federal em várias eleições. Sempre ficou como suplente. Algumas vezes acabou assumindo o mandato por causa da licença de eleitos titulares.

A eventual escolha de Damous será uma decisão de Lula para premiar um amigo antigo do PT. Ele fez parte do grupo advogados de defesa do hoje presidente da República quando o petista foi preso pela Lava Jato na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (PR), por 580 dias (a libertação foi novembro de 2019). Os 2 se viram algumas vezes durante esse período.

No setor de saúde, segundo apurou o Poder360, há dúvidas sobre se o advogado trabalhista terá condições de comandar com desenvoltura uma agência tão relevante com a ANS. O Brasil tem hoje 51,4 milhões de pessoas com planos de saúde. É um mercado milionário, com muitas complexidades e a regulamentação é competência da agência.

No Senado, não há um caminho suave para a indicação de Damous. Há senadores governistas que gostariam de ter ascendência sobre o futuro presidente da ANS. O senador Humberto Costa (PT-PE) e o ex-ministro da Saúde Arthur Chioro (durante o governo Dilma) tem resistência ao nome de Damous.

O atual diretor-presidente da ANS é Paulo Rebello Filho. Seu mandato se encerra em 21 de dezembro. A cadeira então ficará vaga para Lula indicar um sucessor, que precisará ser sabatinado e aprovado pelo Senado.

Como secretário Nacional do Consumidor, Damous também teve uma atuação discreta. O setor de saúde passa neste momento por uma crise, pois aumentam os casos de pessoas que tiveram seus planos de saúde cancelados por operadoras. Não há registro de ações relevantes de Damous para proteger os direitos desses consumidores. Só em 25 de novembro de 2024, já com a crise instalada, a Senacom decidiu instaurar processo administrativo contra 14 operadoras. Essa medida de Damous foi vista no mercado como uma sinalização clara de que ele está em campanha para ser nomeado para o comando da ANS.

O Poder360 procurou Wadih Damous por meio de telefone e aplicativo de mensagens para perguntar se ele gostaria de se manifestar. Foram realizadas 5 ligações das 20h43 às 22h41. Também foram enviadas mensagens de texto por WhatsApp. Não houve resposta até a publicação desta reportagem. O texto será atualizado caso uma manifestação seja enviada a este jornal digital.





source