“Isto é uma submissão ao [movimento islamita palestiniano] Hamas”, disse um dos manifestantes, Yosef Rabin, à agência de notícias espanhola EFE.
“O acordo que obtivemos ontem (quarta-feira) é absolutamente inaceitável, porque basicamente significa o fim da guerra. Isto é um fracasso e uma submissão perante o Hamas”, sublinhou o israelita.
Elian, outro cidadão israelita de 22 anos, também defende a continuação da dura ofensiva de Israel na Faixa de Gaza – que já matou mais de 46.700 pessoas em mais de 15 meses de guerra e originou uma crise humanitária sem precedentes entre os habitantes daquele enclave palestiniano -, porque considera que o acordo de cessar-fogo “põe em perigo a segurança de Israel e dos reféns”.
“A guerra deve continuar até que o Hamas se renda e entregue os reféns”, sustentou.
O protesto decorreu em frente à entrada do Knesset (parlamento israelita), contíguo ao gabinete do ministro das Finanças israelita, Bezalel Smotrich, que hoje ameaçou abandonar o Governo de coligação se o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, não retomar os bombardeamentos a Gaza assim que terminar a primeira fase do novo acordo de cessar-fogo.
Ao longo de 2024, tanto Smotrich como outros ministros de extrema-direita e mesmo ultraortodoxos já tinham ameaçado abandonar o Governo israelita se Netanyahu renunciasse à pressão militar para recuperar os cerca de 100 reféns ainda nas mãos das milícias palestinianas e negociasse com o Hamas.
Desta vez, porém, a imprensa israelita noticiou que Netanyahu, mais pressionado pelo Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, a aceitar as exigências do Hamas, tinha conseguido convencê-los a votar a favor do acordo em troca de lhes dar mais ‘carta branca’ para levarem a cabo alguns dos seus projetos políticos, como a expansão dos colonatos na Cisjordânia ocupada — apesar de todos os colonatos israelitas serem considerados ilegais à luz do Direito Internacional.
Perante a recusa desses ministros em aprovar a trégua, o líder israelita adiou a reunião do gabinete de segurança, agendada para as 11:00 de hoje (09:00 de Lisboa), para ratificar o acordo de cessar-fogo negociado e mediado em Doha.
“É claro que eu quero um acordo, mas um acordo que não seja uma vergonha para a nossa nação, para os nossos irmãos e amigos que perdemos em Gaza e para as crianças que foram assassinadas no ataque [de 07 de outubro de 2023] do Hamas”, afirmou outro jovem israelita, que preferiu manter o anonimato.
Também houve discussões entre os manifestantes radicais, que ocuparam um dos acampamentos montados pelas famílias dos reféns, e alguns dos israelitas que querem que seja assinado um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas.
“Não somos representados por Netanyahu nem por nenhuma destas instituições que nos rodeiam. Não compreendemos por que razão não foi negociado um acordo de uma só fase, em que todos os reféns fossem libertados de uma vez por todas”, declarou uma mulher israelita que há mais de um ano vem a este local para exigir tréguas em Gaza.
Numa das estradas próximas do Knesset, que foi cortada pela extrema-direita, um israelita indignado aproxima-se da EFE e explica: “Esta minoria não nos representa. A maioria da sociedade israelita apoia um acordo para que os reféns possam regressar a casa. É muito triste assistir a estes protestos”.
O Governo de Benjamin Netanyahu adiou hoje a esperada votação do Conselho de Ministros para dar ‘luz verde’ ao acordo de cessar-fogo anunciado pelo Qatar na quarta-feira, argumentando que o Hamas tinha introduzido à última hora novas exigências “inaceitáveis”.
Segundo o anunciado pelo Qatar, as partes tinham acordado a primeira fase de um cessar-fogo de 42 dias, em que 33 reféns em cativeiro em Gaza seriam libertados em troca de mais de 1.000 prisioneiros palestinianos e as tropas israelitas começariam a retirar das zonas mais densamente povoadas do enclave palestiniano.
Leia Também: Israel reclama morte de participante do Hamas nos ataques de 7 de outubro