Embora Fobos e Deimos sejam consideradas luas de Marte desde 1877, quando foram descobertas em pelo astrônomo americano Asaph Hall, elas nunca tiveram cara de lua.
Primeiramente, porque são pequenas: Fobos tem 27 km de diâmetro e Deimos, 14 km de comprimento. Além disso, nem redondas elas são.
Segundo um estudo recente publicado na revista Icarus, “as propriedades espectrais das luas [forma como absorvem a luz] sugerem que elas podem ser asteroides primitivos capturados pelo planeta”.
A equipe de pesquisa, liderada por Jacob Kegerreis, doutorando no Centro de Pesquisa Ames da Nasa, no Vale do Silício, usou simulações computacionais para testar as duas principais hipóteses de formação das luas: captura direta e um impacto gigante.
Ao final, acabaram apresentando uma terceira via: um cenário onde um asteroide, ao passar muito perto de Marte, foi desintegrado pela maré (forças gravitacionais intensas) do planeta.
Parte dos fragmentos resultantes, propõe o estudo, foi capturado pela gravidade e formou um disco (protossatélite colisional) que, após interações e colisões, resultou em pequenas luas.
Testando a formação das luas marcianas
Para conferir se seu cenário proposto para a formação lunar de Marte seria cientificamente plausível, os autores desenvolveram um processo rigoroso de simulação computacional.
A metodologia incluiu centenas de simulações de encontros próximos entre um asteroide e um planeta, alterando sistematicamente diversos parâmetros fundamentais: o tamanho do asteroide, sua velocidade de rotação, sua velocidade de translação e a distância mínima que ele passa do planeta.
A equipe trabalhou com seu código de computação de alto desempenho e código aberto, chamado SWIFT, e os sistemas de computação avançados da Universidade de Durham, no Reino Unido,
A ideia foi estudar separadamente dois momentos críticos. Primeiramente, os autores avaliaram como as forças gravitacionais marcianas começam a “puxar” e fragmentar o asteroide quando ele passa muito perto, a “interrupção inicial”.
Depois, usando outro código, rastrearam como os fragmentos resultantes se movimentam após terem sido quebrados pelo planeta.
Criando uma prova de conceito sobre as luas de Marte
A simulação escolhida pelos autores para melhor explicar a formação das luas marcianas é muito parecida com a origem da Lua na Terra, quando um objeto do tamanho de Marte colidiu com o nosso planeta ainda “bebê”.
Também aqui uma nuvem de detritos formada pelo impacto se uniu para constituir o que é hoje o nosso satélite natural.
Além disso, a explicação da equipe de Kegerreis esclarece porque as órbitas de Fobos e Deimos são muito circulares e bem alinhadas com o equador de Marte. Se fossem só asteroides, suas órbitas provavelmente seriam inclinadas ou talvez um pouco ovais.
Um questionamento que sempre é feito sobre a hipótese do impacto gigante é que a maior parte do material ejetado fica perto do planeta, enquanto as luas marcianas, principalmente Deimos, fica bem distante.
Conforme o coautor Jack Lissauer, também pesquisador da Ames, “Nossa ideia permite uma distribuição mais eficiente do material de formação de luas para as regiões externas do disco”.
Ele explica em um comunicado de imprensa que um “asteroide pai” muito menor poderia continuar distribuindo perfeitamente seus fragmentos em diferentes regiões ao redor do planeta, inclusive em áreas distantes do disco protoplanetário.
Outro coautor, Vincent Eke, professor na Durham, destaca que o próximo passo é criar uma prova de conceito cada vez mais refinada.
“Isso nos permitirá examinar a estrutura do disco em si e fazer previsões mais detalhadas sobre o que a missão MMX poderia encontrar”, conclui, citando a missão japonesa Exploração das Luas de Marte, da agência japonesa Jaxa.
Marcada para setembro deste ano, a missão foi adiada para 2026, e trará amostras de Fobos à Terra, após pesquisar ambas as luas.
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