Juca Kfouri: parece inevitável comparar Ramon e Scaloni – 04/03/2023 – Juca Kfouri


“O Suplente” é um belo filme argentino que a rara leitora e o raro leitor podem ver na Netflix. Conta a história de um professor substituto numa escola pública na periferia de Buenos Aires.

A trajetória de Lionel Scaloni, o treinador interino que virou campeão mundial pela Argentina, também dará filme.

O interino da CBF, Ramon Menezes, pode estar sonhando em ensaiar a repetição da história e não como farsa.

A primeira convocação de Scaloni depois do fracasso argentino na Copa da Rússia, quando substituiu o badalado Jorge Sampaoli, tinha apenas nove jogadores remanescentes do torneio e nela não estavam Agüero, Higuain, Di Maria, nem Lionel Messi que, na verdade, pediu para não ser convocado.

Ramon Menezes fez sua primeira chamada sem Neymar e Thiago Silva, machucados, mas, também, sem Alisson, Daniel Alves, Alex Sandro, Danilo, Bremer, Bruno Guimarães, Éverton Ribeiro, Fred, Phillipe Coutinho, Raphinha, Fabinho, Martinelli, Gabriel Jesus e Pedro.

Quinze não convocados, entre 26 que estiveram no Qatar, o que não impede que alguns venham a ser chamados, principalmente Neymar, cuja ausência definitiva seria a mais significativa para indicar mudança de ambiente, o fim das relações tóxicas na seleção brasileira.

Foram nove as novidades (e o colunista sem graça evitou o trocadilho infame, ao não tratá-las como “novedades”).

Se dará certo o futuro dirá.

Que causa curiosidade o time que daí sairá é fora de dúvida — e o adversário, Marrocos, quarto colocado no Qatar, no dia 25 de março, será excelente teste para o time amarelo (azul?) que terminou em sétimo lugar.

Se Raphael Veiga era obrigatório, Rony surpreendeu, embora o colunista esteja entre aqueles poucos que querem tê-lo em seu time, pela eficácia e, principalmente, pelo denodo, pau para toda obra, como mostrou ser contra o Chelsea na final do Mundial de Clubes, ao jogar como lateral-direito, ala e centroavante.

Acertou a CBF ainda ao fazer de Ricardo Gomes o coordenador técnico da seleção, garantia de que jogadores serão convocados por seus méritos e não para satisfazer a voracidade de empresários.

Para quem nem queria ouvir falar de seleção brasileira, eis uma boa notícia: está criada expectativa saudável para o jogo contra os marroquinos.

Que pode virar o primeiro passo para o filme brasileiro “O Interino”, com Vinicius Junior como ator principal e Ramon Menezes também como protagonista, embora, também com acerto, a CBF afaste a possibilidade.

Tem razão em temer que a repetição se dê como tragédia.

Se bem que, como todos sabemos, um resultado bom aqui, outro desempenho elogiável ali, Carlos Ancelotti se faz de doce ou salgado demais e o interino vai ficando, vai ficando até que, de repente, fica.

Já vimos este filme, às vezes, com final feliz.

REPULSA E EMPATIA

Dizer que o presidente do Sergipe errou ao agredir o assoprador de apito que eliminou os nordestinos da Copa do Brasil porque os acréscimos foram esticados até que o Botafogo empatasse em Aracaju é chover no molhado.

Ernan Sena deve ser suspenso e sair de cena (óbvio demais!) por bom tempo.

O que não impede um mínimo de empatia com sua reação ao ver frustrado o sonho de seguir na Copa do Brasil ao eliminar um dos ainda grandes de nosso futebol de forma tão vil.

Bráulio da Silva Machado exagerou, brincou com fogo e se queimou.


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