O bloco criado nesta semana afetou o poder de Lira e dividiu o centrão, até então formado por PP, PL e Republicanos
Victoria Azevedo e Ranier Bragon
Brasília, DF
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), tenta atrair partidos para manter em torno de si um contingente formal de cadeiras maior do que o do recém-criado bloco que uniu Republicanos, MDB, PSD, Podemos e PSC.
O pano de fundo da articulação envolve a disputa de poder dentro do Congresso, a força que cada agrupamento terá na relação com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a própria sucessão do presidente da Câmara —que ocorrerá em fevereiro de 2025.
O bloco criado nesta semana afetou o poder de Lira e dividiu o centrão, até então formado por PP, PL e Republicanos.
O movimento que esvazia o poder interno de Lira ocorre ao mesmo tempo em que o presidente da Câmara trava uma disputa com o Senado em torno da tramitação das MPs, que são o principal mecanismo do governo para legislar —mas que precisam ser validados pelo Congresso.
O grupo de partidos de centro e de direita não alinhados ao centrão se fortaleceu, obtendo a adesão do Republicanos e somando 142 das 513 cadeiras.
Alguns integrantes do novo bloco afirmam que a união pode ser um estímulo para adesão futura de parte do Republicanos a Lula, embora dois componentes conspirem contra: 1) a avaliação consensual de que nenhum partido de centro e de direita deve dar apoio fechado ao governo e 2) o fato de o partido abrigar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um dos nomes cotados para a disputa presidencial de 2026.
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Lira tentou formar uma federação entre PP e União Brasil, mas as articulações fracassaram. Os dois partidos, porém, podem ainda formar um bloco, mas mesmo nesse caso reuniriam 108 deputados. Nesse cenário, eles seriam a segunda maior força política na Casa.
Não há disposição no PL de Jair Bolsonaro, que tem 99 deputados, para integrar algum bloco por enquanto. Isso porque tanto o de Lira como o do Republicanos têm interesse em negociar e apoiar o governo.
De acordo com parlamentares ouvidos pela Folha, estão no radar do PP e da União Brasil siglas de esquerda, como PDT e PSB, e de centro e direita, como a federação PSDB-Cidadania, Patriota e Avante.
O governo trabalha atualmente alinhado a Lira e tenta montar uma base de apoio sólida, por isso tem buscado não interferir na disputa interna na Câmara com o receio de atrair desafetos em um dos lados.
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Membros do governo afirmam que estão acompanhando com atenção esses movimentos, mas dizem que não enxergam nele, ao menos no momento, a possibilidade de alterar o quadro da base que o Executivo tenta costurar na Casa.
Além do simbolismo político de reunir o maior contingente de cadeiras, a união dos partidos em blocos dá aos maiores grupos poder de mando na composição das comissões mistas (entre Câmara e Senado) que devem ser retomadas para a análise das medidas provisórias, na Comissão de Orçamento e no dia a dia das votações em plenário.
A sucessão de Lira também está em jogo, embora muita coisa possa mudar até 2025.
De acordo com deputados, o presidente da Câmara tem simpatia pelo nome do líder da bancada da União Brasil, Elmar Nascimento (BA), para sucedê-lo.
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Já no bloco liderado por Republicanos, MDB e PSD, há, entre os cotados, o vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP), e o líder do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL).
O PT e demais partidos de esquerda somam cerca de 130 deputados, o que seria decisivo caso os blocos de centro e de direita resolvam de fato se enfrentar na disputa pela sucessão de Lira.
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