General do Alto Comando concordou com golpe, diz Cid – 26/11/2024 – Poder


O tenente-coronel Mauro Cid afirmou em trecho de sua delação premiada que o general Estevam Theophilo se reuniu com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e se colocou à disposição da trama golpista no fim de 2022, quando ainda estava no Alto Comando do Exército.

As informações constam do relatório final da investigação da Polícia Federal sobre as articulações por um golpe de Estado após a derrota de Bolsonaro para Lula (PT) nas eleições presidenciais.

O apelo do então presidente a Theophilo foi feito durante reunião no Palácio da Alvorada em 9 de dezembro de 2022, segundo a PF. Dois dias antes, o ex-presidente havia tentado obter o aval do comandante do Exército, Freire Gomes, aos planos golpistas, mas, ainda de acordo com a investigação, não obteve sucesso.

A reunião com Theophilo foi intermediada por Cid. Ele fez três ligações no início da tarde de 9 de dezembro para o coronel Cleverson Ney Magalhães, assistente direto do general.

O então ajudante de ordens de Bolsonaro também avisou o chefe do Exército sobre a reunião. Em áudio que consta da investigação, Cid diz a Freire Gomes que o presidente “enxugou o decreto” que revertia o resultado da eleição.

“E o que ele comentou de falar com o general Theophilo? Na verdade, ele quer conversar. Ele gosta, ele gosta de bater papo, né? […]. É uma maneira que ele tem de, de desopilar ou de, de… tocar pra frente”, diz Cid.

Não há registro de resposta de Freire Gomes às mensagens encaminhadas por Cid. O general disse à Polícia Federal, em depoimento, que ficou embaraçado com a convocação de Theophilo para a reunião porque já sabia das intenções golpistas de Bolsonaro.

“Que não tinha ciência do motivo da convocação do General Theóphilo pelo então presidente da República Jair Bolsonaro; que ficou desconfortável com o episódio, por desconhecer o teor da convocação e considerando o conteúdo apresentado nas reuniões anteriores.”

A reunião durou pouco menos de uma hora. Theophilo chegou ao Alvorada às 18h25 e deixou o palácio às 19h18.

Cid não participou da reunião. Ele disse à PF, porém, que conversou com o general Theophilo na saída do Alvorada e confirmou que uma minuta de decreto de golpe de Estado foi apresentada por Bolsonaro durante o encontro.

“No final da reunião, foi repassado ao colaborador que o general Theophilo disse que se o presidente Jair Bolsonaro assinasse o decreto, as Forças Armadas iriam cumprir”, diz trecho da delação de Cid.

Estevam Theophilo era o chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército no fim de 2022. A estrutura comandada pelo general é a responsável por realizar planos para o preparo e o emprego da Força.

O Coter, como é chamado, não tem tropas. Sua função principal é dar diretrizes para os comandos de área, que possuem militares preparados para a ação.

Em uma possível decretação golpista, na visão dos aliados de Bolsonaro, caberia a Theophilo preparar o plano operacional do golpe —com tanques nas ruas e militares a postos para fechar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Em depoimento à Polícia Federal, o general ficou em silêncio ao ser questionado sobre o teor da conversa com Bolsonaro.

Ele foi indicado pela PF pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa, cujas penas somam de 12 a 28 anos de prisão, desconsiderando os agravantes

Logo após a reunião no Alvorada, Cid conversou com o assistente de Theophilo, o coronel Cleverson. Nas mensagens, o tenente-coronel disse que o chefe do Coter “quer fazer… Desde que o PR assine”.

“Mas e o GFG (General Freire Gomes)?”, perguntou Cleverson. “Difícil ainda. Dia a dia… passo a passo… Já esteve pior”, respondeu Cid.

Para a Polícia Federal, as provas obtidas mostram que Bolsonaro tentou conseguir apoio de outros generais da cúpula do Exército diante da resistência de Freire Gomes aos planos golpistas.

Dias antes do encontro com Theophilo, Bolsonaro já tinha reunido os chefes das Forças Armadas para sondar apoio ao golpe de Estado. Somente o comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, colocou às tropas à disposição.

“O contexto dos elementos de prova reunidos ratifica que, após a elaboração do decreto, considerando que o então comandante do Exército, General Freire Gomes, não aceitava aderir ao intento golpista, o presidente Jair Bolsonaro convocou o General Estevam Theóphilo, então comandante do Coter, que aceitou a missão capitanear as tropas terrestres, caso o decreto golpista fosse assinado”, diz a PF.



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