Após colherem vitórias nas eleições municipais de 2024, das quais a centro-direita saiu fortalecida, governadores de oposição ao presidente Lula (PT) buscam o caminho para disputar o Palácio do Planalto em 2026.
Com Jair Bolsonaro (PL) inelegível por duas condenações no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ratinho Junior (PSD-PR), Eduardo Leite (PSDB-RS) e Romeu Zema (Novo-MG) são cotados para a Presidência.
O plano é admitido por alguns, como Caiado, e rechaçado por outros, como Tarcísio, mas os governadores e seus partidos têm falado em manter conversas a fim de buscar unificação e um nome viável para enfrentar Lula.
Tarcísio larga como favorito por governar São Paulo, manter bom índice de aprovação e transitar entre dois mundos, o bolsonarismo e a direita não bolsonarista. Mesmo políticos que defendem uma candidatura de centro não costumam exclui-lo das articulações.
Em mais um gesto de fidelidade a Bolsonaro, que tem ignorado sua inelegibilidade e dito que será candidato em 2026, Tarcísio afirmou que vai concorrer à reeleição. “Qual é a minha opção, qual é o meu caminho em 26? É continuar em São Paulo. […] Temos projetos muito interessantes para entregar em 28, em 29, em 30”, disse à Band em dezembro.
Caso Tarcísio resolva disputar o Planalto, a tendência dos demais partidos de centro-direita seria apoiá-lo, dado que hoje já integram sua base. Sem ele no jogo, a corrida pode ser mais difusa, com cada legenda bancando a candidatura de seu governador.
A atuação como cabo eleitoral na capital paulista, onde reelegeu Ricardo Nunes (MDB), credenciou Tarcísio como articulador e presidenciável. As disputas no estado, porém, ampliaram o racha em sua base, agravando a animosidade entre bolsonaristas e o PSD de Gilberto Kassab.
Em São Paulo, o secretário de Tarcísio foi o grande vencedor, elegendo prefeitos em 205 de 645 cidades. Outros partidos aliados, como PL, Republicanos, MDB e PP, também cresceram, enquanto o PT ganhou em apenas quatro municípios.
Embora o cenário local seja favorável, o projeto presidencial de Tarcísio depende de que Bolsonaro o escolha como sucessor —ainda que seja o nome preferido entre políticos e empresários da direita, o governador não foi apontado pelo ex-presidente.
Mesmo se for ele o ungido, aliados afirmam que Tarcísio poderá recusar o posto. De qualquer forma, os filhos de Bolsonaro também têm surgido como opção, dada a inelegibilidade do pai.
Caiado, por sua vez, já disse que pretende se candidatar independentemente dos arranjos entre os demais governadores e partidos —a sua idade, 75 anos, é apontada como um fator para que ele queira disputar já em 2026.
O governador de Goiás, porém, não conta com a simpatia de Bolsonaro, pelo contrário. Eles estiveram em lados opostos na eleição de Goiânia, em que o candidato de Caiado, Sandro Mabel (União Brasil), venceu o bolsonarista Fred Rodrigues (PL).
“Eu serei candidato a presidente da República. Não tem condicionante para a minha candidatura. Eu serei candidato em 2026. Se ele [Bolsonaro] será ou não, eu serei”, afirmou o governador ao UOL News em outubro.
O plano depende da Justiça Eleitoral. Em dezembro, ele e Mabel foram condenados em primeira instância a oito anos de inelegibilidade por abuso de poder político ao usar o Palácio das Esmeraldas para reuniões de suposto intuito eleitoral.
Cabe recurso à decisão, tanto ao colegiado do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Goiás quanto depois ao TSE.
Caiado também teve bom resultado em seu quintal —o União Brasil foi o partido campeão em Goiás, com 95 prefeituras. Além disso, o governador é bem avaliado, mas tem a violência policial como marca negativa, ainda que a criminalidade tenha diminuído.
Surfando no resultado do PSD no Paraná (líder isolado com 164 de 399 de prefeituras, incluindo Curitiba), Ratinho tem se projetado para a corrida de 2026, apresentando como credenciais boa aprovação, obras de infraestrutura e uma agenda de privatizações.
O governador, porém, depende que Kassab se proponha a lançar um candidato próprio, o que deve ser discutido apenas em 2025. O presidente do PSD é favorável à essa opção por princípio, mas teria que recuar se Tarcísio decidir concorrer.
Alinhado a Bolsonaro, Ratinho também tem como obstáculo o fato de o seu partido integrar o governo Lula, ainda que a sigla não deva apoiar a reeleição do presidente.
Eduardo Leite, que foi cogitado como presidenciável em 2022, afirmou à coluna Painel, da Folha, que segue no jogo para 2026, embora outros governadores tenham ganhado protagonismo.
“Continuo focado em ajudar na construção de uma alternativa para 2026 que não seja Lula ou Bolsonaro. Já me dispus a ser esse nome em 2022, por que não seria agora?”, disse.
Para políticos do PSDB, Leite é um excelente quadro, mas a legenda, diminuída após a eleição de 2022, admite que é preciso conversar com outras siglas e que uma candidatura presidencial própria é difícil.
No Rio Grande do Sul, os partidos que conquistaram mais cidades estão na base de Leite (PP, MDB e PL), e o PSDB cresceu para 35 prefeituras.
Já Zema está alinhado a Bolsonaro e não deve ser candidato se for para dividir a direita —seu nome perdeu força entre parte dos partidos de centro-direita, que veem falta de viabilidade do governador de Minas, alvo de desgaste no estado.
Ao contrário dos demais governadores cotados ao Planalto, Zema sofreu uma derrota na eleição da capital, Belo Horizonte, em que Fuad Noman (PSD) se reelegeu.
O governador afirmou à CNN Brasil em dezembro que não tem nenhuma pretensão de concorrer à Presidência e que apoiaria um nome de direita ou centro-direita a não ser que haja consenso a favor dele próprio.
“Caso esse nome seja a minha pessoa, eu não tenho nenhuma pretensão, eu pessoalmente gostaria até mais de estar apoiando do que ser [candidato], mas, para mim, missão dada é missão cumprida”, disse.