Eduardo Luz é professor de teoria da literatura na Universidade Federal do Ceará e, pela editora Imprece, lançou há pouco tempo “O Rito do Futebol no Romance Brasileira, Guia de Leitura”.
Como sabem as raras e raros leitores, esta Folha tem entre seus colunistas excelentes autores de livros sobre futebol.
Paulo Vinícius Coelho, “Escola Brasileira de Futebol”, Ruy Castro, “Estrela Solitária: um Brasileiro Chamado Garrincha”, Sérgio Rodrigues, “O Drible”, e Tostāo, “Tempos Vividos, Sonhados e Perdidos”, produziram, entre outras obras, alguns dos mais finos biscoitos de nossa literatura futebolística.
Pois eis que o Eduardo Luz ilumina, em livro de 155 páginas, 12 romances, às vezes nem tão romances, obrigatórios para quem gosta do gênero e do futebol, não necessariamente nessa ordem, que você pode inverter ou acrescentar ou ainda, mesmo que não aprecie nem um nem outro, mas que vale a pena conhecer.
Luz trata o futebol como deve ser tratado, como fenômeno arraigado na cultura brasileira e fator de elevação de nosso amor-próprio, ao chutar para escanteio velhas teses que o veem como alienante etc. Roberto DaMatta puxou o fio e é seguido fielmente.
Ao ir além da teoria literária, Luz incursiona com propriedade pelo terreno da sociologia. E cria três categorias para examinar a produção romanesca em torno do ludopédio: futebol-lenda, futebol-poesia e futebol-ensaio.
Antes disso já faz um golaço: dedica o livro a “Zico e Machado de Assis, que tornaram mais felizes os meus dias”.
O período lenda vai de Monteiro Lobato a José Lins do Rego, passando por Thomaz Mazzoni, o jornalista que criou o Derby, o Majestoso e o Choque-Rei.
Carlos Heitor Cony, que por tantos anos ocupou a página 2 deste jornal, é contemplado no futebol-poesia, ao lado do imortal João Saldanha, de Macedo Miranda e seu excepcional “O Sol Escuro”, e de Renato Pompeu, o jornalista que escreveu “A Saída do Primeiro Tempo”, onde se apropria do primeiro capítulo de “O Capital”, de Karl Marx, sobre a mercadoria, para escrever dos mais deliciosos textos já escritos sobre o futebol.
Finalmente, na terceira parte, dedicada ao futebol-ensaio, um quinteto de dar água na boca e causar inveja em quem se aventura a escrever sobre a paixão pela bola, seja na língua que for.
Desfilam para agudas análises de Luz ninguém menos que o trio gaúcho Moacyr Scliar, outro colunista da Folha por cerca de 20 anos, entre 1990 e 2010; Michel Laub, mais um que brilhou por aqui, e Cláudio Lovato Filho, que ajuda a fazer do Gre-Nal o mais renhido de nossos clássicos.
Para fechar, os geniais Sérgios Sant’Anna e Rodrigues, o primeiro, carioca que o coronavírus nos levou em 2020, o segundo, mineiro, vizinho de caderno, autor simplesmente do melhor romance futeboleiro em português, com apenas um defeito, não ter como título “O Dibre”.
Mais zebras?
Se, na segunda-feira (20), o Água Santa eliminar o Bragantino na Vila Belmiro, será apenas meia zebra, até porque o Braga já caiu na Copa do Brasil para o gaúcho Ypiranga, da Série C nacional, e por 3 a 1, em Erechim.
Mas, se o Ituano aprontar com o Palmeiras neste domingo (19) na casa verde, só caberá a exclamação tão a gosto do traumatizado torcedor do Ameriquinha e entusiasmado adepto do Arsenal, José Trajano: “Parei!”.
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