Em encontro no Rio, presidente defendeu participação da sociedade civil e criticou concentração das decisões econômicas nas mãos de “especialistas e burocratas”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou neste sábado (16.nov.2024) no encerramento do G20 Social, no Rio de Janeiro, destacando que pela 1ª vez na história a sociedade civil se reuniu para apresentar demandas ao grupo. No pronunciamento, Lula defendeu jornadas de trabalho mais equilibradas e disse que os membros do G20 têm poder para fomentar o empreendedorismo e a autonomia econômica feminina, promover a biodiversidade, implementar metas de igualdade racial e limitar o aquecimento global.
No discurso, o presidente afirmou que “a economia e a política internacional não são monopólio de especialistas e nem de burocratas”. Ele também disse que o G20 se consolidou como principal fórum de cooperação econômica mundial e “espaço de concertação política.”
Lula defendeu que a mobilização da sociedade civil será fundamental para impulsionar os trabalhos da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, avançar na tributação dos super-ricos e garantir o cumprimento das metas de uso de energias renováveis. O presidente também disse que há necessidade de reforma na governança global para assegurar instituições multilaterais mais representativas.
O petista criticou o neoliberalismo, dizendo que a doutrina agrava desigualdades econômicas e políticas, e defendeu que “os Governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a ‘voz dos mercados’ e a ‘voz das ruas’”. Ao final, anunciou que levará as recomendações do G20 Social para os demais líderes do grupo e trabalhará com a África do Sul para que sejam consideradas nas próximas discussões.
Leia a íntegra do discurso de Lula no encerramento do G20 Social:
Este é um momento histórico para mim e um momento histórico para o G20.
Ao longo deste ano, o grupo ganhou um terceiro pilar, que se somou aos pilares político e financeiro: o pilar social, construído por vocês.
Aqui tomam forma a expressão e a vontade coletiva, motivadas pela busca de um mundo mais democrático, justo e diverso.
De forma inédita, os grupos de engajamento puderam interagir com os chanceleres e com os ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais das maiores economias do planeta.
Tive a satisfação de dialogar pessoalmente com os representantes de cada grupo.
Nos últimos dias, pela primeira vez na trajetória do G20, a sociedade civil de várias partes do mundo, em suas mais diversas formas de organização, se reuniu para formular e apresentar suas demandas à Cúpula de Líderes.
Nos dezesseis anos desde a primeira Cúpula, o G20 se consolidou como o principal fórum de cooperação econômica mundial e como importante espaço de concertação política.
Mas a economia e a política internacional não são monopólio de especialistas e nem de burocratas.
Elas não estão só nos escritórios da Bolsa de Nova York ou da de São Paulo, nem só nos gabinetes de Washington, Pequim, Bruxelas ou Brasília.
Elas fazem parte do dia a dia de cada um de nós, alargando ou estreitando as nossas possibilidades.
Os membros do G20 têm o poder e a responsabilidade de fazer a diferença para muita gente.
Para as mulheres, ao fomentarem o empreendedorismo e a autonomia econômica feminina, como fez o Grupo de Trabalho sobre Empoderamento.
Para os povos tradicionais e indígenas, ao promoverem os produtos da biodiversidade, como fez a Iniciativa sobre a Bioeconomia.
Para os afrodescendentes, ao adotarem o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 18 sobre igualdade racial, como fez o Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento.
Para o planeta, ao incentivarem a ambição climática em linha com o objetivo de limitar o aquecimento global a um grau e meio, como fez a Força-Tarefa do Clima.
Nada disso teria sido possível sem a contribuição de todos vocês que estão aqui hoje.
A presidência brasileira não teria avançado nas três prioridades que escolheu se não fosse a participação decisiva das organizações e movimentos que integram o G20 Social.
A mobilização permanente de vocês será fundamental:
• para impulsionar os trabalhos da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e avançar na tributação dos super-ricos;
• para garantir o cumprimento das metas de triplicar o uso de energias renováveis e antecipar a neutralidade de emissões;
• e para levar adiante nosso Chamado à Ação pela Reforma da Governança Global, assegurando instituições multilaterais mais representativas.
A presidência brasileira do G20 deixará um legado robusto de realizações, mas ainda há muito por fazer para melhorar a vida das pessoas.
Para chegar ao coração dos cidadãos comuns, os Governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a “voz dos mercados” e a “voz das ruas”.
O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias.
O G20 precisa discutir uma série de medidas para reduzir o custo de vida e promover jornadas de trabalho mais equilibradas.
Precisa ouvir a juventude, que enfrentará as consequências das tarefas que deixarmos inacabadas.
Precisa preservar o espaço público, para que o extremismo não gere retrocessos nem ameace direitos.
Precisa se comprometer com a paz, para que rivalidades geopolíticas e conflitos não nos desviem do caminho do desenvolvimento sustentável.
Vou levar as recomendações contidas na declaração final que vocês me entregaram aos demais líderes do G20 e trabalhar com a África do Sul para que elas sejam consideradas nas discussões do grupo.
Espero que esse pilar social do G20 continue nos próximos anos, abrindo cada vez mais nossas discussões para o engajamento da cidadania.
Essa cerimônia de encerramento marca o começo de uma nova etapa, que exigirá um trabalho contínuo durante os 365 dias do ano e não só às vésperas das reuniões de líderes.
Também conto com a força de vontade e o dinamismo da sociedade civil para dois outros eventos que o Brasil sediará no próximo ano: a Cúpula do BRICS e a COP 30.
Nós vamos seguir construindo, juntos, um mundo justo e um planeta sustentável.
Muito obrigado.