Pouco antes do início da semifinal do Campeonato Paulista, Alexandre da Silva Laguna, 48, se encontrou com integrante da diretoria do Água Santa. Reconhecido, recebeu um abraço de gratidão.
“Ele me agradeceu e disse que eu faço parte de toda aquela história.”
Xande é um dos maiores artilheiros da história do hoje finalista do Campeonato Paulista da Série A1. Na decisão, vai enfrentar o Palmeiras. O primeiro jogo está marcado para o próximo dia 2 de abril.
Mesmo agora, com o clube em seu auge no futebol profissional, o tempo de amadorismo segue marcado na memória.
“Eu tenho a última camisa que o Água Santa usou em uma partida amadora. Foi em 2011, na final da Copa TV Mais, contra o Eldorado. Não vendo, não empresto, não dou, Guardo como uma relíquia”, diz Luciano Bastos, o Choquito, 42, antigo zagueiro e capitão dos anos varzeanos. Época em que a equipe ganhou tudo nos campos de grama sintética e terra batida da região do ABCD, na Grande São Paulo.
Eles formam uma espécie de velha guarda do clube criado em 1981, começou a disputar torneios regionais em 1999 e se profissionalizou em dezembro de 2011. Veteranos que dividem histórias de viagens para outras regiões para jogar debaixo de sol escaldante, lembranças de Tubaínas bebidas na sede do Jardim Inamar, em Diadema, dos campos lotados de torcedores mesmo na época do amadorismo.
“O Água Santa sempre pagou os jogadores. Era um trocado bom, dinheiro razoável. Se fosse hoje em dia, seria o equivalente a R$ 2.000 por mês mais o dinheiro da gasolina. É um dinheiro razoável”, lembra Fabio Palacio Vieira, 42, o Mentirinha, volante que atuou pela equipe entre 2008 e 2011.
Reuni-los é ouvir lembranças de tempos que, para eles, são gloriosos. A partir de 1999, quando resolveu a disputar campeonatos no ABCD, até 2011, o Água Santa empilhou títulos. Entre 2009 e 2011, foi tricampeão da primeira divisão da liga de Diadema. No meio disso, teve o melhor ano de todos em 2010.
“Ganhamos a liga de Diadema, a Copa TV Mais e a Copa Kaiser com o Pioneer, que tinha uma parceria com o Água Santa e usava os mesmos jogadores”, diz Choquito.
Eles têm se encontrado mais do que de costume nas últimas semanas. Quase todos compareceram aos jogos do Água Santa no mata-mata do Paulista. Os celulares estão repletos de fotografias tiradas no Allianz Parque e na Vila Belmiro, durante as vitórias nos pênaltis sobre o São Paulo e o Red Bull Bragantino.
O consenso entre eles é que o Água Santa jamais foi um time de várzea qualquer. Além de pagar ajuda de custo (não chamam de salários) e premiações, tinha uma filosofia de profissionalismo. Por isso que a decisão de começar a disputar torneios pela FPF (Federação Paulista de Futebol), tomada no final de 2011, não pegou todos de surpresa.
“Eu deixei a Ferroviária de Araraqura porque não queria mais atuar como profissional, mas o Água Santa era diferente. Apesar da liga amadora, eles não eram nada amadores. E quando cheguei ao clube, em 1999, já me disseram que o projeto para o futuro era a profissionalização. Criariam uma estrutura para isso”, garante Xande.
Não é uma lembrança compartilhada para todos. Há quem afirme ter sido um baque a notícia de que o time abandonaria a várzea.
“Ficamos sem saber o que aconteceria. O Água Santa começaria na última divisão, que é um campeonato sub-23. Todo mundo já era mais velho do que isso”, recorda-se Mentirinha.
Quando abandonou o amadorismo, o time conseguiu, segundo seus atletas da velha guarda, unir até os maiores rivais. Na semifinal do Paulista, o volante afirma ter encontrado pessoas ligadas às equipes que faziam clássicos com o Água Santa na várzea do ABCD: Unidos da Vila, Eldorado, Tricolor e Casagrande.
“É incrível ver o Água Santa na final do Paulista. Traz lembranças maravilhosas para todos os que fizeram parte da equipe nos anos anteriores ao profissionalismo”, afirma Choquito.
É mais ou menos o que Xande ouviu do diretor antes da semifinal da Vila Belmiro: todos fazem parte do momento atual do clube. Temporada em que a agremiação do Jardim Inamar pode chegar ao topo do futebol do estado.
“É uma felicidade ver o que está acontecendo. Eu sou Água Santa de verde e amarelo. Sou corintiano também. Mas nunca joguei no Corinthians, né? Só no Água Santa. Então, é um orgulho ver a trajetória do time. A gente vê a força que este elenco atual tem. No começo do Paulista, tomou três pauladas e imaginavam que ia cair. Eu respondia que é na queda que você se ergue. Está aí!”, elogia Mentirinha.
Assistir o Água Santa na final do Paulista é reviver uma época em que o time vencia títulos, como bem sabe Xande. Em uma festa recente na Freguesia do Ó, bairro da zona noroeste da capital, onde o antigo meia mora, a diretoria o homenageou com uma placa que lembra os mais de 100 jogos em que ele atuou em derrotas e os cinco títulos conquistados.