Entre janeiro e outubro de 2024, atual administração aumentou o débito em R$ 300 milhões; endividamento só no primeiro semestre cresceu R$ 180 milhões
O Corinthians atualizou a sua dívida bruta para R$ 2,4 bilhões, em petição enviada à Justiça para requisitar a inclusão no RCE (Regime Centralizado de Execuções), na tentativa de negociar coletivamente as dívidas que têm com diferentes credores. Em dezembro, esse número era de R$ 1,98 bilhão. No documento, ao qual a Jovem Pan teve acesso, o Timão expôs outro dado importante: a gestão já tem um endividamento proporcionalmente maior em comparação aos mandatos de seus antecessores.
Segundo a petição, o ex-presidente Andrés Sánchez, líder do grupo Renovação e Transparência, teve um prejuízo acumulado de R$ 337,6 milhões entre 2018 e 2020 (respectivamente de R$ 18,8 milhões, R$ 195,5 milhões e R$ 123,3 milhões). Seu sucessor, Duilio Monteiro Alves, fechou com saldo positivo de R$ 22 milhões entre 2021 e 2023 (R$ 5,6 milhões, R$ 15,3 milhões e R $1,1 milhão, respectivamente).
Já a gestão de Augusto Melo, entre janeiro e outubro de 2024, aumentou a dívida bruta alvinegra em R$ 300 milhões. O endividamento só no primeiro semestre cresceu R$ 180 milhões. O alto valor se explica, segundo o documento, pelos elevados custos relacionados ao futebol profissional (R$ 420 milhões) e em despesas administrativas e de operação do clube (R$ 220 milhões).
O valor atualizado da dívida é, inclusive, R$ 100 milhões maior do que o informado em setembro, no chamado “Dia da Transparência”. Entre os R$ 2,4 bilhões atualmente devidos pelo clube, R$ 703 milhões são referentes à construção da Arena. Na última semana, a principal torcida organizada do Timão anunciou o lançamento da campanha de doação para quitar a quantia, que bateu a casa dos R$ 18 milhões em apenas três dias.
Conselho de Orientação recomendou a destituição de Augusto Melo
Em meio ao possível processo de impeachment vivido pelo presidente Augusto Melo, o Conselho de Orientação do Corinthians (Cori) recomendou o afastamento do mandatário por “gestão irregular ou temerária”, por outros motivos que não tem a ver com o pedido de destituição que será votado nesta segunda-feira (2), baseado essencialmente nas supostas irregularidades do contrato com a VaideBet e nos prejuízos gerados ao clube.
Só a ação da Pixbet, antiga patrocinadora do clube, por exemplo, gerou dívida de 44 milhões de reais para o Corinthians, que se encontra com suas contas penhoradas. Na ocasião da apresentação do patrocínio da VaideBet, o presidente Augusto Melo chegou a dizer que a multa com a Pixbet tinha sido paga pela nova patrocinadora, o que de fato não ocorreu.
Em relatório apresentado ao presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, e ao próprio Augusto Melo, o órgão apontou diversas inconsistências relacionadas às contas do primeiro semestre de 2024, que foram reprovadas. A avaliação do Cori, inclusive, motivou a abertura de um novo processo de destituição, já encaminhado para a Comissão de Ética, segundo a informação da Gazeta Esportiva. Como não depende de investigação, o novo processo tende a correr de maneira mais rápida.
Entre os dados que chamam a atenção estão os gastos no cartão corporativo do Banco Santander, que, segundo o documento, é o único cartão ativo no clube. Somadas, as despesas entre janeiro e junho de 2024 são de R$ 2.470.427,15, divididas da seguinte forma:
- Janeiro: R$ 92.479,53
- Fevereiro: R$ 390.197,84
- Março: R$ 37.115,95
- Abril: R$ 356.224,46
- Maio: R$ 606.320,26
- Junho: R$ 988.089,11
Ainda de acordo com o Cori, as faturas com detalhes dos gastos não foram fornecidas para avaliação. Em entrevista à TNT Sports, Augusto Melo afirmou que “não havia gastado um real” com o cartão corporativo e se defendeu do parecer do Conselho de Orientação sobre as práticas que seriam configuradas como gestão temerária.
“Não existe gestão temerária. Por exemplo, tenho um cartão corporativo de 1 milhão de reais e não gastei 1 real. Eles já pediram meu extrato bancário, sendo que não são nem o órgão responsável para isso. Foi feita uma reunião fechada, com o presidente da comissão, criada pelo presidente do Conselho (Romeu Tuma), falando o que ele achava sobre o assunto, sem provas. Existem documentos, troca de e-mails com o jurídico, com o financeiro. Temos documentos de tudo, vamos pedir uma reunião com o Cori. Não existe gestão temerária”, explicou Augusto.
Somam-se ao relatório outras incongruências encontradas pelo Cori, como a “dificuldade de entendimento” do contrato firmado com a empresa de consultoria Ernest & Young (que tinha validade de três anos, mas foi rompido seis meses após a assinatura). Segundo o órgão fiscalizador, os valores somados pelo período de vigência do acordo podem ultrapassar R$ 13 milhões, sendo que diversos relatórios que deveriam ser produzidos pela empresa não foram apresentados pela atual gestão.
Um desses contratos, que gerou grande desconforto na situação, foi o pedido de averiguação do caso VaideBet assinado pelo presidente Augusto Melo, que pouco tempo depois, pediu sua suspensão antes de qualquer conclusão, conforme informou o GE que obteve cópia de e-mail do diretor financeiro adjunto contendo este pedido. O Conselho Deliberativo do Corinthians se reunirá nesta segunda-feira (2), no Parque São Jorge, e votará pela destituição ou não de Augusto Melo. Em caso de derrota por maioria simples, o presidente do Timão será afastado do cargo temporariamente até que haja uma nova votação entre os sócios do clube.