Documento usado pela Justiça para autorizar PF a fazer operação contra PCC tem provas robustas de que havia, de fato, intenção de praticar atentado contra o ex-juiz
O documento usado pela Justiça para autorizar a PF (Polícia Federal) a realizar uma operação contra a facção criminosa PCC indica que há provas robustas de que o Primeiro Comando da Capital tinha a intenção de praticar um atentado contra o senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Na 5ª feira (23.mar.2023), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o caso é mais uma “armação” do ex-juiz da Lava Jato (assista ao vídeo no fim desta reportagem).
O relatório elaborado pela PF reúne provas que detalham a preparação para o atentado, com informações sobre o senador e integrantes de sua família, despesas de carros e alugueis, entre outras coisas. Eis a íntegra do documento (5 MB).
Uma testemunha, com identidade protegida por lei, teria procurado o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) por estar “jurada de morte” pelo “NEFO”, o líder da operação contra Moro.
Conforme o delator, NEFO é Janeferson Aparecido Mariano Gomes, que estaria encarregado de “levantar informações e sequestrar” o senador. Ele não soube especificar quais atos criminosos seriam realizados depois. Os depoimentos levaram à instauração de inquérito policial.
A testemunha entregou à polícia 4 números de telefone celulares, que seriam de pessoas próximas a NEFO. A PF começou, então, um monitoramento a partir da quebra dos sigilos telefônicos e de mensagem dos aparelhos.
“Os primeiros dados recebidos identificaram fortes indícios de que haveria ações criminosas de um núcleo do PCC da chamada ‘restrita’ contra o senador Sergio Moro, motivo pelo qual foi necessária a complementação ainda dentro da 1ª quinzena de interceptações telefônicas e telemáticas. Aliás, foram realizados 2 pedidos devido à gravidade dos dados que eram identificados a cada minuto”, lê-se no relatório.
“Destacamos que a capacidade bélica dos criminosos é notória e as imagens obtidas nas contas vinculadas a essa investigação demonstram armas variadas, dentro de casas, sob móveis, indicando que efetivamente estão prontas para uso da organização criminosa na prática de crimes”, declarou a PF.
Nos celulares, a PF encontrou mensagens em que NEFO pedia à namorada, Aline de Lima Paixão, que guardasse alguns códigos em seu celular: “Flamengo” seria “sequestro”; “Fluminense” seria “ação (possivelmente assassinato)”; “Tokyo” seria “Moro”; e “México” seria “MS (Estado do Mato Grosso do Sul)”. Um áudio de um dos envolvidos no plano confirmou os códigos.
Eis as mensagens:
A polícia também teve acesso à imagem de um caderno com informações sobre Moro e sua família –o que indicaria que eles também seriam alvos dos criminosos. Conforme as investigações, o senador foi monitorado por pelo menos 6 meses. A coleta dos dados teria sido feita por Aline Ardnt Ferri.
Além de Moro, há informações sobre:
- Rosângela Wolff Moro – mulher do senador;
- Júlia Wolff Moro – filha do senador; e
- Vinícius Wolff Moro – filho do senador.
Segundo a PF, o promotor de Justiça de São Paulo Lincoln Gakiya também era um dos alvos.
Eis imagem da folha do caderno que contém informações sobre Moro e seus familiares:
As imagens enviadas por Aline “comprovam categoricamente os levantamentos sobre o Senador Sergio Moro e família, com anotações feitas em uma página de caderno”, disse a PF.
Outra imagem obtida pela PF mostra uma lista com as despesas previstas para o atentado. Elas totalizam mais de US$ 550 mil, equivalente a quase R$ 3 milhões.
“A título de exemplo, as notações referentes a ‘paiol’ são referentes ao local de armazenamento das armas, manutenção cofres também diz respeito ao local de guarda das armas, etc. Importante destacar que já temos uma anotação vinculada a JANEFERSON, vulgo NEFO: ‘-$ 10mil PR viagem nf’. Temos também clara referência a data de 08/08/2022: ‘$2500 Adv Miguel 8/8/22’”, disse a PF.
Veja outras imagens presentes no relatório:
A PF também divulgou prints de mensagens que “demonstram o nível do levantamento feito pelos criminosos no local de votação do então candidato Sergio Moro”.
Os investigadores descobriram que os criminosos alugaram imóveis. Um deles era “privilegiado para fugas, pois é próximo da Rodoviária de Curitiba e caminho para o Aeroporto de São José dos Pinhais, auxiliando tanto em um deslocamento para a prática de crime, por exemplo, no aeroporto, quanto para a saída em locais de fácil deslocamento (aeroporto e rodoviária)”.
Além das anotações das despesas, os aluguéis foram confirmados pelos criminosos em áudios obtidos pela PF e por diligências da polícia em imobiliárias e nos locais alugados tanto em Curitiba e quanto em outras cidades.
“Verificamos que os criminosos estiveram em chácaras na região de Contenda e São José dos Pinhais, bem como locaram uma residência bem próxima dos endereços do Senador em questão. Não bastasse isso, utilizaram veículos diversos e têm despendido relevantes quantias oriundas do Tráfico de Drogas para subsidiar esse atentado contra o Estado Brasileiro”, lê-se no relatório.
“A utilização de armas de fogo ficou evidente desde a primeira quebra de dados, quando identificamos fotos de armas de fogo em residências, munições, planilhas de valores para a aquisição de armas, o que corrobora as anotações de ‘cofres’ encontradas, deixando claro a periculosidade dos investigados.”
A PF disse ter identificado um veículo blindado no Paraná, “juntamente com uma anotação que fala em três carros pretos, valendo-se do código STJ (utilizado para tratar de sequestro, como o código ‘flamengo’), e outros dois veículos com referência a ‘cofre’ (provavelmente onde irão as equipes com fuzis)”.
O relatório da PF serviu de base para o decreto de prisão preventiva para 14 acusados. Eis a íntegra do pedido (2 MB).
OPERAÇÃO
Eis o que se sabe até agora:
- mandados cumpridos – 4 de prisão temporária, 7 de prisão preventiva e 24 de busca e apreensão;
- operação realizada em 4 Estados – Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Paraná;
- crimes planejados – homicídios e extorsão mediante sequestro; seriam realizados em SP e no Paraná.
O QUE DISSE LULA
Durante visita ao complexo naval de Itaguaí, no Rio de Janeiro, na 5ª feira (23.mar), Lula falou sobre o plano de atentado contra Moro.
O presidente declarou: “Eu vou descobrir o que aconteceu, é visível que é uma armação do Moro, mas eu vou pesquisar, eu vou saber do porquê da sentença”.
Assista (1min11s):