O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), rejeitou nesta sexta-feira (10) a possibilidade de adotar o modelo de torcida única em jogos de futebol no estado após a briga entre organizadas de Flamengo e Vasco no fim de semana.
Castro reconheceu erros na execução do policiamento no dia partida e no rigor em punir torcedores que já se envolveram em brigas no entorno dos estádios. Ele anunciou o banimento de organizadas dos quatro grandes clubes do Rio de Janeiro e determinou a abertura de inquérito para apurar crimes de organização criminosa, entre outras medidas.
Após reunião com representantes dos clubes e do governo no Palácio Guanabara, Castro afirmou que opção pela torcida única nem sequer foi discutida no encontro.
“Não foi nem aventado. A gente considera [a medida] a falência da segurança pública. Conseguimos fazer Réveillon com milhões de pessoas, Carnaval com centenas de milhares. Temos que ter condições de fazer jogo com duas torcidas, sim”, disse ele.
As medidas foram anunciadas cinco dias após a ocorrência de brigas em diferentes pontos da capital antes e depois do jogo entre Flamengo e Vasco, no Maracanã, no último domingo (5). Um homem morreu e oito foram hospitalizados.
O jogo começou às 18h10 e terminou com a vitória do Vasco por 1 a 0, na décima rodada do Campeonato Carioca.
Antes do início da partida, imagens mostraram homens com pedaços de madeira em diferentes pontos da cidade. Em São Cristóvão, um grupo andava com camisas no rosto e com pedaços de pau. Uma viatura os acompanhava.
Outro grupo, com armas de fogo, chegou a circular pela rodovia Washington Luís, que liga o Rio de Janeiro à região serrana. As imagens mostram depredação em estações de trem.
Em nota, a Rio Ônibus (sindicato das empresas) disse que “o caos se disseminou para diferentes regiões da cidade e atingiu pelo menos 60 linhas de ônibus”. De acordo com a entidade, pelo menos cem coletivos foram depredados, com um prejuízo avaliado em R$ 200 mil.
Castro anunciou o banimento dos estádios das torcidas Raça Rubro-Negra, Jovem Fla (ambas do Flamengo), Força Jovem do Vasco, Young Flu e Fúria do Botafogo.
Todas elas haviam sido beneficiadas por uma anistia aprovada pela Assembleia Legislativa às vésperas da eleição do ano passado. Elas também estavam com punição suspensa enquanto negociavam um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) com o Ministério Público e a Justiça.
“Tivemos um tempo de tentativa de diálogo e ele foi totalmente rompido. Não dá para ter diálogo com que não cumpre o que tratou”, disse o governador.
“Quando as torcidas procuram querendo se enquadrar há uma vontade para que isso [briga] não aconteça mais. Há uma boa-fé do estado de que teremos momentos melhores.”
Uma das medidas a serem retomadas é a exigência de que torcedores flagrados em confusão nos estádios permaneçam em delegacias no horário das partidas de seus times. A punição está prevista no Estatuto do Torcedor, mas não era cumprida no estado.
Castro reconheceu a desmobilização na execução desta pena. “A desmobilização é um erro. É algo de acomodação quando se tem paz. Vamos trabalhar para não acontecer mais.”
Castro também reconheceu ter ocorrido erro na execução do policiamento planejado para o jogo entre Vasco e Flamengo. Ele afirmou que as falhas foram corrigidas, citado o fato de não ter ocorrido brigas generalizadas na quarta-feira (8), na decisão da Taça Guanabara, primeiro turno do Estadual.
“A operação Maracanã [da Polícia Militar] é uma das melhores do Brasil. A gente lamenta a morte do torcedor. Sem minimizar o que houve, mas não podemos jogar fora uma operação reconhecida internacionalmente como a melhor do Brasil”, afirmou o governador.